Uma história simples engrandecida pelo talento
dos envolvidos. Esta certamente é uma forma honesta de se resumir em linhas
gerais o filme de Jason Reitman.
“Refém da Paixão” é sobre uma situação
modificada pelas impressões: Narrado em off pelo ator Tobey Maguire,
acompanhamos a rotina um tanto melancólica do menino Henry (Gattlin Griffith)
em plenos anos 1980. Separada de seu pai (com quem Henry se encontra nos fins
de semana), sua mãe, Adele (Kate Winslet, maravilhosa) se encontra num manancial
de amargura. Henry até tenta, em sua ingenuidade e boa vontade, preencher o que
supõe ser um vazio na vida da mãe, mas a lacuna incomodamente vaga de uma
figura masculina requer que anseios mais específicos sejam atendidos.
É dessa forma que, numa ida casual à um
mercado, Henry e Adele são interpelados pelo fugitivo Frank Chambers (Josh
Brolin sempre excelente). Ferido, Chambers coage mãe e filho para que o levem
de carro para sua casa.
Tem-se a impressão que lá ele irá mantê-los
como reféns... mas, não! Desconcertando as expectativas pessimistas de Adele,
Frank se revela atencioso, educado e até prestativo: Ao longo dos dias em que
se esconde naquela residência livre de suspeitas, ele conserta avarias da casa,
eventualmente surgidas pela ausência de um marido; demonstra desenvoltura na
cozinha (chegando a preparar uma emblemática e apetitosa torta de pêssego!); e
mostra-se uma pontual e eficaz figura paterna para Henry.
Tantos predicados começam a abalar o coração
carente de Adele e assim, a circunstância que era para ser um seqüestro se
torna o improvável esboço de uma família: O injustiçado foragido de bom coração
acaba sendo a peça que faltava para que Adele e Henry voltassem a experimentar
uma sensação de viver em família outra vez.
Em meio à essa disfuncional convivência, o
diretor Reitman lança mão de ocasionais lampejos de suspense a quebrar a
tranqüilidade –porque, a despeito da tensão, ele parece achar isso muito
divertido, e porque em sua destreza narrativa ele não quer que o expectador
perca a perspectiva da situação como ela é.
Em meio à essa distorção da ‘Síndrome de
Estocolmo’, o diretor insere, aqui e ali, flashbacks em princípio pouco ou nada
elucidativos (imprecisos até mesmo na incerteza de serem flashbacks!), mas que,
ao se somarem gradativamente vão esclarecendo melhor as razões que conduziram
Frank à condenação por assassinato e Adele ao profundo desamparo.
Assim, o filme, em algum momento, parece mudar
de foco e de rumo, estabilizando sua narrativa com novos propósitos; deixada em
evidência a boa índole de Frank, a fonte de suspense agora vem a ser os planos
dele, de Adele e de Henry, em constante ameaça por elementos vindos de fora,
como o vizinho (J.K. Simmons) que despreocupadamente bate à porta sem saber a
comoção de dúvida e perplexidade que despertou dentro da casa, ou o jovem
policial (James Van Der Beek) que, ao impor sua disponibilidade à mãe e ao
filho aparentemente sozinhos em casa, deixa todos com os nervos à flor da pele.
E deveras, se Jason
Reitman, em outras obras, havia mostrado brilho inconteste na concepção de
ironia (“Obrigado Por Fumar”), no manejo do humor (“Juno”) ou na arquitetura do
drama (“Amor Sem Escalas”), aqui, com a ajuda de intérpretes primorosos, ele
demonstra competência em frentes diversas –seja na construção improvável do
romance, seja na prodigiosa elaboração de uma atmosfera de suspense –tudo isso
trabalhando as inúmeras nuances de uma situação que poderia resultar até mesmo
teatral nas mãos de um diretor menos perspicaz.
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