O diretor Garry Marshall queria muito Al Pacino
para viver o personagem principal masculino de “Uma Linda Mulher”, mas as
circunstâncias não ajudaram. Terminaram trabalhando juntos algum tempo depois
neste “Frankie & Johnny”, cujo maior mérito talvez seja mesmo o de explorar
a não muito aproveitada veia cômica de Pacino.
Ele é Johnny, um recém-libertado presidiário
desejoso de recomeçar a vida.
Seu caminho cruza-se com o de Frankie (Michelle
Pfeiffer, reunindo-se novamente com Pacino em frente às câmeras depois do
explosivo “Scarface”), uma desiludida garçonete.
As ferramentas de idealização (e de ilusão) tão
inerentes ao cinema entram em cena no esforço algo absurdo em fazer com que os
maravilhosos Al Pacino e Michele Pfeiffer pareçam pessoas comuns aos olhos do
público: Aqui, eles interpretam personagens suburbanos, desprovidos de charme e
conscientes da própria feiúra (!).
E só mesmo num filme de Garry Marshall para tamanho engodo fazer parte da brincadeira proposta pela narrativa.
E só mesmo num filme de Garry Marshall para tamanho engodo fazer parte da brincadeira proposta pela narrativa.
Por sinal, o filme de Marshall em sua
simplicidade, e como quem não quer nada, molda uma série de ‘ilusões’
atribuídas ao cinema: Não somente o feio, em sua idealização, se torna belo –na
mais maniqueísta das caracterizações –como o amor, e o próprio conceito de relação
a dois, do modo como é trabalhado em infindáveis comédias românticas que vieram
antes e depois desta (subgênero dentro do qual Marshall reinou absoluto)
prescinde completamente do realismo em seu registro: Aqui, o amor é um prêmio
reluzente e imaculado que garantidamente espera pelos sofredores ao fim de uma
estrada dolorosa e árdua.
O sabor de felicidade catártica e a aura disfarçada de contos de fadas fazem com que o filme seja palatável, apetecível e até irresistível ao expectador enfastiado da realidade dura, e nesse escapismo existencial o filme de Marshall encontra uma justificativa perfeita para o funcionamento de sua suspensão de crença.
O sabor de felicidade catártica e a aura disfarçada de contos de fadas fazem com que o filme seja palatável, apetecível e até irresistível ao expectador enfastiado da realidade dura, e nesse escapismo existencial o filme de Marshall encontra uma justificativa perfeita para o funcionamento de sua suspensão de crença.
E assim a trama caminha: Johnny arruma emprego
como cozinheiro no mesmo restaurante grego onde Frankie trabalha como
garçonete. Ao desejo do ex-detento de ter um trabalho normal segue-se o de
encontrar o amor –e dessa forma, ele apaixona-se por Frankie.
No início, ela reluta, farta das desilusões que
experimentou em outras relações. Johnny, no entanto, trilha seu caminho até a
felicidade do único jeito que julga possível: Não desistindo. Seus cortejos à
Frankie, flagrados em meio ao caótico e desglamourizado cotidiano, são estóicos
de tão tenazes. Amar, afinal, é nunca desistir.
Nessa escala de sedução que acompanha com compartilhado interesse, o diretor Marshall ressalta esse e cada um dos clichês embutidos em obras românticas –seja a resiliência dele em contraponto à relutância dela, seja o pequeno dilema que se instala quando ele tem um breve affair com outra garçonete (Kate Neligan, de “O Príncipe das Marés”).
Histórias de amor, de modo geral, dependem de química.
Nessa escala de sedução que acompanha com compartilhado interesse, o diretor Marshall ressalta esse e cada um dos clichês embutidos em obras românticas –seja a resiliência dele em contraponto à relutância dela, seja o pequeno dilema que se instala quando ele tem um breve affair com outra garçonete (Kate Neligan, de “O Príncipe das Marés”).
Histórias de amor, de modo geral, dependem de química.
E tanto Pacino quanto Michelle, mesmo que a
desempenhar a desilusão, a solidão, e a mediocridade (de ser classe média, de
estar na meia-idade) esbanjam uma química incomum, etérea, como se o romance
entre eles, a despeito das distrações corriqueiras que o filme irá lhes impor,
fosse inevitável.
Adaptado da peça teatral de Terrence McNally,
“Frankie & Johnny” possui protagonistas que foram vividos, nos palcos, por
Kathy Bates (vencedora do Oscar 1991 de Melhor Atriz por “Louca Obsessão”) e
Kenneth Welsh (da série “Twin Peaks”) –intérpretes que nada têm do glamour de
Michelle Pfeiffer e Al Pacino; e aí se vê, na discrepância entre as escolhas
dos protagonistas teatrais e dos cinematográficos, a mudança radical de
proposta ocorrida quando a trama ganhou as telas de cinema.
A peça de teatro queria contar uma história de amor sobre pessoas reais, do mundo real, assoladas por imperfeições e inadequações como qualquer um; o filme de Garry Marshall até ludibria bem, fazendo parecer que quer a mesma coisa, mas, na escolha de protagonistas tão irresistíveis e no verniz de idealização romântica com que toda a condução acaba impregnada, o que ele quer de fato é arrebatar e encantar sem restrições.
E não há mal nenhum nisso.
A peça de teatro queria contar uma história de amor sobre pessoas reais, do mundo real, assoladas por imperfeições e inadequações como qualquer um; o filme de Garry Marshall até ludibria bem, fazendo parecer que quer a mesma coisa, mas, na escolha de protagonistas tão irresistíveis e no verniz de idealização romântica com que toda a condução acaba impregnada, o que ele quer de fato é arrebatar e encantar sem restrições.
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