quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Star Wars - Episódio 9 - A Ascensão Skywalker

Existe uma diferença estrutural na forma com que cada uma das três trilogias que agora integram a “Saga Star Wars” foi concebida: A primeira, e tida por unanimidade pelos fãs como a melhor, embora tenha saído da mente do criador George Lucas, foi executada por três diretores diferentes –o primeiro (“Uma Nova Esperança”), pelo próprio Lucas; o segundo (“O Império Contra-Ataca”) por Irvin Kershner; e o terceiro (“O Retorno de Jedi”) por Richard Marquand –a trilogia prólogo, por sua vez, foi inteiramente escrita e dirigida por George Lucas, então numa fase da vida e da carreira em que, do alto de sua fortuna pessoal e da aclamação mundial de “Star Wars” dentro da cultura pop, podia dar-se ao luxo de fazer o que bem entendesse –daí esses três filmes (“A Ameaça Fantasma”; “O Ataque dos Clones” e “A Vingança dos Sith”) resultarem tão artisticamente canibais para com o próprio conceito da saga.
Assim, quando George Lucas vendeu sua propriedade intelectual (a Lucasfilm) para a Disney, iniciou-se uma nova trilogia com o empolgante episódio VII dirigido por J.J. Abrahams (“O Despertar da Força”) e o controverso, ainda que excelente, filme seguinte de autoria de Rian Johnson (“Os Últimos Jedi”). O que nos leva a este “A Ascensão Skywalker” no qual, pela primeira vez na saga, um diretor, J.J. Abrahams, regressa para capitanear um episódio sem ser o criador da saga em pessoa.
E não um episódio qualquer: “A Ascensão Skywalker” toma para si uma série de duras responsabilidades; quer encerrar toda trama iniciada nos primeiros filmes (hoje, clássicos); quer também dar um desfecho satisfatório (e, se possível, vibrante) para os novos personagens introduzidos a partir do episódio VII; e ainda por cima, ao longo da sucessão de eventos desta trama, contornar as decisões polêmicas tomadas no episódio anterior que terminaram por revelar o lado negro (terrivelmente imaturo e intolerante) de seus fãs.
O filme começa com a informação, já difundida nos trailers, de que o perverso Imperador Cheev Palpatine (Ian McDiarmid) de alguma maneira não morreu, ao contrário do que se supunha no final de “O Retorno de Jedi”.
Isso leva o lado do bem, a Resistência, e o lado do mal, a Primeira Ordem, a uma corrida para ver quem o encontra primeiro; a Resistência, para neutralizá-lo de uma vez por todas –tarefa que a Jedi em treinamento, Rey (Daisy Ridley, a formidável protagonista desta nova trilogia), tem dúvidas se possui poder o bastante para fazê-lo –e a Primeira Ordem, comandada agora por Kylo Ren (o excelente Adam Driver), para consolidar-se em definitivo como o Império do Mal que sempre foi, visto que tudo o que transcorreu até então teria assim sido um plano de Palpatine desde o começo; o que leva todos os personagens e as motivações que os impulsionam à fatídica Ordem Final que encerrará essa ‘guerra nas estrelas’ de uma vez por todas.
É sabido –até por ele próprio! –que J.J. Abrahams é um autor muito bom em iniciar histórias de modo promissor, mas não em terminá-las (como corroboram suas séries “Felicity”, “Alias-Codinome Perigo”, “Lost” e “Person Of Interess”) e isso fica evidente nas incertezas de sua narrativa, tão convicta, vigorosa e enxuta em “O Despertar da Força”, mas aqui mostrando-se pela primeira vez hesitante e insegura.
Certamente não foi uma tarefa simples esta da qual ele se incumbiu e, guardadas as vastas proporções da produção, o escopo megalomaníaco do roteiro e a complexidade nas diversas linhas narrativas, ele conseguiu entregar um trabalho maravilhoso, coerente até mesmo no aproveitamento da personagem Léia, de Carrie Fisher, que morreu muito antes do início desta produção, e que aparece em cena graças à várias cenas descartadas, reaproveitadas dos dois filmes anteriores. Contudo, os fãs (sempre exigentes), os críticos e os detratores irão dizer que, dentre os três capítulos desta nova trilogia, “A Ascensão Skywalker” é o mais fraco.
E eles têm um prato cheio em mãos: Dirão que o roteiro é pedante ao contrariar diversos fatos de “Os Últimos Jedi” apenas para agradar a audiência, que a introdução de Palpatine na premissa é descabida e pouquíssimo convincente servindo só para suprir a ausência de um antagonista realmente bom.
Mas, a verdade é que, na qualidade de encerramento oficial de uma saga que praticamente definiu o cinema comercial moderno, não havia nada que pudesse corresponder a toda a expectativa que assolou “A Ascensão Skywalker”. As multidões que certamente abarrotarão as salas de cinema, gostem do trabalho de J.J. Abrahams ou não, se encontram numa situação em que esperam algo mais que um simples filme.
E um filme é tudo que irão receber.
Um filme grandioso, frenético, emocionante, repleto de momentos espetaculares e, por que não, mágicos, mas, no fim das contas, só um filme.

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