Existe uma diferença estrutural na forma com
que cada uma das três trilogias que agora integram a “Saga Star Wars” foi
concebida: A primeira, e tida por unanimidade pelos fãs como a melhor, embora
tenha saído da mente do criador George Lucas, foi executada por três diretores
diferentes –o primeiro (“Uma Nova Esperança”), pelo próprio Lucas; o segundo (“O Império Contra-Ataca”) por Irvin Kershner; e o terceiro (“O Retorno de Jedi”)
por Richard Marquand –a trilogia prólogo, por sua vez, foi inteiramente escrita
e dirigida por George Lucas, então numa fase da vida e da carreira em que, do
alto de sua fortuna pessoal e da aclamação mundial de “Star Wars” dentro da
cultura pop, podia dar-se ao luxo de fazer o que bem entendesse –daí esses três
filmes (“A Ameaça Fantasma”; “O Ataque dos Clones” e “A Vingança dos Sith”)
resultarem tão artisticamente canibais para com o próprio conceito da saga.
Assim, quando George Lucas vendeu sua
propriedade intelectual (a Lucasfilm) para a Disney, iniciou-se uma nova
trilogia com o empolgante episódio VII dirigido por J.J. Abrahams (“O Despertar da Força”) e o controverso, ainda que excelente, filme seguinte de autoria de
Rian Johnson (“Os Últimos Jedi”). O que nos leva a este “A Ascensão Skywalker”
no qual, pela primeira vez na saga, um diretor, J.J. Abrahams, regressa para
capitanear um episódio sem ser o criador da saga em pessoa.
E não um episódio qualquer: “A Ascensão
Skywalker” toma para si uma série de duras responsabilidades; quer encerrar toda
trama iniciada nos primeiros filmes (hoje, clássicos); quer também dar um
desfecho satisfatório (e, se possível, vibrante) para os novos personagens
introduzidos a partir do episódio VII; e ainda por cima, ao longo da sucessão de
eventos desta trama, contornar as decisões polêmicas tomadas no episódio
anterior que terminaram por revelar o lado negro (terrivelmente imaturo e
intolerante) de seus fãs.
O filme começa com a informação, já difundida
nos trailers, de que o perverso Imperador Cheev Palpatine (Ian McDiarmid) de
alguma maneira não morreu, ao contrário do que se supunha no final de “O
Retorno de Jedi”.
Isso leva o lado do bem, a Resistência, e o
lado do mal, a Primeira Ordem, a uma corrida para ver quem o encontra primeiro;
a Resistência, para neutralizá-lo de uma vez por todas –tarefa que a Jedi em
treinamento, Rey (Daisy Ridley, a formidável protagonista desta nova trilogia),
tem dúvidas se possui poder o bastante para fazê-lo –e a Primeira Ordem,
comandada agora por Kylo Ren (o excelente Adam Driver), para consolidar-se em
definitivo como o Império do Mal que sempre foi, visto que tudo o que
transcorreu até então teria assim sido um plano de Palpatine desde o começo; o
que leva todos os personagens e as motivações que os impulsionam à fatídica
Ordem Final que encerrará essa ‘guerra nas estrelas’ de uma vez por todas.
É sabido –até por ele próprio! –que J.J.
Abrahams é um autor muito bom em iniciar histórias de modo promissor, mas não
em terminá-las (como corroboram suas séries “Felicity”, “Alias-Codinome Perigo”,
“Lost” e “Person Of Interess”) e isso fica evidente nas incertezas de sua
narrativa, tão convicta, vigorosa e enxuta em “O Despertar da Força”, mas aqui
mostrando-se pela primeira vez hesitante e insegura.
Certamente não foi uma tarefa simples esta da
qual ele se incumbiu e, guardadas as vastas proporções da produção, o escopo
megalomaníaco do roteiro e a complexidade nas diversas linhas narrativas, ele
conseguiu entregar um trabalho maravilhoso, coerente até mesmo no
aproveitamento da personagem Léia, de Carrie Fisher, que morreu muito antes do
início desta produção, e que aparece em cena graças à várias cenas descartadas,
reaproveitadas dos dois filmes anteriores. Contudo, os fãs (sempre exigentes),
os críticos e os detratores irão dizer que, dentre os três capítulos desta nova
trilogia, “A Ascensão Skywalker” é o mais fraco.
E eles têm um prato cheio em mãos: Dirão que o
roteiro é pedante ao contrariar diversos fatos de “Os Últimos Jedi” apenas para
agradar a audiência, que a introdução de Palpatine na premissa é descabida e
pouquíssimo convincente servindo só para suprir a ausência de um antagonista
realmente bom.
Mas, a verdade é que, na qualidade de
encerramento oficial de uma saga que praticamente definiu o cinema comercial
moderno, não havia nada que pudesse corresponder a toda a expectativa que assolou
“A Ascensão Skywalker”. As multidões que certamente abarrotarão as salas de
cinema, gostem do trabalho de J.J. Abrahams ou não, se encontram numa situação
em que esperam algo mais que um simples filme.
E um filme é tudo que irão receber.
Um filme grandioso,
frenético, emocionante, repleto de momentos espetaculares e, por que não,
mágicos, mas, no fim das contas, só um filme.
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