O pistoleiro Shane chega ao vale deixando um
passado sangrento para trás. Tal passado, no cinema rústico e ainda em
intuitiva descoberta de suas nuances da linguagem onde está inserida a obra de
George Stevens, nunca é realmente mostrado (como o seria em um flashback por
meio da convenção de diversos títulos que vieram depois), em vez disso, ele é
mencionado, sugerido em olhares e expressões do ator Alan Aladd como a sombra
da qual ele almeja fugir, e da qual jamais esboça intenção de falar. Mas, é
também o mal que ele traz dentro de si que, em última instância, será o trunfo
que ele usará para dar aos bandidos de fato a retribuição que eles merecem.
Tudo em “O Brutos Também Amam” tem ressonante
significado para a mitologia americana que a narrativa evoca. No vale, Shane
encontra uma família que o abriga e o faz sentir-se em casa. A esposa (Jean
Arthur) prepara uma torta de maçã como nas mais inebriantes fantasias de lar
aconchegante; o marido (Van Heflin) compartilha com ele a camaradagem e a
dignidade de aceitar ajuda nos trabalhos braçais da casa; e o pequeno Joey
(Brandon De Wilde) dedica a Shane toda admiração salutar que só uma criança
consegue expressar sem cinismo.
Quando descobre que esse quadro idílico que tão
gentilmente o acolheu está sendo ameaçado –pelos capangas incisivos do
mal-feitor Jack Wilson (Jack Palance, memorável) –Shane então sabe muito bem o
que fazer: Como numa fábula regida por entidades superiores, as peças em “Os
Brutos Também Amam” se encaixam de tal maneira exata que o termo clássico pode
lhe pesar até em demasia aos olhos das plateias de hoje, tão acostumadas aos
exemplares mais distintos que o próprio filme inspirou, como a ficção
científica oitentista “Crepúsculo de Aço”, o cult “Drive” ou a elogiada adaptação
de quadrinhos “Logan”.
Justamente por isso, muitos
expectadores mais jovens talvez não consigam enxergar a dramaturgia sólida que
o diretor George Stevens foi capaz de orquestrar com tanta perícia.
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