Haviam dois grandes obstáculos que este novo projeto enfrentava antes mesmo de ver a luz do dia: O primeiro, e mais recente, era o fracasso de “A Múmia”, com Tom Cruise, que emperrou os planos da Universal Studios em criar um universo compartilhado com histórias envolvendo seus clássico ícones do terror (entre os quais estava o plano de uma versão de “O Homem Invisível”, com Johnny Depp); o segundo era a comparação com o formidável “O Homem Sem Sombra”, realizado no fim dos anos 1990 pelo diretor holandês Paul Verhoeven com euforia e alta voltagem. Felizmente, o diretor Leigh Whannell, saído das fileiras do terror independente –e conhecedor, portanto, das minúcias narrativas que movem as engrenagens do gênero –driblou esses contratempos tomando a mais sensata das atitudes: Fazendo um filme muito, muito bom.
A invisibilidade, em “O Homem Invisível”, veja
só, é uma mera consequência de sua premissa extraordinariamente sólida e bem
construída: O filme de Leigh Whannell é, acima de tudo, a história de Cecilia
(a talentosíssima Elizabeth Moss), esposa severamente abusada pelo marido,
Adrian Griffin, um cientista pioneiro em pesquisas ópticas. Já de início, na
primeira cena, testemunhamos a perplexa e sorrateira tentativa de Cecilia em
abandonar o cônjuge abusador na calada da noite –e os predicados de suspense
empregados por Whannell descartam a necessidade de uma caracterização maior de
seu antagonista que praticamente nunca aparece; na verdade, é até benéfico para
a narrativa nunca sabermos ao certo como ou quem Adrian é.
Somos relegados ao ponto de vista de acompanhantes
da protagonista Cecilia. Inicialmente, testemunhando sua lenta adaptação ao
mundo normal, à realidade, quando tenta vencer o mero medo de andar alguns
metros para fora da casa –ela foi hospedar-se na casa do namorado da irmã,
James (Aldis Hodge, de “Estrelas Além do Tempo”), que é policial.
Lá pelas tantas, uma notícia: Adrian
suicidou-se! Cecilia, que sofreu tanto nas suas mãos que dele espera tudo, não
está muito certa de que isso seja verdade; e nos dias que se seguem,
acontecimentos estranhos ao seu redor começam a reforçar essa certeza.
Entretanto, como toda maldosa e melindrosa assombração, Adrian –que deduzimos
de antemão, encontrou um meio de ficar invisível e está torturando ela –se
manifesta com tal sutileza cruel que somente Cecilia tem noção de seus atos;
aos olhos de todos os outros, incluindo sua irmã (Harriet Dyer), James, a filha
dele Sydney (Storm Reid, de “Uma Dobra No Tempo”), além das autoridades, todos
os demais personagens a sua volta começam a acreditar que Ceclia pode estar
perdendo a razão.
Mais que um filmaço de terror –o que ele também
é, visto a condução primorosa de Whannell, e o empregado nunca exagerado, nunca
pedante e nunca destituído de propósito de seus efeitos visuais –“O Homem
Invisível” é também um filme muito atual na abordagem meticulosa e profunda que
faz dos relacionamentos abusivos, um assunto bastante em pauta na busca sempre
pertinente por igualdade e justiça para todos.
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