O cinema de cada década possui seus próprios esforços cinematográficos para entender a juventude de seu período, como “Juventude Transviada” (anos 1950), “O Clamor do Sexo” (anos 1960) ou “Os Embalos de Sábado À Noite” (anos 1970), mas é inegável que a década de 1980 trouxe novas percepções a essa faceta tão interessante da arte cinematográfica.
Se por um lado haviam realizadores criados a
partir de um amplo espectro referencial que abarcava outras grandes obras de
cinema (ao contrário das gerações anteriores de cineastas que precisaram
descobrir seu próprio caminho), por outro lado, a juventude dos anos 1980
apresentava idiossincrasias e sensibilidades inéditas na comparação com os
jovens de outrora, nascidos e crescidos em condições históricas, culturais e
sociais bem distintas.
Tudo isso, para falar de um filme que, no fim
das contas, quase deixa todas essas questões de relevância um pouco de lado, ao
quase afundar num pedantismo água-com-açucar: O pequeno clássico da sessão da
tarde “Sete Minutos No Paraíso”.
Mais lembrado pela presença já magnética de uma
belíssima e iniciante Jennifer Connelly do que por qualquer outra coisa, o
filme começa com seus três protagonistas adolescentes, moradores da cidade de
Cincinnati, e seus dramas de trajetórias entrecruzadas uns com os outros. Há
Natalie (personagem de Jennifer), uma garota comportada e responsável na maior
parte do tempo –ela procura passar, para o pai e para as outras pessoas, a
imagem mais madura possível, numa forma de disfarçar a falta da mãe, falecida
desde que ela era pequena. Há também Jeff (Byron Thames), garoto da mesma
idade, enfrentando contratempos em casa: A mãe constantemente fica do lado do
padrasto quando ele e Jeff têm algum atrito; e isso o leva à eventual ‘fuga de
casa’.
Uma vez que o pai de Natalie fará uma viagem de
algumas semanas, hospedar-se temporariamente na casa dela –que insistiu ser
capaz de ficar sozinha em casa –torna-se a saída perfeita para os apuros de
Jeff (!).
A terceira protagonista –e a mais irritante dos
três –é Polly (Maddie Corman, de “Uma Manhã Gloriosa” e “Mesmo Se Nada Der Certo”), cujos objetivos, por falta de algo mais o que fazer, é descobrir os
segredos do sexo –antes que seja a última dentre suas amigas a fazê-lo!
São as alegrias e tristezas desses três amigos
que compõem a narrativa durante o recorte de tempo em que o filme dirigido por
Linda Feferman se dispõe a acompanhá-los: Morando improvisadamente sob o mesmo
teto, Natalie e Jeff estabelecem uma rotina tumultuada, sobretudo, quando a
garota adquire seu primeiro namoradinho (Alan Boyce), um craque esportivo da
escola pouco disposto a fazer dela seu interesse romântico exclusivo; ao mesmo
tempo, uma iminente viagem para Washington acirra os ânimos de Natalie.
De sua parte, Polly salta de uma paixonite
injustificada para outra: Primeiro, ela se apaixona pelo esquisito Zoo Knudsen
(Billy Wirth, de “Os Garotos Perdidos”), jogador de beisebol famoso com quem
ela teve um breve, travesso e gracioso encontro –os “sete minutos no paraíso”
como ela diz, dando assim nome ao filme –e, a esse romance idealizado, segue-se
inevitavelmente à desilusão. Em seguida, Polly se apaixona por um fotógrafo
mais velho que lhe deu abrigo durante uma inconsequente viagem à Nova York.
O trabalho da diretora Linda Feferman neste
singelo compêndio de aventuras e desventuras adolescentes exala certa
sensibilidade (prova de seu olhar profundamente pessoal é a atenção muito maior
dedicada às duas garotas, ainda que de personalidades bem opostas, e menos ao
garoto que surge quase como alívio cômico), entretanto, Feferman não tem a
mesma compreensão intrínseca ostentada por John Hugues naquele mesmo período,
além de ser também prejudicada por algum amadorismo; seu filme, com frequência,
confunde delicadeza com enfado, e os acontecimentos transcorridos a centrar
seus três protagonistas se dispersam tanto na sutileza empregada, soam tão
amenos em sua tranquilidade que isso drena do filme qualquer capacidade para se
fazer memorável.
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