Astros de renome internacional, Angelina Jolie e Brad Pitt afirmaram ter realizado “À Beira-Mar” por tratar-se do tipo de projeto que adoram participar, mas para o qual, na qualidade de celebridades do primeiro escalão hollywoodiano, nunca são chamados: Filmes de arte pequenos, singelos, amparados no intimismo e na composição sempre silenciosa e intuitiva de seu elenco.
Talvez por isso, não pareça ser por acaso que
imediatamente “À Beira-Mar” remete, visual e dramaticamente, aos trabalhos do
francês Eric Rohmer, nos quais pequenos detalhes do dia-a-dia ganham o centro
da narrativa.
Assumindo as função de roteirista, diretora,
produtora e atriz principal, Angelina Jolie é Vanessa, esposa do escritor
Roland (Pitt), ao lado do qual chega à uma pequena estância balneária da França
da década de 1970. Lá, eles instalam-se no pitoresco hotel regional, e
imediatamente dão início a uma modorrenta rotina: Ele sai todos os dias,
embriagando-se no bar local, dirigido pelo calejado e paternal Michel (o ótimo
Niels Arestrup); ela fica no quarto ou dá ocasionais passeios, incapaz de
extrair disso qualquer ânimo para viver. Nem Roland encontra, nessa inércia,
qualquer inspiração para a escrita, nem o casamento dos dois ameaça deslocar-se
da crise na qual afunda.
É uma trama que à princípio parece tirar certo
proveito da química entre Jolie e Pitt (então, casados na vida real), enquanto
conta uma elíptica história sobre um amor chegando numa difícil fase outonal,
ao mesmo tempo em que a roteirista Jolie tira proveito de uma espécie de
protagonista muito interessante e promissor aos olhos dos contadores de
história: O escritor que se põe num certo lugar à espera de sua inspiração
(como visto em diversos filmes, desde “Pergunte Ao Pó”, até “A Escolha deSofia”, passando por “Swimming Pool-À Beira da Piscina” e “Barton Fink-Delírios de Hollywood”).
Entretanto, o filme só ganha mais cores, e
algum propósito de fato, quando entra em cena um outro casal, a ocupar o quarto
ao lado onde os protagonistas estão hospedados. Recém-casados, os jovens e
ardentes Lea (Melanie Laurent) e François (Melvin Poupaud, ator, não por acaso,
de “Conto de Verão”, de Eric Rohmer) transam toda a hora –como bem percebem
Vanessa e Roland, a observá-los por um indiscreto buraco na parede.
Esse exercício de voyeurismo reaproxima Roland
e Vanessa, e elucida as razões pelas quais ela arrasta seu casamento para uma
escuridão de distanciamento sentimental e falta de comunicação, ao mesmo tempo
que revela suas ambíguas intenções para com a amizade que constroem com aqueles
jovens.
Cheio de intenções bastante salutares no que
tange às predisposições dramáticas que assume, e certamente válido no traquejo
interpretativo que evidencia em Angelina Jolie e principalmente em Brad Pitt
(cujo estrelato realmente impede de vivenciarem papéis mais arrojados do ponto
de vista da atuação), “À Beira-Mar” é uma obra feita deliberadamente para ir
contra a corrente do que se supõe comercial, a despeito de trazer dois dos
maiores astros no cinema atual à sua frente.
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