O cinema, volta e meia, testemunha um evento desastroso no qual –como reza a famigerada Lei de Murphy –tudo o que poderia acontecer de errado realmente DÁ errado.
Às catástrofes espetaculares do cinema como “O Portal do Paraíso” e “Waterworld” junta-se este um tanto quanto curioso “Roar”.
A razão para “Roar” ser o filme confuso,
inconstante e incoerente que naufragou completamente nas bilheterias em meados
de 1981 foi a iniciativa um bocado experimental da parte de seu realizador, o
produtor Noel Marshall (que acumulou as funções de produtor, diretor, ator
principal e co-roteirista), então colhendo os louros pelo êxito de “O Exorcista”. Casado com a estrela Tippi Hedren (de “Os Pássaros”), Marshall
logrou fazer um filme audacioso sobre uma família de naturalistas às voltas com
perigosos felinos num esquema quase de filme caseiro: Filmado todo na
propriedade da família, protagonizado por sua esposa (Hedren) e coadjuvado pela
filha dos dois (uma ainda jovem Melanie Griffith).
A audácia de sua ideia estava no fato de usarem
leões e tigres reais para interagir com o elenco: Cerca de cinco anos antes das
câmeras começarem a rodar, Marshall e sua família (Tippi Hedren era conhecida
como uma ferrenha defensora dos direitos dos animais) passaram a cuidar de uma
prole de filhotes de leões e tigres que cresceram junto deles e da equipe
técnica, acostumados a terem humanos por perto.
Quando o projeto iniciou as filmagens, porém,
uma complicação inesperada se sucedeu na prática: Embora fossem mansos, os
leões ficavam confusos quando os atores humanos próximos a eles interpretavam
medo toda vez que as câmeras começavam a funcionar; e com isso, os animais
ficavam agressivos, atacando quem estivesse por perto e expondo todos os envolvidos
do filme a um perigo real.
O resultado foi uma série de acidentes quase
fatais envolvendo os bichos ao longo dos meses de filmagem; contabiliza-se
setenta membros da equipe e do elenco feridos!
Indefinido em seu gênero (a trama é
desenvolvida sem uma noção muito clara ou harmoniosa de suspense, aventura,
drama ou filme-família), estourado no seu cronograma (afinal, foram cinco
anos!!!) e no seu orçamento (os gastos com emergências médicas e os
funcionários constantemente substituindo aqueles que sofreram ataques de
animais, o que fez deste o ‘filme mais perigoso de todos os tempos’), e
acometido de filmagens absolutamente caóticas, “Roar” chegou aos cinemas
concebido de maneira desleixada e abrupta, incapaz de recuperar nas bilheterias
todo o investimento a ele dedicado.
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