Último capítulo que faltava ser assistido do assim chamado ‘Monsterverse’ –eu e minha mania de assistir filmes sequenciados fora de ordem... –este “Godzilla II” se ambienta após “Godzilla” (do qual é continuação direta) e “Kong-AIlha da Caveira”, e pouco antes de “GodzillaVs Kong”.
O universo compartilhado de filmes estrelados
por monstros gigantes icônicos do cinema terminou funcionando com mais
eficiência do que o Universo da DC, no qual os Estúdios da Warner depositavam
muito mais expectativa. Grande parte disso se deve, ironicamente, pelo pouco caso
que o próprio estúdio fez dessa série de filmes –o que proporcionou liberdade
criativa aos realizadores.
Certamente, a simplicidade da fórmula também
ajudou muito: Amparadas assumidamente na pirotecnia, nenhuma dessas produções
ocultava o fato de que os personagens humanos serviam como um tênue e tímido
suporte às sequências de destruição promovidas pelos embates dos monstros. A
trama aqui soa como uma obrigação burocrática. Um pretexto que os próprios
realizadores reconhecem como sendo enfadonho e necessário; e, para tanto,
transformam tais passagens em momentos básicos, fugazes e simplórios. Nem mesmo
a presença de um elenco estelar ameniza esse descaso.
Os protagonistas humanos de “Godzilla II” são a
garota Maddison (Millie Bobby Brown, da série “Stranger Things”), seus pais, a
Dra. Emma Russell (a maravilhosa Vera Farmiga) e o Dr. Mark Russell (Kyle
Chandler, de “Super 8”) e os cientistas ao redor deles, movidos por ocasionais e
conflitantes motivações, interpretados por Charles Dance, Ken Watanabe, Sally
Hawkins e Zhang ZiYi. São os nomes mais proeminentes que cobrem o núcleo humano
e se encarregam dos diálogos só para que os produtores possam argumentar que
seu filme tem sim uma história, contudo, a razão de ser de “Godzilla II” são
mesmo os monstros gigantescos –denominados Titans –materializados em cena graças
aos efeitos visuais de última geração.
Na comparação com os demais filmes do
‘Monsterverse’, “Godzilla II” traz a reunião mais numerosa de monstros em cena:
Além do personagem principal, Godzilla –cujo surgimento no filme de 2014
despertou o interesse de diversos cientistas mundiais, inclusive aqueles a
frente do Programa Monarch –aparecem também os míticos Mothra (uma mariposa
gigantesca, tal como Godzilla, oriunda dos mesmos filmes japoneses dos estúdios
Toho), Rodan (um pterodáctilo gigante constituído de fogo), Ghidorah (o grande
vilão, uma espécie de dragão de três cabeças) e muitos outros.
Isso por conta de uma constatação megalomaníaca
(e, no fim das contas, um tanto idiota) de alguns cientistas de que a raça
humana é uma infecção no planeta, e os monstros representam glóbulos brancos
criados pela natureza para combater esse “vírus”. Assim sendo, os monstros –ou
Titans –seriam uma correção natural para as catástrofes climáticas acarretadas
pela superpopulação mundial. Entretanto, o volume exorbitante de Titans que
acabam despertando excede de tal forma o previsto que, liderados pelo mortífero
Ghidorah, podem fazer com que a humanidade entre em extinção.
Como é inevitável, esse argumento coloca o
poderoso Godzilla, uma vez mais, como a última esperança para que os seres
humanos sejam salvos.
Haviam pequenos e pertinentes detalhes em cada
um dos filmes realizados dentro do ‘Monsterverse’, a maioria deles, reflexos do
manejo eventualmente inspirados de seus diretores: No primeiro “Godzilla”, a
percepção de espetáculo a um só tempo intimista e épico de Gareth Edwards
conferia-lhe diferenciação; em “Kong” o diretor Jordan Vogt-Roberts oferece um
senso singular de cinema, enfatizando sua paixão por um sem-número de produções
dos anos 1970 (onde a trama era ambientada); e no posterior “Godzilla Vs Kong”
(para muitos, o melhor exemplar de todos), o diretor Adam Wingard uniu com
propriedade e esperteza todas essas e outras facetas mais para construir um
espetáculo feito de todos os elementos funcionais dos filmes anteriores. Aqui,
neste segundo “Godzilla”, a narrativa perspicaz de ritmo e clímax do diretor
Michael Dougherty (também ele vindo das fileiras do gênero terror como muitos
dos outros) até compreende os inúmeros pontos positivos da produção e corre
para valorizá-los, no entanto, a grandiosidade dos embates não chega a oferecer
algo novo, os efeitos visuais não contribuem com qualquer sentimento de
ineditismo ao que os filmes anteriores já trouxeram, e sua trama –que ousa
apenas no detalhe de reunir o maior coletivo de monstros gigantes até então –se
estende em debates e considerações verborrágicos que apenas preenchem tempo de
filme.
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