Em vida, Nicolas Roeg dedicou sua obra a enfileirar inquietações, expor inconformismos pessoais e vislumbrar os efeitos abstratos, físicos e metafísicos de personagens definidos por seu meio quando arrancados do contexto que lhes era determinante. Num filme de Roeg, um protagonista sempre se via num lugar, situação ou ambiente em que suas convicções e certezas eram postas à prova diante de circunstâncias imprevisíveis. Perfeito para esse tipo de premissa, “Castaway” é assim uma subversão ácida dos filmes de náufragos. Nele, não há um acidente introdutório –há, sim, a percepção de que tal ausência de colisões no mundo moderno mergulhou o homem civilizado num ócio paralisante –não há também percepção de perigo –em vez disso, há uma constatação velada de que a não existência de perigo priva o ser humano de instintos essenciais a ele enquanto ser vivo.
São predisposições dessa ordem –inerentes a
alguns protagonistas de Roeg, em especial, a cativante jovem de “Walkabout”
–que levam Gerald Kingsland (Oliver Reed, personificação de diversos
personagens na desconcertante filmografia do inglês Ken Russell) a anunciar num
jornal seu interesse por uma voluntária que o acompanhe numa experiência como
náufrago numa ilha tropical. Quem responde ao anúncio é a bela Lucy Irvine
(Amanda Donohoe, de “The Rainbow”, marcadamente mais jovem que Reed) que tão
logo é contratada parte nessa excêntrica jornada.
Na ilha em questão, ao longo dos meses que
seguem, as câmeras de Roeg registram –além da nudez visualmente enfatizada e
fetichizada do casal de atores –as alternâncias psicológicas que a
circunstância, ainda que engendrada, provoca nos dois: A simulada e dissimulada
cumplicidade galga para avaliações mais pessoais de conduta, troca de
ressentimentos e embates existenciais pontuados por relativa aspereza e pela
contundente constatação do erotismo.
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