Uma cria da Nova Hollywood, o diretor Bob Rafelson, a exemplo dos Irmãos Coen com “Gosto de Sangue”, do mesmo período, almejou transpor uma narrativa de filme noir transfigurada para as ousadias mais possíveis e amplas de suas possibilidades sexuais e visuais para o cinema dos anos 1980, ao realizar este “O Destino Bate À Sua Porta”. Diferente dos Coen, entretanto, Rafelson refilmava o que havia sido um filme noir de fato –uma produção de 1946 dirigida por Tay Garnett –uma trama sobre adultério e homicídio premeditado.
O andarilho Frank (Jack Nicholson em sua quarta
colaboração com o diretor depois de co-roteirizar “Os Monkees Estão À Solta” e
estrelar “Cada Um Vive Como Quer” e “O Rei da Ilusão”) chega ao restaurante de
beira de estrada conduzido pelo grego Nick Papadakis (John Colicos, de “A Troca”)
e por sua sensual esposa Cora (a linda Jessica Lange). Nos códigos impregnados
de propósito de sua narrativa liberadamente sensual, Rafelson expõe, nessa
primeira parte, a disparidade entre o casal Nick e Cora: Ela, desejável e bela;
ele, desmazelado e repulsivo.
Embora não seja nenhum vilão –retratado com a
ambiguidade de uma vítima em potencial como toca ao bom cinema dramatúrgico
–não demora o filme despertar o questionamento do expectador acerca da viabilidade
desse matrimônio; e com isso fazendo o público cúmplice das obviedades que
estão por vir: Frank, disponível, afoito e interessado, irá converter-se, sim,
em amante de Cora –numa cena salpicada de audácia, onde fazem sexo sobre a mesa
da cozinha!
Na esteira disso, a conclusão obscura e
bastante inerente aos filmes noir: O crime (ou melhor, o assassinato) é o atalho
mais curto para esposa e amante se livrarem do empecilho que representa ser o
marido.
Embora se atenha com certa reverência à trama
vinda do filme antigo, o trabalho de Rafelson na condução dessa narrativa nunca
deixa de almejar a desmistificação: O próprio ato do homicídio em si, é despido
das pulsões abruptas e de certa forma eloquentes do gênero. A morte surge num
viés hediondo e fisiológico que a faz terrível e desagradável em qualquer
ângulo. É notável também o modo como Rafelson sublinha o papel da mulher nessa
execução em detrimento de um parceiro masculino inesperadamente falho e
relutante.
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