Antecipando obras conhecidas que vieram depois, como “Curtindo A Vida Adoidado” ou “Superbad” –que carregavam muito mais nas tintas cômicas –“Cooley High”, de 1975, é uma versão blaxploitation de “American Graffith”. Todas as intenções cristalinas da obra de George Lucas também estão lá: Uma observação carinhosa, agridoce na junção de humor e drama, dos amores, esperanças e contratempos de um grupo de amigos, estudantes de classe média-baixa norte-americana.
No caso de “Cooley High” em especial –cujo
título dá nome à escola de Ensino Médio que os personagens frequentam
–acompanhamos alguns dias da vida de dois amigos, Preach (Glynn Turman, de
“Gremlins”) e Cochise (Lawrence-Hilton Jacobs, de “Desejo de Matar” e “A
Família da Noiva”). São dois adolescentes afro-descendentes em plena Chicago de
1964; Preach é inteligente, lê poemas e livros de História espontaneamente,
absorvendo conhecimento quase que por instinto e, por consequência disso, é
tratado como esquisito por muitos de seus pares; Cochise é carismático,sagaz e
esperto, não tarda a obter uma bolsa de estudos para a universidade
principiando um caminho incomum de êxito entre os indivíduos de sua comunidade.
Ambos se destacam por possuir um potencial extraordinário entre os jovens
calejados e ineptos de sua turma –no entanto, a narrativa prefere enfatizar o
que eles tem de universal: Como qualquer outro jovem, branco ou negro, rico ou
pobre, seja da época que for, Preach e Cochise querem se certificar de que
aproveitaram bem a vida. Nas saídas junto da turma, quando não raro inventam
subterfúgios para gazear aulas, eles se divertem, rirem, contam histórias,
visitam lugares. À noite, vão em festas promovidas por alguns conhecidos mais
despachados da vizinhança, flertam com garotas que sempre estão a um passo de
se tornarem a transa inaugural de suas vidas sexuais –embora, lá pelas tantas,
a jovem Brenda (a bela Cynthia Davis) comece a se converter numa possibilidade
de romance mais sério para Preach –e envolvem-se em confusões, umas banais,
outras mais graves.
A condução do diretor Michael Schultz leva essa
sucessão de corriqueiros acontecimentos em ordem quase episódica, deixando de
sublinhar alguma importância maior em quaisquer desdobramentos. No entanto, aos
poucos, vamos nos dando conta de pequenos detalhes pertinentes da vida dos dois
protagonistas (como a atribulação da mãe de Preach, dando conta de três
empregos para criar os filhos), ao mesmo tempo que, sem percebermos, a
repercussão de pequenos atos começam então a ganhar mais significado, como a
travessa carona que os dois tomam, numa noite de diversão, com dois amigos
marginais, Robert e Stone (Norman Gibson e Sherman Smith), a bordo de um
veículo furtado, seguida de uma atrapalhada perseguição policial. O tom de
brincadeira e galhofa que predomina nessa cena não nos deixa notar as
repercussões bem mais sérias que essa mesma situação ganhará mais afrente
(quando a polícia encontrar os dois ameaçando seu futuro) nem as complicações
que Preach e Cochise arcarão, mesmo depois de terem escapado da encrenca
–quando o professor de História deles (Garrett Morris) intercede junto às
autoridades, livrando sua barra, Robert e Stone, erroneamente deduzem que
Preach e Cochise só escaparam do jugo policial por lhes terem dedurado, o que
coloca os jovens em maus lençóis. A amizade entre os dois só sofre um
verdadeiro abalo quando Preach flagra Cochise num interlúdio junto de Sandra
(Christine Jones), um de seus flertes.
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