domingo, 19 de fevereiro de 2023

Donnie Brasco


 O filme “Donnie Brasco” foi indicado ao Oscar 1998 de Melhor Roteiro Adaptado, o qual ele perdeu para “Los Angeles-Cidade Proibida”. É bastante incisiva e elegante a forma com que o roteirista Paul Attanasio expõe os meandros e códigos de conduta mafiosos a medida que vai revelando motivações e temperamentos e seus personagens nesta adaptação de um famoso livro escrito por um ex-agente do FBI que trabalhou por anos infiltrado na Máfia de Nova York,

É final da década de 1970 quando o gangster Lefty Ruggiero (Al Pacino) acolhe o jovem joalheiro Donnie Brasco (Johnny Depp) em meio às fileiras de seu clã mafioso. Lefty, porém, a despeito de ser veterano e de gozar de relativo respeito entre os gangsters, não chega nem perto de ser um dos cabeças da Família Bonanno, que exerce poderoso controle sobre o crime organizado do Brooklyn. Ao receber Donnie e responsabilizar-se por ele, Lefty arrisca sua própria pele diante dos inclementes chefões. No entanto, Donnie Brasco é também o agente federal Joe Pistone, perito em infiltração cujo objetivo é reunir o máximo possível de provas judiciais contra a Máfia.

Enquanto ocupa seu lugar na quadrilha e ganha cada vez mais a confiança (e a amizade) de Lefty, Donnie testemunha a ascensão do violento Sonny Black (Michael Madsen) que galga meteoricamente os degraus da hierarquia rumo ao comando após a morte de um dos chefes. O trabalho, perigoso por si só, compromete o casamento do agente federal com Maggie (Anne Heche), assim como sua cada vez maior dificuldade em manter duas vidas paralelas (a de agente infiltrado e a de pai de família) sem colidirem-se. Além disso, a amizade genuína que acaba nutrindo por Lefty lhe coloca um dilema nas mãos; abandonar em definitivo seu disfarce entre os mafiosos significaria colocar deliberadamente a vida de Lefty em perigo.

Construído com austeridade à toda prova pelo diretor inglês Mike Newell –e excedendo-se justamente nessa seriedade ao fazer um filme não tão atrativo assim enquanto entretenimento –o filme não consegue fugir das comparações óbvias (e aqui até inevitáveis) com “O Poderoso Chefão” até mesmo pela reluzente presença de Al Pacino em seu elenco. Há, entretanto, que se reconhecer o belo desempenho de Pacino na composição desse personagem, longe de ser um ‘chefão’ como em seu trabalho mais icônico dentro do sub-gênero gangster, mas sim um subalterno do qual roteiro e direção têm notável inspiração em ressaltar as fragilidades e vulnerabilidades de sua ingrata posição. Ele e o jovem Johnny Depp compensam as poucas novidades que o filme de Newell oferece enquanto cinema, proporcionando um duelo de interpretações afiado no encontro de dois grandes intérpretes cinematográficos vindos de diferentes gerações.

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