domingo, 14 de janeiro de 2024

O Dossiê Pelicano


 A jovem estudante de Direito Darby Shaw (Julia Roberts) na ânsia de investigar o assassinato estranhamente simultâneo de dois juízes da Suprema Corte dos EUA em Washington (um deles interpretado pelo veterano Hume Cronyn, numa breve participação) deduz que esbarrou numa terrível verdade a ser encoberta de qualquer maneira por pessoas inescrupulosas e bem posicionadas nas esferas do poder: Na tentativa de silenciá-la, os criminosos, sem querer acabam matando o professor, enlace romântico e mentor dela, Thomas Callahan (Sam Shepard). Perseguida por pessoas dispostas a interromper suas investigações e neutralizar suas descobertas a qualquer custo, Darby se refugia nos subúrbios de Nova Orleans, e conta com a ajuda do jornalista investigativo Gray Grantham (Denzel Washington).

Na esteira do sucesso avassalador de “Uma Linda Mulher”, a estrela Julia Roberts seguiu fazendo o que se espera de jovens talentos em ascensão: Realizou filmes destinados a exclusivamente agradar seu público –se tais filmes tinham qualidade ou não, isso era uma questão que nunca pareceu prioridade nas decisões curiosas dos estúdios hollywoodianos. Ele protagonizou o suspense algo vulgar “Dormindo Com O Inimigo”, em 1991, e nesse mesmo ano, apareceu no meloso, romântico e superficial “Tudo Por Amor”. O passo seguinte era marcar presença num projeto mais ambicioso, capaz de colocar Julia sob as lentes de um diretor, senão grande, ao menos, renomado –Alan J. Pakula –e deixá-la, lado a lado, de outros grandes nomes do cinema, o que inclui, além do sempre eficiente Denzel, as presenças ocasionalmente aproveitadas de Sam Shepard, Stanley Tucci, John Heard, William Atherton, John Lithgow e Robert Culp (como Presidente dos EUA).

Embora protagonistas, Julia Roberts e Denzel Washington não formam um par romântico –a Hollywood implicitamente segregada de então dificilmente permitiria um casal formado por atores de etnias distintas (algo que seria aceito, e até encorajado, hoje). Assim, pode-se até pegar a dica: Composto de aspectos de dizem muito sobre o cinema comercial de seu tempo, “O Dossiê Pelicano” é feito de tendências específicas que visavam atender a demanda do público, termina sendo um veículo morno para a estrela em franca ascensão de Julia Roberts e um reaproveitamento requentado –ainda que com base no enredo original extraído do livro de John Grisham –da narrativa pulsante que o mesmo diretor Alan Pakula empregou em “A Trama” nos anos 1970; os ganchos e expedientes de roteiro são, senão os mesmos, muitíssimo parecidos!

A única diferença é o tempo em que foram realizados: Nos anos 1970, pela liberdade criativa com a qual realizadores mais jovens tateavam um novo cinema comercial (e pelas tendências autorais que emergiam na época), Pakula soube orquestrar em “A Trama” (além de outros longa-metragens) uma obra urgente e pulsante; já, em 1993, o mesmo diretor, do alto de uma carreira experiente e já sem fôlego para ousar, concebeu um trabalho com aspectos similares, sem no entanto qualquer indício de atrevimento ou inovação.

A única ousadia de “O Dossiê Pelicano”, se é que isso conta, é ser um filme mediano, quando tinha tudo para ser excelente.

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