terça-feira, 26 de novembro de 2024

Assassino Por Acaso


 Realizador de obras intimistas como “Boyhood-DaInfância À Juventude” e “A Trilogia Antes do Amanhecer”. O diretor Richard Linlatter, junto do astro emergente Glen Powell –ao lado de quem co-roteirizou e co-produziu este projeto –encantou-se com a persona e com a história de vida incomum de Gary Johnson a ponto de conceber, à partir de sua inspiração, um dos melhores filmes de 2024. “Assassino Por Acaso” –ou “Hit Man” –é uma obra profundamente influenciada e intoxicada pela realidade, mas é ao mesmo tempo uma ficção travessa, divertida e ambígua no equilíbrio oscilante com que trafega entre a verdade entendida e a mentira assumida.

Até certo ponto, ele é sobre a vida de Gary Johnson, e de um ponto em diante, é sobre contar uma boa e empolgante história, quando então certas amarras da realidade passam a deixar de importar –e esse é só um dos inúmeros lances inspiradíssimos que o filme de Linklatter nos apresenta. Professor universitário, Gary Johnson (vivido com maestria inédita por Glen Powell) tinha a atitude, o aspecto e o perfil de quem jamais escaparia da vida medíocre de norte-americano de classe média que lhe era reservada. Entretanto, a renda de seu trabalho na escola era aumentada com um auxílio que prestava ao Departamento de Polícia, inicialmente, como um mero operador de escutas e microfones em meio às operações para flagrar potenciais clientes de assassinos de aluguel. Um certo dia, o policial normalmente designado para se apresentar ao cliente como matador, o irresponsável e inconsequente Jasper (Austin Amelio, da série “The Walking Dead”), é suspenso e, em cima da hora, a equipe precisa colocar Gary em seu lugar. Em princípio, temeroso, Gary descobre ali um talento desconhecido: Sua personificação de assassino de aluguel –das muitas que se sucedem a partir dali –é tão perfeita e convincente que ele logo se torna um especialista em convencer e capturar suspeitos de homicídio em flagrante.

Contudo, as coisas mudam quando Gary conhece Maddison (a bela Adria Arjona), uma jovem em desespero tentando livrar-se do marido abusivo. Identificando ali, no momento, uma pessoa boa levada à uma situação-limite, Gary (que, na ocasião, adotou a identidade do assassino confiante e charmoso Ron) convence ela a desistir do crime e buscar o divórcio. Mais tarde, ele e Maddison se reencontram longe da vigilância de seus colegas policiais e acabam engrenando um romance ardente, entretanto, com o reaparecimento do violento e explosivo ex-marido de Maddison, as coisas podem se complicar para Gary/Ron que precisa de esperteza e desenvoltura redobrada para desvencilhar-se da marcação cerrada de seus colegas policiais, e da própria Maddison, para quem não contou que é um simples professor universitário.

Sempre habilidoso, minucioso e preciosista com o roteiro, Linklatter criou uma obra minimalista em seus diálogos, com vocabulário e linguajar brilhantes em inteligência e perspicácia, enfatizando com isso seu ótimo elenco, no qual se destaca com facilidade a presença de Glen Powell. Tirando de letra um personagem que, de um ponto em diante, assume o gosto por transformações camaleônicas simultâneas –com alteração de trejeitos, timbre de voz, sotaques e tudo o mais –Powell revela, mais que apenas carisma e sex-appeal (predicados que ele já havia mostrado em “Todos Menos Você” e outros projetos), uma habilidade interpretativa nata para personificar tipos completamente diferentes e uma certa qualidade de carisma que se mostrava em falta na Hollywood atual, uma capacidade intuitiva para atrair a atenção das mulheres e a admiração dos homens, e nesse processo carregar todo um filme junto consigo.

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