Não haviam dúvidas de que, em algum momento dessa onda de revivals que tomou Hollywood nos últimos anos (que incluiu sequências tardias de clássicos como “Top Gun” ou recentemente “Twister”), uma hora ou outra, eles chegariam no personagem de Axel Foley –protagonista de “Um Tira da Pesada”, lançado em 1984 –que redefiniu certos estereótipos dos policiais de ação do seu período (anos 1980), alavancou a carreira de Eddie Murphy (então com 23 anos) e tornou-se hoje um daqueles clássicos da ‘sessão da tarde’.
Dirigido por Martin Brest (que, depois,
realizaria o indicado ao Oscar “Perfume de Mulher”, o drama “Encontro Marcado”
e, com o vexaminoso “Contato de Risco”, desapareceria de Hollywood), o primeiro
“Um Tira da Pesada” era uma obra notável na funcionalidade de suas propostas
tão inéditas quanto descontraídas: Seu personagem principal –um policial de
Detroit que acabava movendo uma investigação de homicídio por conta própria em
Beverly Hills –Axel Foley unia o despojamento das ruas com o efetivo de um
policial no curso de uma investigação; ele também oferecia ao seu intérprete,
Eddie Murphy, um vasto leque para expor qualidades extraordinárias: Era um
embusteiro compulsivo (ou seja, se fazia passar por diferentes tipos a cada
coadjuvante a quem se apresentava), era espontâneo e carismático (exigia dele
desenvoltura em comédia e em improviso) e ainda se impunha como herói de ação
(ou seja, atrevia-se a questionar papéis estabelecidos, colocando um astro
negro num patamar antes vislumbrado por brancos).
Sucesso de público (o filme, por sinal, foi
indicado na categoria de Melhor Roteiro Original, perdendo para o dramático “Um
Lugar No Coração”), “Um Tira da Pesada” –ou “Beverly Hills Cop” –logo foi
sucedido por continuações; vieram, em 1987 (três anos depois) “Um Tira da Pesada
2” (dirigido pelo mesmo Tony Scott de “Top Gun” um filme que trocava a mescla
inteligente de investigação policial, humor pulsante e ação súbita por mais
violência, uma seriedade algo apática e sequências de visual publicitário) e em
1994, “Um Tira da Pesada 3” (uma bobagem realizada à toque de caixa por John
Landis, que dirigiu Murphy em “Um Príncipe Em Nova York” e que foi apelidada
pelos expectadores da época como “Duro de Matar” num parque de diversões!),
cujo fracasso de público e crítica extinguiu as chances de continuidade da
franquia.
Eis que agora, em 2024, a Netflix banca o
retorno de Axel Foley e seu indissociável intérprete em grande estilo: Em “Um
Tira da Pesada 4”, Foley, ainda um policial das ruas de Detroit (como fica
evidente na entusiasmada cena de ação que abre o filme), agora tem uma filha
advogada, Jane (vivida por Taylor Page, de “A Voz Suprema do Blues”) que,
avessa ao contato com o pai, advoga em Los Angeles, Beverly Hills, onde suas
tentativas estóicas de defender um réu acusado de tentar contra a vida de
policiais a colocam na mira de perigosos assassinos: Jane está muito perto de
desbaratar, através desse caso, um esquema de corrupção na polícia que alcança
até esferas elevadas, onde manda o manipulador Capitão Grant (Kevin Bacon).
Dentre alguns dos últimos revivals flagrados no
cinema ou no streaming –caso de “Os Fantasmas Ainda Se Divertem”, o já mencionado “Top Gun-Maverick” e “Star Wars-O Despertar da Força” –muitos deles caem naquela consequente crítica de que,
entre um filme e outro, mesmo que com décadas de intervalo, o protagonista não
evoluiu em absolutamente nada. No caso de Beetlejuice, ele é uma assombração,
trinta anos para ele, portanto, nada significam; por sua vez, com Maverick, o
roteiro espertamente faz dessa inércia do personagem um dos empuxos narrativos
de sua trama; enquanto que com Luke Skywalker ocorreu, sim, uma modificação com
o passar do tempo (ainda que público e crítica tenham se ressentido com o viés
de amargura e desilusão que isso acrescentou ao personagem); o que nos leva à
Axel Foley e do porque ele é o caso mais extremo dessa questão –é certamente
incômoda a maneira indiferente com que o filme mostra um senhor do alto de seus
63 anos (e incluído em cenas de ação nas quais visivelmente está
desconfortável) atuando como um policial ‘das ruas’ com a mesma ginga e a
atitude dos anos 1980 ainda intocada. Até as mesmas roupas ele ainda usa!
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