domingo, 24 de novembro de 2024

Um Tira da Pesada 4 - Axel Foley


 Não haviam dúvidas de que, em algum momento dessa onda de revivals que tomou Hollywood nos últimos anos (que incluiu sequências tardias de clássicos como “Top Gun” ou recentemente “Twister”), uma hora ou outra, eles chegariam no personagem de Axel Foley –protagonista de “Um Tira da Pesada”, lançado em 1984 –que redefiniu certos estereótipos dos policiais de ação do seu período (anos 1980), alavancou a carreira de Eddie Murphy (então com 23 anos) e tornou-se hoje um daqueles clássicos da ‘sessão da tarde’.

Dirigido por Martin Brest (que, depois, realizaria o indicado ao Oscar “Perfume de Mulher”, o drama “Encontro Marcado” e, com o vexaminoso “Contato de Risco”, desapareceria de Hollywood), o primeiro “Um Tira da Pesada” era uma obra notável na funcionalidade de suas propostas tão inéditas quanto descontraídas: Seu personagem principal –um policial de Detroit que acabava movendo uma investigação de homicídio por conta própria em Beverly Hills –Axel Foley unia o despojamento das ruas com o efetivo de um policial no curso de uma investigação; ele também oferecia ao seu intérprete, Eddie Murphy, um vasto leque para expor qualidades extraordinárias: Era um embusteiro compulsivo (ou seja, se fazia passar por diferentes tipos a cada coadjuvante a quem se apresentava), era espontâneo e carismático (exigia dele desenvoltura em comédia e em improviso) e ainda se impunha como herói de ação (ou seja, atrevia-se a questionar papéis estabelecidos, colocando um astro negro num patamar antes vislumbrado por brancos).

Sucesso de público (o filme, por sinal, foi indicado na categoria de Melhor Roteiro Original, perdendo para o dramático “Um Lugar No Coração”), “Um Tira da Pesada” –ou “Beverly Hills Cop” –logo foi sucedido por continuações; vieram, em 1987 (três anos depois) “Um Tira da Pesada 2” (dirigido pelo mesmo Tony Scott de “Top Gun” um filme que trocava a mescla inteligente de investigação policial, humor pulsante e ação súbita por mais violência, uma seriedade algo apática e sequências de visual publicitário) e em 1994, “Um Tira da Pesada 3” (uma bobagem realizada à toque de caixa por John Landis, que dirigiu Murphy em “Um Príncipe Em Nova York” e que foi apelidada pelos expectadores da época como “Duro de Matar” num parque de diversões!), cujo fracasso de público e crítica extinguiu as chances de continuidade da franquia.

Eis que agora, em 2024, a Netflix banca o retorno de Axel Foley e seu indissociável intérprete em grande estilo: Em “Um Tira da Pesada 4”, Foley, ainda um policial das ruas de Detroit (como fica evidente na entusiasmada cena de ação que abre o filme), agora tem uma filha advogada, Jane (vivida por Taylor Page, de “A Voz Suprema do Blues”) que, avessa ao contato com o pai, advoga em Los Angeles, Beverly Hills, onde suas tentativas estóicas de defender um réu acusado de tentar contra a vida de policiais a colocam na mira de perigosos assassinos: Jane está muito perto de desbaratar, através desse caso, um esquema de corrupção na polícia que alcança até esferas elevadas, onde manda o manipulador Capitão Grant (Kevin Bacon).

Dentre alguns dos últimos revivals flagrados no cinema ou no streaming –caso de “Os Fantasmas Ainda Se Divertem”, o já mencionado “Top Gun-Maverick” e “Star Wars-O Despertar da Força” –muitos deles caem naquela consequente crítica de que, entre um filme e outro, mesmo que com décadas de intervalo, o protagonista não evoluiu em absolutamente nada. No caso de Beetlejuice, ele é uma assombração, trinta anos para ele, portanto, nada significam; por sua vez, com Maverick, o roteiro espertamente faz dessa inércia do personagem um dos empuxos narrativos de sua trama; enquanto que com Luke Skywalker ocorreu, sim, uma modificação com o passar do tempo (ainda que público e crítica tenham se ressentido com o viés de amargura e desilusão que isso acrescentou ao personagem); o que nos leva à Axel Foley e do porque ele é o caso mais extremo dessa questão –é certamente incômoda a maneira indiferente com que o filme mostra um senhor do alto de seus 63 anos (e incluído em cenas de ação nas quais visivelmente está desconfortável) atuando como um policial ‘das ruas’ com a mesma ginga e a atitude dos anos 1980 ainda intocada. Até as mesmas roupas ele ainda usa!

Os expectadores que foram capazes de ignorar esse anacronismo sem noção (e ele faz parte, é bem verdade, da alta dose de nostalgia almejada nesta produção para os fãs do primeiro filme) conseguirão apreciar uma obra vibrante –o melhor exemplar dentre toda a franquia depois do filme original –cheia de ação, comédia e sacadas detetivescas inspiradas (muitas delas a cargo de um sempre afiado Eddie Murphy em plena execução de um personagem que ele conhece muito bem), e recheada para além do normal de muito saudosismo.

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