De ponta a ponta, “Challengers”, de Luca Guadagnino, é sobre uma disputa entre dois grandes amigos transformados em adversários. E o pivô dessa transformação é uma mulher. Amparado nesse enredo, o diretor Guadagnino explora cada uma das variações fascinantes dessa dinâmica, usando o universo esportivo em geral (e o tênis, em particular) como palco para essa competição de estilos e posturas, sentimentos e personalidades. O resultado –como sempre costuma acontecer quando um material promissor cai na mão de alguém talentoso –é brilhante.
os tenistas Art Donaldson (Mike Faist, de “Amor Sublime Amor”) e Patrick Sweig (Josh O’Connor, de “Lee”) eram amigos
inseparáveis. Entretanto, no ano de 2019, ocasião do campeonato de New
Rochelle, em Nova York, os dois não apenas estão em etapas distintas da vida
profissional (Art, já contemplando uma aposentadoria, almeja ganhar o New
Rochelle para encerrar sua carreira, aos olhos do público e de si mesmo, com
alguma dignidade; Patrick, vindo de anos claudicantes a tentar sobreviver desse
esporte, quer valer-se da situação para provar que ainda é capaz de ser um
campeão), como também estão em lados opostos: Eles terminam um contra o outro
na grande final. Durante a partida –cujos desdobramentos são basicamente o
esqueleto narrativo de todo o longa-metragem –somos testemunhas de pontuais flashbacks (uns voltando décadas no
tempo, outros meros dias ou semanas) que aprofundam essa ambígua relação, e até
acrescentam informações surpreendentes no decorrer da disputa.
E a agente da maioria desses
elementos-surpresas vem a ser Tashi Duncan (Zendaya, boa atriz, porém, incapaz
de corresponder ao sex-appeal
galopante exigido por sua personagem). É Tashi quem desperta, cerca de treze
anos antes, o desejo sexual dos dois simultaneamente quando ainda eram amigos
inseparáveis durante a adolescência, onde disputavam a chance de ascender no
tênis em competições sistemáticas, enquanto ela gozava do status de estrela meteórica do esporte. É Tashi também que, na
noite em que quase ocorre um interlúdio sexual entre os três, escancara para
eles a atração homoerótica enrustida em sua amizade –o que começa a converte,
logo depois, a dinâmica de irmandade entre Art e Patrick num cabo de guerra
onde o troféu do vencedor é, a um só tempo, a vitória nas quadras e a própria
Tashi. Num primeiro momento, é Patrick quem ganha, mais confiante e viril do
que o vulenrável e sensível Art.
Há um momento, em que Tashi afirma que o tênis,
o verdadeiro tênis, disputado pelos atletas que enxergam esse esporte como uma
arte, é um relacionamento que se sucede dentro das quadras –e, de fato, numa
cena mais afrente, Tashi e Patrick travam um diálogo no qual discutem a relação
onde a direção de atores estabelece a cena como um partida de tênis –na qual
cada um rebate a afirmação do outro com mais agressividade e estratégia, ávido
por vencer: Serão, então, essas mesmas características, de Patrick, de um
carisma altamente competitivo, em conflito com um lado controlador e
manipulador da própria Tashi, que irão se colocar entre os dois –e abrir espaço
para a aproximação de Art, sobretudo, depois que um acidente imprevisto
encerrar em definitivo a trajetória de esportista de Tashi.
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