quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Rivais


 De ponta a ponta, “Challengers”, de Luca Guadagnino, é sobre uma disputa entre dois grandes amigos transformados em adversários. E o pivô dessa transformação é uma mulher. Amparado nesse enredo, o diretor Guadagnino explora cada uma das variações fascinantes dessa dinâmica, usando o universo esportivo em geral (e o tênis, em particular) como palco para essa competição de estilos e posturas, sentimentos e personalidades. O resultado –como sempre costuma acontecer quando um material promissor cai na mão de alguém talentoso –é brilhante.

os tenistas Art Donaldson (Mike Faist, de “Amor Sublime Amor”) e Patrick Sweig (Josh O’Connor, de “Lee”) eram amigos inseparáveis. Entretanto, no ano de 2019, ocasião do campeonato de New Rochelle, em Nova York, os dois não apenas estão em etapas distintas da vida profissional (Art, já contemplando uma aposentadoria, almeja ganhar o New Rochelle para encerrar sua carreira, aos olhos do público e de si mesmo, com alguma dignidade; Patrick, vindo de anos claudicantes a tentar sobreviver desse esporte, quer valer-se da situação para provar que ainda é capaz de ser um campeão), como também estão em lados opostos: Eles terminam um contra o outro na grande final. Durante a partida –cujos desdobramentos são basicamente o esqueleto narrativo de todo o longa-metragem –somos testemunhas de pontuais flashbacks (uns voltando décadas no tempo, outros meros dias ou semanas) que aprofundam essa ambígua relação, e até acrescentam informações surpreendentes no decorrer da disputa.

E a agente da maioria desses elementos-surpresas vem a ser Tashi Duncan (Zendaya, boa atriz, porém, incapaz de corresponder ao sex-appeal galopante exigido por sua personagem). É Tashi quem desperta, cerca de treze anos antes, o desejo sexual dos dois simultaneamente quando ainda eram amigos inseparáveis durante a adolescência, onde disputavam a chance de ascender no tênis em competições sistemáticas, enquanto ela gozava do status de estrela meteórica do esporte. É Tashi também que, na noite em que quase ocorre um interlúdio sexual entre os três, escancara para eles a atração homoerótica enrustida em sua amizade –o que começa a converte, logo depois, a dinâmica de irmandade entre Art e Patrick num cabo de guerra onde o troféu do vencedor é, a um só tempo, a vitória nas quadras e a própria Tashi. Num primeiro momento, é Patrick quem ganha, mais confiante e viril do que o vulenrável e sensível Art.

Há um momento, em que Tashi afirma que o tênis, o verdadeiro tênis, disputado pelos atletas que enxergam esse esporte como uma arte, é um relacionamento que se sucede dentro das quadras –e, de fato, numa cena mais afrente, Tashi e Patrick travam um diálogo no qual discutem a relação onde a direção de atores estabelece a cena como um partida de tênis –na qual cada um rebate a afirmação do outro com mais agressividade e estratégia, ávido por vencer: Serão, então, essas mesmas características, de Patrick, de um carisma altamente competitivo, em conflito com um lado controlador e manipulador da própria Tashi, que irão se colocar entre os dois –e abrir espaço para a aproximação de Art, sobretudo, depois que um acidente imprevisto encerrar em definitivo a trajetória de esportista de Tashi.

Conduzindo com extrema habilidade esse triângulo amoroso de notáveis ramificações pessoais e profissionais –nesse sentido, as atuações do trio central são tão vibrantes e cruciais quanto os efeitos visuais e o exercício de virtuosismo técnico que registra as cenas de embate nas quadras de tênis –o diretor Guadgnino cria uma síntese primorosa entre as engrenagens psicológicas do esporte e as reviravoltas sentimentais da vida pessoal.

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