Anos atrás elaborei uma lista de “10 Histórias em Quadrinhos que poderiam render grandes filmes”, agora, inspirado por aquela
ocasião e pela constante fonte de material que a literatura fornece ao cinema,
cito uma dezena de obras literárias que, francamente, não sei como um produtor
ainda não se deu conta dos filmes sensacionais que poderiam se tornar.
Série Buchanan, de Julie
Garwood –Famosa entre os escritores best-sellers dos EUA, Julie Garwood
especializou-se em romances de época, no entanto, a ‘Serie Buchanan’ como é
chamada representou uma de suas bem-sucedidas incursões em tramas
contemporâneas.
São doze livros que acompanham os diferentes
membros da família Buchanan, além de outros formidáveis personagens, em tramas
que mesclam aventura policial, mistério e romance; e todas tão incrivelmente
extasiantes e envolventes que chega a ser um absurdo até hoje uma adaptação
cinematográfica não ter ganhado a luz do dia.
Houveram rumores, anos atrás, de que seria adaptado
o primeiro livro da série, “Heartbreaker” (“A Confissão”, aqui no Brasil, onde
foi publicado pela extinta editora Landscape), mas não surgiram quaisquer
notícias desde então.
Nas Montanhas da Loucura,
de H.P. Lovecraft –uma das melhores obras de um dos melhores escritores de
literatura fantástica (a favorito de inúmeros diretores), que chegou até a
inspirar indiretamente diversos outros filmes, até hoje não ganhou uma versão
cinematográfica.
Um dos últimos esforços nesse sentido, partiu
do diretor Guilhermo Del Toro, aliado ao astro Tom Cruise, que desejavam ver o
filme feito, entretanto, as filmagens do longa “Prometheus”, de Ridley Scott,
comprometeram a viabilização do projeto, já que o roteiro daquela produção foi
abertamente baseado em elementos de “Nas Montanhas da Loucura”.
Vivian Contra O Apocalipse/Vivian Contra A América, de Katie Coyle –quando as adaptações de séries literárias
ao estilo ‘young adult’ tornaram-se febre entre os estúdios hollywoodianos, com
trabalhos como “Jogos Vorazes” e “Crepúsculo” ganhando as telas, esta curiosa,
eletrizante e pertinente duologia escrita por Katie Coyle, cheia de ação e
personagens sensacionais, estranhamente foi deixada de lado, embora ostentasse
qualidade o bastante para render dois excelentes filmes.
O motivo? Provavelmente seu teor controverso,
polêmico e delicado ao falar abertamente sobre a manipulação das massas pela
religião, um assunto quase sempre explosivo que os puritanos estúdios
norte-americanos morrem de medo da abordar.
Ruínas do Tempo, de Jess
Walter –uma trama maravilhosa, que vai e volta no tempo, com personagens
envolventes, uma mescla apetecível de romance, drama e comédia, além de
graciosas e pontuais referências ao cinema americano em geral (e ao ator
Richard Burton em particular!), poderia ser um daqueles filmes de cabeceira dos
adeptos de um bom romance.
Mas o belamente construído texto do escritor
Jess walter não chegou a virar um projeto de cinema, muito por conta da forma
primorosa com que funde ficção com realidade –as celebridades reais envolvidas
no âmago da história fictícia (como Burton e Elizabeth Taylor) poderiam confundir
o público e fazê-lo crer que a deliciosa trama engenhada aqui fosse real; algo
que poderia render um incômodo processo da parte dos familiares.
Piquenique Na Estrada, de
Arkádi e Boris Strugátski –embora este livro já tenha sido, por assim dizer,
adaptado no grandioso “Stalker”, de Andrei Tarkovski, o cineasta polonês lhe
aproveita apenas o seu conceito básico e inicial (no qual uma ‘Zona’ onde
alienígenas descarregaram material desconhecido, é sistematicamente invadida
por humanos almejando lucro); todos os desenlaces, sub-tramas e personagens
principais do livro não chegam a serem usados no filme, o que é uma pena diante
do quão interessantes eles são.
Uma nova adaptação, bem mais fiel ao conteúdo
do livro de fato, renderia não apenas um ótimo filme, como também um resultado
bastante diferente do obtido na obra-prima de Tarkovski.
Carte Blanche, de Jeffery
Deaver –a série “007” sempre foi de vento em popa nas telas de cinema, contudo,
a partir de algum ponto entre os filmes de Roger Moore e de Timothy Dalton os
livros de Ian Fleming (e de outros autores) deixaram de ser aproveitados em
prol de roteiros originais, cada vez mais mirabolantes e menos densos.
As coisas só mudaram brevemente quando “Cassino Royale” foi adaptado na explosiva estréia de Daniel Craig no papel.
Se os produtores Barbara Broccoli e Michael G.
Wilson quisessem uma nova e vigorosa aventura de Bond –propícia de repente para
introduzir outro intérprete diante da inevitável aposentadoria de Craig –o
livro escrito por Jeffery Deaver, “Carte Blancche” (dentre os dois que escreveu
com o personagem), seria perfeito: Uma aventura de James Bond com todas as
letras, com personagens enigmáticos, trama de ação e espionagem, um vilão
memorável e megalomaníaco, e belíssimas mulheres, todos elementos orbitando seu
fenomenal protagonista.
O Apanhador No Campo de Centeio, de J.D. Salinger –um dos livros mais célebres da literatura
norte-americana (leitura obrigatória nas suas escolas) é também o título mais
notório a engrossar a lista das obras inexplicavelmente sem uma versão
cinematográfica digna.
Na segunda metade da década de 2000, surgiram
rumores de que o recluso e autoral diretor Terence Malick (dono de
características que refletiam adjetivos do próprio escritor da obra, J.D.
Salinger) faria uma tão aguardada adaptação. Então, veio o premiado “A Árvore da Vida” e nada mais foi falado.
O Clube do Filme, de David
Gilmour –a divertida e comovente história real de um pai que tenta se
reconectar com o filho adolescente à beira da rebeldia e da delinquência
através do cinema é um ‘few good movie’ pedindo para ser feito.
Um dos possíveis impedimentos para um projeto
cinematográficos ganhar vida seriam as inúmeras menções, referências e citações
aos diversos filmes que eles assistem (fundamentais à história) cujos direitos
autorais, talvez, fossem complicados de serem obtidos.
Porque Ela Pode, de
Bridie Clark –imagine “O Diabo Veste Prada” ambientado no universo editorial.
Pois é exatamente essa a proposta deste livro divertidíssimo que poderia
tranquilamente render uma produção mais modesta, mais viável e mais despojada
da famosa comédia estrelada por Meryl Streep.
Para o papel da diabólica patroa que inferniza
sua editora-assistente com mandos e desmandos abusivos e inacreditáveis é
difícil não pensar em Isabella Rossellini.
Na Minha Pele, de Kate
Holden –Que “Cinquenta Tons de Cinza”, que nada! Se há uma obra que reúne com
excelência o sexo, o drama humano e uma autêntica relevância é esta daqui.
Trabalho autobiográfico da escritora
australiana Kate Holden, “Na Minha Pele” relata sua via crusis de usuária de
drogas à prostituta nas ruas de Melbourne narrada com contundência e raro
lirismo.
Tão cativante é seu resultado que ele já rendeu
uma continuação literária, “Noites Italianas”, que sinaliza desembocar numa
trilogia com um terceiro capítulo ainda vindouro.
Quem sabe um produtor não
se interessa?
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