terça-feira, 30 de setembro de 2025

O Último dos Moicanos


 O livro escrito por James Fenimore Cooper já havia ganhado pelo menos umas nove adaptações para o audio-visual, contudo, até os anos 1990, era a versão cinematográfica de 1936, dirigida por George B. Seitz, estrelada por Randolph Scott e roteirizada por Philip Dunne, tida como a mais famosa. O diretor Michael Mann, então, embriagado de admiração pelo filme de 1936 que vira quando criança (mais do que pelo livro, cujo subtexto ele enxergava como sendo tendencioso e racista), requisitou um roteiro, escrito por Christopher Crowe, a partir do próprio roteiro adaptado de Philip Dunne, para construir esta nova versão.

Na filmografia urbana e sofisticada de Mann, é perfeitamente razoável afirmar que “O Último dos Moicanos” é um corpo estranho: Anos antes, Mann havia definido seu estilo e feito “Profissão-Ladrão”, e depois voltaria a abraçar a modernidade de tramas envolvendo a lei e o crime em choque com o clássico “Fogo Contra Fogo”, com Robert De Niro e Al Pacino –observando esses dois filmes, e mais “O Último dos Moicanos”, podemos notar que são obras nas quais ele parece emoldurar facetas distintas, afastadas em tempo, espaço e circunstância, do herói americano ou, em última instância, do homem norte-americano em oposição às injustiças específicas de sua própria época e lugar.

1757. Quase vítimas de uma emboscada pela horda selvagem e sanguinária liderada pelo nativo huron Mágua (Wes Studi, formidável como vilão), o grupo formado pelas aristocratas européias Cora (Madeleine Stowe, maravilhosa), sua irmã caçula Alice (Jodhi May, de “Entre Elas”), e o protetor delas, o Major Duncan Heyward (Steven Waddington, de “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça”), tem sua escolta de soldados toda dizimada e, só escapa da morte certa, graças à heróica intervenção dos moicanos Chingachgook (Russell Means, de “Assassinos Por Natureza”) e seus filhos, Uncas (Eric Schweig, de “A Letra Escarlate”) de sangue legítimo, e Nathaniel Poe (Daniel Day-Lewis), mestiço.

Eles precisam atravessar as inóspitas florestas da Nova Inglaterra e chegar em segurança até o Fort William Henry, onde a guerra colonial entre franceses, sitiados no Canadá, e ingleses transcorre, conduzida pelo pai de Cora e Alice, o Coronel Munro (Maurice Roëves, de “Fuga Para A Vitória”). Até lá, a despeito do interesse negociado do Major Heyward, é pelo supino e destemido Nathaniel que Cora começa a nutrir sentimentos.

Se o livro era um tenso e dramático retrato de conflitos étnicos e culturais inerentes à colonização (usando esse mote, no fim das contas, para a pedestalização do homem branco europeu), o filme de Michael Mann converte esse empuxo numa aventura de imodestas tintas românticas, nem sempre apropriadas para os expectadores atuais –embora, à sua maneira, “O Último dos Moicanos” faça eco a uma variedade bastante interessante de filmes que, naquele período dos anos 1990 (e um pouco do final dos anos 1980, também) buscaram abordar, com mais ou menos contundência, a relação entre nativos e o homem branco, tais como “A Missão”, “Dança Com Lobos”, “Hábito Negro” e até mesmo “Rapa Nui-Uma Aventura No Paraíso” (este, sem a presença de brancos em seu enredo, mas de ponta a ponta concebido como uma suposta e presunçosa visão dos homens brancos sobre o que teria acarretado aos nativos).

Contudo, não obstante a essas ressalvas, Michael Mann compôs um épico fotogênico, elegante em suas cenas de batalha, envolvente em seu romance folhetinesco e eficaz no entretenimento que oferece ao público, trazendo uma trilha sonora marcante e antológica a cargo de Trevor Jones (o mesmo da trilha de “Excalibur”).

Nenhum comentário:

Postar um comentário