Na terceira parceria do incomum ator Johnny
Depp com o estiloso diretor Tim Burton (antecedida por “Edward-Mãos de
Tesouras” e “Ed Wood”), o foco do projeto foi uma antiga história de terror
norte-americana, muito mais lembrada pelo público por um irregular
curta-metragem da Disney exibido com freqüência durante o Halloween.
Todavia, o que o roteiro de Andrew Kevin Walker
(de “Seven-Os Sete Crimes Capitais”) propunha, era uma quase reinvenção da
trama conhecida, para fins mais práticos: Nele, o famoso protagonista Ichabod
Crane (Johnny Depp, deitando e rolando com o papel) é um astuto, porém covarde
oficial de policia de Nova York –enquanto que na animação, fidelíssima à
história clássica, Crane é um mero professor.
Se a ocupação muda, de certa maneira o
personagem não: Na atuação minimalista e de trejeitos estudados de Depp,
Ichabod Crane é, acima de tudo, um homem da ciência, daí o fato até plausível
de suas investigações, mergulhadas em métodos científicos, irritarem seus
superiores de arcaica mentalidade do final do Século XVIII. Como forma de
propor-lhe um verdadeiro teste a fim de constatar a eficiência dos métodos de
Crane, ele é então enviado à Província de Sleepy Hollow. Lá, várias mortes
ocorridas (inclusive a que abre o filme numa breve participação de Martin
Landau) são atribuídas a um fantasmagórico cavaleiro sem cabeça (interpretado
pelo ator Christopher Walken, mas incorporado, na maior parte das cenas físicas
pelo habilidoso dublê Ray Park).
Descrente, ainda que assustado (e a covardia é
uma característica que, por vezes o define), o oficial Crane conduz sua
investigação disposto a esclarecer o caso munido de lógica e ciência. Mas, ele
cai nas malhas de uma trama rocambolesca que vai muito além da simples premissa
de assombração embutida no conto e se alastra até conluios realizados entre
membros da alta sociedade de Sleepy Hollow e descobre, estarrecido, que o
cavaleiro sem cabeça é real, embora no final das contas, seja usado como
executor de outro, e ainda misterioso, vilão.
Como ocorre em todos os
exemplares de sua filmografia, Tim Burton usa seu senso formal para a construção
de cenas primorosas e captura aqui uma essência específica de um elemento do
seu passado responsável pela sua formação como cineasta: Em “Cavaleiro Sem
Cabeça”, esse elemento responde pelos filmes sofisticados e ligeiramente
irreais concebidos pelos estúdios da Hammer (Christopher Lee, um dos grandes
astros desse estúdio, aparece numa ilustre ponta no início, tendo, a partir
deste filme, marcado presença em praticamente todos os trabalhos de Burton). Um
dos muitos aspectos aos quais Burton paga tributo –e esta obra é repleta de
maravilhosos elementos visuais –é a característica peculiar daqueles filmes
onde a direção de arte e a iluminação criavam uma atmosfera de tal forma etérea
que não se podia distinguir o dia da noite. Ao lado de seus competentes
colaboradores, Tim Burton realiza assim um filme de encher os olhos –a fotografia
de Emmanuel Lubezki, o desenho de produção de Rick Heinrichs, bem como a trilha
sonora de Danny Elfman, todos aspectos impecáveis que transformam este filme
numa gratificante experiência cinematográfica.
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