domingo, 29 de novembro de 2015

Crimes Ocultos

À exemplo do primoroso “A Troca”, de Clint Eastwood, este filme tenta ser mais de uma coisa ao mesmo tempo, e diante dessa pretensão, nem sempre obtém seu objetivo, ao contrário daquele grande trabalho. Quer ser suspense e quer ser filme histórico também. 
E quer ser contundente em ambas as frentes. Não consegue. 
Ainda que tenha no jovem Daniel Spinoza um diretor bastante capaz, entusiasmado e cheio de energia. Interessante notar no início, a insistência do olhar profundamente crítico desta produção americana sobre o sistema soviético do pós-guerra, o quê não deixa de resvalar num certo maniqueísmo. 
Justamente por isso, e por sua ocasional densidade acarretar certa pressão da qual sofre a narrativa, ele não é de todo bem sucedido. Mas, suas qualidades por vezes suplantam seus defeitos, especialmente quando a trama de suspense sai do segundo plano e mostra-se o cerne da narrativa, focando-se na procura (tornada obsessão) pelo serial-killer que mata meninos na União Soviética de 1953, quando o sistema de então praticamente beneficiava esses atos ao tentar acobertar o fato para não admitir a existência de párias, como psicopatas, em seu governo “perfeito”. 
O filme perde em caráter histórico e social, mas ganha em interesse, e no final, ele sempre se assumiu como entretenimento mesmo. 
Seu elenco, sobretudo, está soberbo. Tom Hardy é extraordinário. Sua atuação foge habilmente da tentação em compor um protagonista heróico, bonzinho e simpático. Leo, seu personagem, tem as características de arrogância e prepotência que o definem como um agente da KGB, mas guarda pequenos lampejos de compaixão e senso de justiça que mais tarde irão aflorar (junto com o verdadeiro objetivo da trama) após sua descida ao inferno. A bela sueca Noomi Rapace, como sua esposa, no início incomoda um pouco: Suas lentes de contato azuis, seus cabelos tingidos, a pesada maquiagem, além do sotaque carregadíssimo soam imediatamente artificiais, mas ela logo impõe-se na personagem. 
Além desse bom par central, o elenco tem boas presenças: Joel Kinnaman, o impecável Fares Fares, Vincent Cassel, Paddy Considine, Jason Clarke e o sempre excelente Gary Oldman. 
Não há como não haver acertos com um elenco assim.

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