À exemplo do primoroso “A Troca”, de Clint Eastwood,
este filme tenta ser mais de uma coisa ao mesmo tempo, e diante dessa
pretensão, nem sempre obtém seu objetivo, ao contrário daquele grande trabalho.
Quer ser suspense e quer ser filme histórico também.
E quer ser contundente em ambas as frentes. Não
consegue.
Ainda que tenha no jovem Daniel Spinoza um
diretor bastante capaz, entusiasmado e cheio de energia. Interessante notar no
início, a insistência do olhar profundamente crítico desta produção americana
sobre o sistema soviético do pós-guerra, o quê não deixa de resvalar num certo
maniqueísmo.
Justamente por isso, e por sua ocasional
densidade acarretar certa pressão da qual sofre a narrativa, ele não é de todo
bem sucedido. Mas, suas qualidades por vezes suplantam seus defeitos,
especialmente quando a trama de suspense sai do segundo plano e mostra-se o
cerne da narrativa, focando-se na procura (tornada obsessão) pelo serial-killer
que mata meninos na União Soviética de 1953, quando o sistema de então
praticamente beneficiava esses atos ao tentar acobertar o fato para não admitir
a existência de párias, como psicopatas, em seu governo “perfeito”.
O filme perde em caráter histórico e social,
mas ganha em interesse, e no final, ele sempre se assumiu como entretenimento
mesmo.
Seu elenco, sobretudo, está soberbo. Tom Hardy
é extraordinário. Sua atuação foge habilmente da tentação em compor um
protagonista heróico, bonzinho e simpático. Leo, seu personagem, tem as
características de arrogância e prepotência que o definem como um agente da
KGB, mas guarda pequenos lampejos de compaixão e senso de justiça que mais
tarde irão aflorar (junto com o verdadeiro objetivo da trama) após sua descida
ao inferno. A bela sueca Noomi Rapace, como sua esposa, no início incomoda um
pouco: Suas lentes de contato azuis, seus cabelos tingidos, a pesada maquiagem,
além do sotaque carregadíssimo soam imediatamente artificiais, mas ela logo
impõe-se na personagem.
Além desse bom par central, o elenco tem boas
presenças: Joel Kinnaman, o impecável Fares Fares, Vincent Cassel, Paddy
Considine, Jason Clarke e o sempre excelente Gary Oldman.
Não há como não haver
acertos com um elenco assim.
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