Um dos melhores trabalhos do diretor Steven
Spielberg dos últimos anos, e rapidamente deixado de lado pelo público que dele
prefere ver filmes de fantasia com profusão em efeitos especiais, este
“Prenda-Me Se For Capaz”, lançado em 2002, e baseado numa espantosa história
real, marcava a segunda colaboração de Spielberg com Tom Hanks (haveria ainda
uma terceira, com “O Terminal”, em 2008, e uma quarta, com “Ponte de Espiões”,
em 2014), depois de “O Resgate do Soldado Ryan”, de 1999.
O protagonista, contudo, é Leonardo Dicaprio
que, com este trabalho, somado à colaboração com Martin Scorsese em “Gangs de
Nova York”, no mesmo ano, começava finalmente a deixar o fantasma de “Titanic”
para trás e construir a formidável carreira que acabou seguindo.
E Dicaprio realmente mostra-se perfeito para o
papel principal deste filme: Um jovem que, em meados da década de 1960,
descobre em seu talento nato para a farsa, um meio de escapulir à realidade
massacrante e pessimista pela qual seu pai (Christopher Walken, formidável) foi
tragado.
A sensacional trajetória de Frank W. Abagnale
Jr. (nome do personagem de Dicaprio) encontra alguns aspectos na do próprio
Spielberg –e explicam o que levou o diretor a assumir esse projeto: Ambos eram
criativamente precoces, ambos usaram a imaginação para ascender
profissionalmente (guardadas as devidas comparações, claro) e para contornar os
desgostos da vida real, e ambos fizeram tudo o que fizeram motivados por uma
inocência que impedia (especialmente Abagnale) que enxergassem qualquer erro
nisso.
É óbvio que Spileberg colocou muitos traços de
si mesmo e de seu trabalho no filme, fazendo dele esta obra deliciosa, que em
muitos momentos parece ser uma ode à inventividade e à capacidade de sonhar e
imaginar. E tão mais empolgante ela é, ao mostrar tudo o que Abagnale conseguiu
fazer!
Antes mesmo de completar 18 anos, Frank Abagnale
fugiu da casa dos pais que estavam para se divorciar, e habilmente disfarçou-se
ao longo dos anos de piloto de avião, médico e advogado (!), disfarces estes
que lhe proporcionavam mulheres maravilhosas, viagens espetaculares e muito
dinheiro (que ele obtinha falsificando cheques). Essa vida de falsário logo
chamou a atenção do FBI que colocou atrás dele um agente, Carl Hanraty
(personagem que Tom Hanks interpreta com uma noção magnífica de timing cômico).
Ao recuperar uma leveza e
um otimismo que andavam ausentes em seus últimos filmes, orientados por temas
mais sombrios, Spielberg entrega um show de direção, e nos brinda com uma
maravilhosa trilha sonora de John Williams, além do saboroso duelo de
interpretações entre Leonardo Dicaprio e Tom Hanks (ambos fabulosos), mas
possivelmente o grande (e imperceptível) truque que sua excelência como diretor
consegue obter é uma singular suspensão moral, por meio da qual ele consegue
fazer qualquer expectador relevar os inúmeros percalços ilícitos de seu
protagonista e (apesar de tudo) torcer por ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário