segunda-feira, 8 de maio de 2017

Passageiros

A carreira de Jennifer Lawrence nesta sua quase primeira década desde que se consolidou como inquestionável estrela de Hollywood esteve sempre em uma zona de conforto.
Explica-se: Desde sua, digamos, revelação quando foi indicada pela primeira vez ao Oscar de Melhor Atriz por “Inverno da Alma” em 2011, ela basicamente oscilava, sempre com sucesso espetacular de público e crítica, entre três diferentes projetos: No primeiro, ela era a heroína Katniss Everden da saga “Jogos Vorazes” –um dos principais responsáveis por seu estrelato –que durou nada menos do que quatro filmes; no segundo, ela era a coadjuvante Mística (mas, ocasionalmente alçada à circunstância de protagonista, como os últimos filmes atestam) da saga “X-Men” desde sua reformulação em “Primeira Classe” –até então eles contam três filmes –já, no terceiro caso, ela intercalou esses dois trabalhos com a frutífera (e premiada) colaboração com o diretor David O’ Russel, de onde saíram, até aqui, as produções “O Lado Bom da Vida” (seu primeiro Oscar), “Trapaça” e “Joy-O Nome do Sucesso” (por ambos ela conquistou indicações).
A carreira de Jennifer, portanto, não era pautada por escolhas sistematicamente bem feitas e surpreendentes, como ocorre, por exemplo, com Jessica Chastain. Agora que “Jogos Vorazes” terminou e seu contrato com “X-Men” não deve ser renovado, restando a ela os filmes com O’ Russel, é que teremos alguma idéia do quão apurado é o faro de Jennifer para escolher projetos e administrar a própria carreira: O único filme que ela fez fora desse sistema, o mediano “Serena”, mostrou-se frustrante.
E agora temos este “Passageiros”.
Uma ficção científica bonita e vistosa, claramente uma produção onde os estúdios da Sony não pouparam despesas (além de Jennifer, chamaram também o promissor Chris Pratt, de “Guardiões da Galáxia” e o diretor indicado ao Oscar por “Jogo da Imitação”, o sueco Morten Tyldun), este é um daqueles blockbusters bastante típicos, onde todas as escolhas visam sucesso de bilheteria, mas voltado para uma platéia menos adolescente e mais seletiva, como se pode notar pela elegante direção de arte e a condução sempre requintada do diretor.
Daí as pertinentes intenções dramáticas que se revelam na história de Jim (Pratt, revelando aqui uma inclinação maior para o drama), um ser humano comum, dentre milhares a hibernar em uma nave espacial cujo destino é uma colônia interestelar na qual chegará em 120 anos. Por um erro técnico e uma casualidade do destino, a cápsula de Jim inicia os procedimentos de despertá-lo com 30 anos após a partida. Ou seja: Ele tem 90 anos para perambular sozinho na gigantesca nave, até envelhecer e morrer antes de chegar ao seu destino.
Durante um ano, ele suporta as variações radicais da solidão –angústia, resignação, euforia, inquietude, desilusão, desespero –até que uma idéia súbita dá lugar a um sentimento novo: Empolgação.
E se ele acordasse outro passageiro?
E a escolha de Jim mostra que ele não é nada bobo –trata-se da linda escritora Aurora (Jennifer, numa personagem que leva, para fins de referência, o mesmo nome da “Bela Adormecida”). Após um breve tempo, no qual ele se martiriza pelo fato de estar colocando outro ser humano na mesma enrascada que ele, Jim a desperta, e aí o filme começa pouco a pouco a mostrar traços do romance espacial que deseja ser.
Há uma série de razões que levam essa primeira metade (que vai do perplexo despertar de Jim, passando pelo despertar de Aurora e culminando na construção da relação entre eles) a ser consideravelmente melhor do que a segunda, quando o roteiro arbitrariamente cria um perigo iminente que sozinho trata de amarrar de maneira pouco verossímil todas as pontas anteriormente soltas: Resolve os conflitos entre o casal protagonista, dá uma explicação relativamente plausível para o que lhes ocorreu, cria uma situação cheia de adrenalina proporcionando o intenso clímax e ainda dá um respiro na presença predominante de Jennifer e Pratt introduzindo por algum tempo um novo personagem na trama (Laurence Fishburne, que merecia papéis muito melhores do que este daqui) –se bem que, há também a participação algo alívio cômico de Michael Sheen como um andróide.
Mas, tudo isso são só considerações, os fãs de Jennifer Lawrence vão ficar satisfeitos com sua interpretação (que é muito boa, sim, e ela arrisca as cenas mais sensuais de sua carreira até então), seu carisma se provando autêntico numa produção refinada e cheia de classe, assim como também é satisfatória a presença de Chris Pratt.
Agora, frustrados de verdade ficarão os fãs do ator Andy Garcia que por ventura forem assistir este filme na intenção de vê-lo –ele aparece por alguns segundos num dos trailers: Sua aparição é tão rápida, instantânea e pífia que é de se perguntar o quê ele faz lá!

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