A carreira de Jennifer Lawrence nesta sua quase
primeira década desde que se consolidou como inquestionável estrela de
Hollywood esteve sempre em uma zona de conforto.
Explica-se: Desde sua, digamos, revelação
quando foi indicada pela primeira vez ao Oscar de Melhor Atriz por “Inverno da
Alma” em 2011, ela basicamente oscilava, sempre com sucesso espetacular de
público e crítica, entre três diferentes projetos: No primeiro, ela era a
heroína Katniss Everden da saga “Jogos Vorazes” –um dos principais responsáveis
por seu estrelato –que durou nada menos do que quatro filmes; no segundo, ela
era a coadjuvante Mística (mas, ocasionalmente alçada à circunstância de
protagonista, como os últimos filmes atestam) da saga “X-Men” desde sua
reformulação em “Primeira Classe” –até então eles contam três filmes –já, no terceiro
caso, ela intercalou esses dois trabalhos com a frutífera (e premiada)
colaboração com o diretor David O’ Russel, de onde saíram, até aqui, as
produções “O Lado Bom da Vida” (seu primeiro Oscar), “Trapaça” e “Joy-O Nome do
Sucesso” (por ambos ela conquistou indicações).
A carreira de Jennifer, portanto, não era
pautada por escolhas sistematicamente bem feitas e surpreendentes, como ocorre,
por exemplo, com Jessica Chastain. Agora que “Jogos Vorazes” terminou e seu
contrato com “X-Men” não deve ser renovado, restando a ela os filmes com O’
Russel, é que teremos alguma idéia do quão apurado é o faro de Jennifer para
escolher projetos e administrar a própria carreira: O único filme que ela fez
fora desse sistema, o mediano “Serena”, mostrou-se frustrante.
E agora temos este “Passageiros”.
Uma ficção científica bonita e vistosa,
claramente uma produção onde os estúdios da Sony não pouparam despesas (além de
Jennifer, chamaram também o promissor Chris Pratt, de “Guardiões da Galáxia” e
o diretor indicado ao Oscar por “Jogo da Imitação”, o sueco Morten Tyldun),
este é um daqueles blockbusters bastante típicos, onde todas as escolhas visam
sucesso de bilheteria, mas voltado para uma platéia menos adolescente e mais
seletiva, como se pode notar pela elegante direção de arte e a condução sempre
requintada do diretor.
Daí as pertinentes intenções dramáticas que se
revelam na história de Jim (Pratt, revelando aqui uma inclinação maior para o
drama), um ser humano comum, dentre milhares a hibernar em uma nave espacial cujo
destino é uma colônia interestelar na qual chegará em 120 anos. Por um erro
técnico e uma casualidade do destino, a cápsula de Jim inicia os procedimentos
de despertá-lo com 30 anos após a partida. Ou seja: Ele tem 90 anos para
perambular sozinho na gigantesca nave, até envelhecer e morrer antes de chegar
ao seu destino.
Durante um ano, ele suporta as variações
radicais da solidão –angústia, resignação, euforia, inquietude, desilusão,
desespero –até que uma idéia súbita dá lugar a um sentimento novo: Empolgação.
E se ele acordasse outro passageiro?
E a escolha de Jim mostra que ele não é nada
bobo –trata-se da linda escritora Aurora (Jennifer, numa personagem que leva,
para fins de referência, o mesmo nome da “Bela Adormecida”). Após um breve
tempo, no qual ele se martiriza pelo fato de estar colocando outro ser humano
na mesma enrascada que ele, Jim a desperta, e aí o filme começa pouco a pouco a
mostrar traços do romance espacial que deseja ser.
Há uma série de razões que levam essa primeira
metade (que vai do perplexo despertar de Jim, passando pelo despertar de Aurora
e culminando na construção da relação entre eles) a ser consideravelmente
melhor do que a segunda, quando o roteiro arbitrariamente cria um perigo
iminente que sozinho trata de amarrar de maneira pouco verossímil todas as
pontas anteriormente soltas: Resolve os conflitos entre o casal protagonista,
dá uma explicação relativamente plausível para o que lhes ocorreu, cria uma
situação cheia de adrenalina proporcionando o intenso clímax e ainda dá um
respiro na presença predominante de Jennifer e Pratt introduzindo por algum
tempo um novo personagem na trama (Laurence Fishburne, que merecia papéis muito
melhores do que este daqui) –se bem que, há também a participação algo alívio
cômico de Michael Sheen como um andróide.
Mas, tudo isso são só considerações, os fãs de
Jennifer Lawrence vão ficar satisfeitos com sua interpretação (que é muito boa,
sim, e ela arrisca as cenas mais sensuais de sua carreira até então), seu
carisma se provando autêntico numa produção refinada e cheia de classe, assim
como também é satisfatória a presença de Chris Pratt.
Agora, frustrados de
verdade ficarão os fãs do ator Andy Garcia que por ventura forem assistir este
filme na intenção de vê-lo –ele aparece por alguns segundos num dos trailers:
Sua aparição é tão rápida, instantânea e pífia que é de se perguntar o quê ele
faz lá!
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