Assim como ocorreu com “Westworld”, o livro de
Margaretg Atwood também havia ganhado uma muito pouco conhecida versão
cinematográfica antes de ser adaptado na aclamada série para a televisão.
Datado do início da década de 1990, este “The
Handmaid’s Tale” tem a elitista direção do alemão Volker Schlöndorff, do
consagrado “O Tambor” (que dividiu a Palma de Ouro em Cannes com “Apocalypse Now”) que se vale da premissa –herdeira espiritual das reflexões de George Orwell
–para criar uma impressionante distopia.
No futuro, um país denominado Gilead vive
tempos difíceis, entre guerras nas quais são empregadas armas químicas
irresponsavelmente e revoltas de ordem política constantes, uma das
consequências foi a perda da fertilidade de sua população. Uma porcentagem
baixíssima das mulheres permaneceu capaz de engravidar.
Kate (Natasha Richardson, filha da grande dama
do cinema Vanessa Richardson), ao tentar fugir de Gilead atravessando a
fronteira ao lado do marido (que é alvejado e morto) descobre assim o destino
das poucas mulheres, como ela, ainda férteis: Elas são conduzidas a uma espécie
de centro de habilitação onde sofrem algo quase similar a uma lavagem cerebral.
A benção de serem capazes de dar a vida é, para
elas, convertida em sua maldição: Delas é tirada a liberdade (são aprisionadas
e tornadas ‘handmaids’, que usam somente vermelho), a individualidade (dormem
todas juntas num dormitório improvisado em um ginásio de esportes, e recebem
outros nomes que lhe podam a identidade) e até mesmo o livre-arbítrio (serão
escolhidas para fornecer filhos aos milionários e aos cidadãos de alto escalão
cujas esposas são estéreis).
Esse é o destino de Kate –chamada Offred
(traduzido ‘De Fred’, ou seja, propriedade de seu patrão), ela agora terá de
submeter-se à terríveis cerimônias de violação, nas quais é evocada a passagem
de Gênesis, Capítulo 50: O marido (Robert Duvall) deve, portanto, penetrá-la da
forma mais impessoal possível para que ela proporcione um filho a ele e à esposa
(Faye Dunaway).
Ao longo das angustiantes tentativas, Kate não
deixa de notar os avanços insidiosos do marido (que a quer quase como uma
amante), o rancor mal disfarçado da esposa e a atração genuína que passa a
sentir por Nick (Aidan Quinn), o motorista da mansão.
Entretanto, ela não deixa de correr perigo: As
duas ‘handmaids’ anteriores foram descartadas (no caso, enforcadas!) por não
conseguirem engravidar; as evidências apontam que o marido deve ser também
estéril, porém, isso está fora de cogitação para a sociedade vigente –se ela
não engravidar a culpa será dela, e será ela quem sofrerá assim as
consequências.
Impondo uma esmagadora impessoalidade na
narrativa –sufocando o expectador com a opressão que suas escolhas suscitam –o
filme de Schölondorff usa e abusa das cenas monocromáticas a definir uma
espécie de futurismo que, ao mesmo tempo, parece brotar de um pesadelo.
Embora hajam lá suas sequências impactantes, a
grande força deste seu trabalho provem do poder desalentador de uma premissa
fantasiosa, mas cujos horrores são ingredientes extraídos de aspectos do mundo
bem real a lembrar o mais recente “Filhos da Esperança”, de Alfonso Cuarón.
Nenhum comentário:
Postar um comentário