Diretor de “Suzie e Os Baker Boys”, o também
roteirista Steve Kloves não obteve aqui o mesmo equilíbrio de sua realização
anterior, deixado transparecer uma indecisão de ritmo e de gênero a contaminar
os elementos que poderiam fazer deste um bom trabalho.
Ele reúne os atores Dennis Quaid e Meg Ryan –então,
casados na vida real –após ambos terem participado, anos antes, de “Viagem
Insólita”, de joe Dante, e “Morto Ao Chegar”, de Rocky Morton e Annabel Jankel.
Eles interpretam (sobretudo, Quaid) personagens intimistas que fazem a alegria
de atores em geral, mas que encontram certa dificuldade em estabelecer empatia
com o expectador –e é aí que começam os problemas de “A Força de Um Passado”.
No prólogo tenso e relativamente lento, vemos
uma família abrigar, na calada da noite, um menino perdido. As intenções do
garoto, no entanto, se revelam quando ele destranca a porta para o próprio pai,
um bandido, poder roubar a casa.
Porém, uma tragédia acontece e o homem termina
matando toda a família: O pai, a mãe e um menino, deixando vivo apenas o bebê.
Para uma cena que determinará os rumos
dramático tomados pela trama e por seus personagens –o que, de fato, vem a
acontecer –tal prólogo carece de impacto, revelando-se enfadonho.
Eventualmente, num salto no tempo reencontramos
aquele garoto, Arliss (agora vivido por Dennis Quaid), vivendo como fornecedor
de utensílios para máquinas de bar ao longo das pradarias do desolado
centro-oeste norte-americano. E o diretor Kloves não encontra muito o que fazer
senão transformar este em um road-movie.
E numa espécie de romance também: Arliss
encontra-se com Kay (Meg Ryan, ainda ostentando uma seriedade que sua carreira
perdeu quando virou ‘rainha das comédias românticas’), uma moça envolvida em
alguns apuros: Teve seu dinheiro roubado, obrigando-se a fazer, bêbada, um show
de strip-tease (!).
Com a ajuda relutante de Arliss, Kay consegue
voltar para sua cidade apenas para terminar de uma vez o casamento catastrófico
com o marido inconveniente e trapaceiro.
E, à medida que o relacionamento entre os dois
se intensifica –sem que o filme deixe exatamente claro se é disso que ele quer
falar –ficamos nos perguntando quando, afinal, a cena trágica do início, irá
começar a interferir nos rumos da história.
Dá até para começar a pensar que a bebezinha
sobrevivente pudesse ser a jovem Ginnie (Gwyneth Paltrow, num de seus primeiros
papéis de cinema), com quem Arliss se cruza algumas vezes, e que vem a ser quem
rouba o dinheiro de Kay.
Todavia, as pontas soltas começam a se juntar
quando o pai de Arliss (o grande James Caan) reaparece, atrás da ajuda do
filho. Ele e Ginnie formam agora uma dupla, diante da insistência do filho em
seguir uma vida honesta depois de adulto.
E assim, o passado vem cobrar suas dívidas: Aos
poucos, pai e filho descobrem que Kay, a mulher agora envolvida com Arliss, é
na verdade aquele bebê que escapou com vida naquela noite. O que fez Arliss um
dos cúmplices do assassinato de sua família e, certamente, um dos responsáveis
pela guinada que sua vida deu –culpa que os discursos imorais de seu pai só vêm
a potencializar ainda mais.
Embora pretensamente
dramático, “A Força de Um Passado” não aprofunda completamente a circunstância
de seus personagens justamente por preferir, em vez disso, esconder muitas das
informações até a último instante acerca dos reais eventos a enlaça-los; e
ainda que Quaid e Ryan sejam protagonistas carismáticos, eles depõem contra a
própria simpatia que conseguem conquistar interpretando personagens fechados,
taciturnos e circunspectos em suas dores internas.
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