quarta-feira, 1 de maio de 2019

A Força de Um Passado

Diretor de “Suzie e Os Baker Boys”, o também roteirista Steve Kloves não obteve aqui o mesmo equilíbrio de sua realização anterior, deixado transparecer uma indecisão de ritmo e de gênero a contaminar os elementos que poderiam fazer deste um bom trabalho.
Ele reúne os atores Dennis Quaid e Meg Ryan –então, casados na vida real –após ambos terem participado, anos antes, de “Viagem Insólita”, de joe Dante, e “Morto Ao Chegar”, de Rocky Morton e Annabel Jankel. Eles interpretam (sobretudo, Quaid) personagens intimistas que fazem a alegria de atores em geral, mas que encontram certa dificuldade em estabelecer empatia com o expectador –e é aí que começam os problemas de “A Força de Um Passado”.
No prólogo tenso e relativamente lento, vemos uma família abrigar, na calada da noite, um menino perdido. As intenções do garoto, no entanto, se revelam quando ele destranca a porta para o próprio pai, um bandido, poder roubar a casa.
Porém, uma tragédia acontece e o homem termina matando toda a família: O pai, a mãe e um menino, deixando vivo apenas o bebê.
Para uma cena que determinará os rumos dramático tomados pela trama e por seus personagens –o que, de fato, vem a acontecer –tal prólogo carece de impacto, revelando-se enfadonho.
Eventualmente, num salto no tempo reencontramos aquele garoto, Arliss (agora vivido por Dennis Quaid), vivendo como fornecedor de utensílios para máquinas de bar ao longo das pradarias do desolado centro-oeste norte-americano. E o diretor Kloves não encontra muito o que fazer senão transformar este em um road-movie.
E numa espécie de romance também: Arliss encontra-se com Kay (Meg Ryan, ainda ostentando uma seriedade que sua carreira perdeu quando virou ‘rainha das comédias românticas’), uma moça envolvida em alguns apuros: Teve seu dinheiro roubado, obrigando-se a fazer, bêbada, um show de strip-tease (!).
Com a ajuda relutante de Arliss, Kay consegue voltar para sua cidade apenas para terminar de uma vez o casamento catastrófico com o marido inconveniente e trapaceiro.
E, à medida que o relacionamento entre os dois se intensifica –sem que o filme deixe exatamente claro se é disso que ele quer falar –ficamos nos perguntando quando, afinal, a cena trágica do início, irá começar a interferir nos rumos da história.
Dá até para começar a pensar que a bebezinha sobrevivente pudesse ser a jovem Ginnie (Gwyneth Paltrow, num de seus primeiros papéis de cinema), com quem Arliss se cruza algumas vezes, e que vem a ser quem rouba o dinheiro de Kay.
Todavia, as pontas soltas começam a se juntar quando o pai de Arliss (o grande James Caan) reaparece, atrás da ajuda do filho. Ele e Ginnie formam agora uma dupla, diante da insistência do filho em seguir uma vida honesta depois de adulto.
E assim, o passado vem cobrar suas dívidas: Aos poucos, pai e filho descobrem que Kay, a mulher agora envolvida com Arliss, é na verdade aquele bebê que escapou com vida naquela noite. O que fez Arliss um dos cúmplices do assassinato de sua família e, certamente, um dos responsáveis pela guinada que sua vida deu –culpa que os discursos imorais de seu pai só vêm a potencializar ainda mais.
Embora pretensamente dramático, “A Força de Um Passado” não aprofunda completamente a circunstância de seus personagens justamente por preferir, em vez disso, esconder muitas das informações até a último instante acerca dos reais eventos a enlaça-los; e ainda que Quaid e Ryan sejam protagonistas carismáticos, eles depõem contra a própria simpatia que conseguem conquistar interpretando personagens fechados, taciturnos e circunspectos em suas dores internas.

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