Para o quarto filme de saga, o diretor do ótimo
trabalho anterior, Alfonso Cuarón, recusou a oferta para retornar à direção.
Foi chamado então o realizador Mike Newell, de “Quatro Casamentos e Um Funeral”
–o primeiro inglês, por sinal, a assumir o comando da saga –o quê proporcionou
aos filmes da série uma chance do público experimentar as obras que se sucediam
acrescidas das sensibilidades particulares de diferentes cineastas. Chris
Columbus deu aos dois primeiros um viés envolvente de aventura juvenil; Cuarón
agregou ao terceiro valores cinematográficos e artísticos mais sólidos;
enquanto que Newell, valendo-se da ampla experiência nos distintos gêneros que
trabalhou, contribuiu com o bombástico humor inglês ao que a saga tinha de
comédia, e uma refinada depuração entre o drama e o suspense para o que ela
tinha de tragédia.
O resultado é que “O Cálice de Fogo” disputa,
com qualquer um dos outros títulos, o posto de melhor filme de toda a saga.
No quarto ano na Escola de Magia e Bruxaria de
Hogwarts, Harry Potter já não é mais tão perplexo ao mundo mágico que o cerca.
Suas inseguranças são agora angústias inerentes a um adolescente quase normal,
que tem a peculiaridade de viver num ambiente regido por magia. Toda Hogwarts
se encontra, nesse ano, em polvorosa: A escola será sede de um Torneio Tribruxo
–onde Hogwarts e duas outras escolas de magia disputarão a almejada Taça dos
Campeões.
Tais campeões serão selecionados pelo poderoso
Cálice de Fogo cuja magia impede bruxos menores de dezessete anos de
participar. Ou seja, Harry, Rony e Hermione –do alto de seus catorze anos –não
podem competir. Contudo, no dia em que os competidores são anunciados, junto do
nome dos usuais representantes de cada escola –Viktor Krum (Stanislav Ianevski)
a representar o Instituto Durmstrang; Fleur Delacour (Clémence Poésy, de “127 Horas”) representando a Academia de Magia Beauxbatons; e Cedrico Diggory
(Robert Pattinson, revelado aqui antes da “Saga Crepúsculo”) como representante
de Hogwarts –o Cálice de Fogo cospe também o nome de Harry Potter (!).
Ele é aceito como competidor já que, segundo as
regras do Torneio Tribruxo, os desígnios do Cálice de Fogo são onipotentes –o
que significa que, na qualidade de perdedor certo, Harry terá alunos de magia mais
velhos como adversários, em provas perigosas que podem perfeitamente lhe
representar perigo mortal.
Ciente de que tem material de sobra para
trabalhar –o livro que é aqui adaptado é um dos mais ricos e extensos de toda
série –o diretor Mike Newell é admiravelmente criterioso na seleção dos
momentos vultuosos e intensos que são aproveitados: Apenas aqueles que levam a
história a avançar. O que sobra em “O Cálice de Fogo” é a aventura mais
perfeitamente ajustada, até aqui, nas idas e vindas aflitivas de seu
protagonista, absolutamente afiada nos meandros que conduzem, sem que fique
claro até o instante fatídico, ao acontecimento divisor de águas para com toda
a saga –é aqui, em “O Cálice de Fogo” que testemunhamos o retorno tão alardeado
de Lorde Voldemort em toda sua ameaça; e ao interpretá-lo, na intensa cena do
cemitério, Ralph Fiennes entrega um dos mais hipnóticos vilões dos últimos
tempos, numa atuação raivosa e eletrizante que consegue fazer jus a toda
preparação para sua chegada feita pelos filmes anteriores.
Por tudo isso, “Harry
Potter e O Cálice de Fogo” marca uma contundente transformação na saga: A
partir daqui, nada no mundo de Harry Potter será como antes –e trazer como
clímax a primeira e verdadeiramente dolorosa morte de um personagem é só uma
faceta dessa constatação –isso é inclusive sentido pelos próprios protagonistas
na agridoce e reflexiva cena final, um sutil indício de tudo que está por vir
nos excelentes filmes vindouros.
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