Giuseppe Tornatore, na sequência de seu
aclamado “Cinema Paradiso”, realizou uma obra sobre as desilusões da vida em
contraponto ao otimismo e à esperança que as antigas gerações depositam, às
vezes inconscientemente, nas gerações mais novas.
Numa atuação primordial de Marcello
Mastroianni, o protagonista Matteo Scuro passa seus dias na cidade litorânea da
Sicília onde viveu toda a vida. Ao simular conversas com a esposa falecida, ele
dirige-se ao próprio expectador, quebrando a quarta parede, e assim nos informa
suas intenções de passar o verão reunido aos cinco filhos já adultos, todos
morando em outras cidades. Entretanto, o verão termina e ninguém chega para
visitar o idoso.
É assim que, embriagado de nostalgia, ele
decide partir para visitar um a um.
O primeiro é Alvaro –que surge, numa foto,
vivido por Jacques Perin, e nas lembranças de infância, interpretado pelo
garotinho Salvatore Cascio; ambos, é bom lembrar, também vivenciaram as
diferentes fases de um mesmo personagem em “Cinema Paradiso”.
Mas, Alvaro não se encontra em sua casa em
Nápoles –na verdade, ele não se encontra em lugar nenhum!
Perplexo com a desventura, Matteo segue em
frente, e vai à Roma visitar Canio (Marino Cenna) que tornou-se –ele crê –um
respeitado político. A realidade, porém, revela-se quando o vemos discursando
para uma sala vazia: A mediocridade que todos os filhos passarão o filme
tentando esconder do pai.
De lá, Matteo vai para Florença, encontrar
Tosca (a bela Valeria Cavalli, de “Uma Garota Dividida Em Dois”) que ele supõe
ser uma atriz e modelo. Não é: Tosca ganha a vida tirando fotos para catálogos
de lingerie, onde sequer mostra o rosto, e esconde do pai o fato de que o bebê
em seu apartamento é seu próprio filho –ela conta que é filho de uma amiga.
A caminho de Milão para ver o filho Guglielmo
(Roberto Nobile, de “Sob O Sol da Toscana”), Matteo conhece um grupo de
aposentados em viagem, junto dos quais visita as praias de Rimini, a
cidade-natal de Federico Fellini (e tão brilhantemente retratada por ele em
“Amarcord”).
Guglielmo é músico de orquestra e, embora diga
ao pai que vai se ausentar para um concerto, ele o faz apenas para que, assim
como os outros irmãos, possa protelar a trágica verdade sobre a ausência de
Alvaro. E deixa Matteo assim aos cuidados do neto, Antonello (Fabio Iellini).
A última parada leva Matteo à Turim, onde ele
encontra Norma (Norma Martelli) que trabalha de atendente de telemarketing (e
não de secretária de uma grande empresa como ele acredita) e vive um casamento
infeliz e desgostoso (pois não deseja que o pai a veja divorciada).
Todas essas tentativas de encobrir seus
infortúnios levam os filhos a entristecer ainda mais o pai, num resultado
inverso daquilo que queriam.
O grande mérito do diretor é compor todo esse
drama humano sem fazê-lo soar comiserativo, ou deprimente às sensibilidades do
público; êxito que ele certamente compartilhada com a interpretação vívida,
inspirada e luminosa de Mastroianni.
Nesse trabalho brilhante, Tornatore
vale-se de sua singular capacidade –descoberta
em “Cinema Paradiso” –para construir cenas que emocionam com seus sentimentos,
provocam com seus simbolismos, e refletem com suas ideias; e que foi, pouco a
pouco, se desvanecendo em projetos subsequentes.
Aqui, no entanto, ele
encontra um auge artístico e criativo cuja intensidade poucas vezes ele foi
capaz de manter em sua carreira.
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