Se “Gremlins”, de 1984, foi uma bela entrada do
diretor Joe Dante no mundo do cinema hollywoodiano comercial, apadrinhado por
Steven Spielberg, então “Viagem Insólita”, seu projeto seguinte, rumava em
direção à ambições técnicas muitos maiores (ainda que ironicamente seu tema
fosse a redução de tamanho a níveis microscópicos): Desta vez, Dante quis dar
sua própria e alucinada visão do clássico “Viagem Fantástica”, de 1966, do qual
empresta praticamente todo o conceito –lá, como aqui, há uma experiência de
miniaturização que leva uma pequena nave tripulada para dentro do corpo humano.
Contudo, se “Viagem Fantástica” almejava seriedade, “Viagem Insólita” se
posiciona como entretenimento, a despeito do arrojo mesmerizante (e, portanto,
espantosamente realista) dos efeitos visuais utilizados.
A grande diferença entre essas duas obras é, na
verdade, o contexto: Toda a comédia e pantomina que definem o cinema brincalhão
e ácido de Joe Dante comparecem aqui, orientando sua trama em uma direção que,
em determinado ponto, o afasta por completo das comparações com seu classico
inspirador.
O sempre excelente (e até hoje ainda
sub-aproveitado) Dennis Quaid interpreta Tuck Pendleton, impetuoso tenente da
força-aérea escolhido para um projeto muito incomum: Ser miniaturizado à
proporções microscópicas e, dentro de uma nave submergível de alta tecnologia,
ser injetado no organismo de um coelho.
Entretanto –e aí começam as grandes
contribuições de Joe Dante para diferenciar seu filme –durante a experiência,
terroristas dispostos a roubar essa nova tecnologia invadem o laboratório,
fazendo com que um dos cientistas tente heroicamente fugir com a seringa
portando o já miniaturizado Pendleton.
Antes de ser morto, ele acaba injetando
Pendleton e a nave no corpo de um indivíduo aleatório, que vem a ser o
hipocondríaco Jack (Martin Short), de início, desesperado com os sintomas que a
presença de Pendleton em seu corpo vai provocando.
A parafernália técnica de efeitos práticos e
efeitos especiais empregados em “Viagem Insólita” para concretizar o interior
agigantado do corpo humano é até hoje fascinante: Não à toa “Viagem Insólita”
levou o Oscar de Melhores Efeitos Especiais em 1988.
Não obstante esse vultuoso aparato técnico
proporcionado pelo produtor Spielberg, é no tratamento cinematográfico que
“Viagem Insólita” realmente chama a atenção.
De ritmo frenético e
inquieto –o que, em parte, espelha as aptidões cômicas de Martin Short, uma
espécie de protagonista velado do filme –o trabalho de Joe Dante vai da comédia
(os transtornos trazidos por Pendleton à vida do perplexo Jack) à aventura
(logo, a trama se torna uma corrida contra o tempo para Pendleton voltar ao
tamanho normal antes que o estoque de ar dentro da nave acabe, asfixiando-o),
do romance (Lydia, vivida por Meg Ryan, ex-namorada de Pendleton, termina
compondo com ele e Jack uma espécie de triângulo amoroso) à uma trama
mirabolante de espionagem (os vilões interessados em obter a tecnologia de
miniaturização, interpretados por Kevin McCarthy e Fiona Lewis, não dão sossego
aos protagonistas), por meio de um roteiro que nunca se acomoda. Por isso
mesmo, “Viagem Insólita” pode exacerbar a paciência de alguns expectadores mais
adultos que pode identificar o grande apreço pelo non-sense que Joe Dante
ostenta aqui; e que pode ter respondido pelo retorno insatisfatório que ele
teve, à época, nas bilheterias. Não importa. Não é à esses expectadores sisudos
que Dante dirige seu filme; é à parcela da plateia ávida por diversão e
correria, cujo mote de ficção científica está menos a serviço de alguma
reflexão profunda e mais no auxílio de uma produção pipoca e escapista nos
moldes daquelas em que Spielberg e seus discípulos se especializaram nos anos
1980.
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