Uma pena que, nas últimas décadas, Luc Besson tenha sentado menos na cadeira de diretor para atuar em produções como produtor, argumentista ou roteirista, viabilizando com isso o trabalho de terceiros. Uma hora ou outra, porém, essa atividade revelaria talentos tão auspiciosos quanto o seu; e é, mais ou menos, o que ocorre aqui, nesta formidável ficção científica de ação.
Acelerado como poucas produções conseguem ser,
mesmo no vertiginoso cinema comercial de hoje, o filme dirigido por Stephen
Saint Leger e James Mather, a partir de uma ideia esboçada pelo próprio Besson
(e roteirizado por ele e pela dupla de diretores), começa em altíssima voltagem
quando seu debochado e intratável
protagonista, Snow (o sensacional Guy Pearce), se vê encurralado numa nebulosa
situação: Agente da CIA, Snow deve fugir de inimigos que o incriminaram a fim
de provar sua inocência e a de um amigo abatido. Tudo parece girar em torno de
uma pasta com segredos, tida como perdida. E o filme não apenas começa em meio
à ininterruptas cenas de ação, mas em meio à uma trama que acomoda, ela própria
a ação; uma característica muito peculiar de Besson nesse cinema tão avesso ao
conteúdo em detrimento do senso estético é justamente essa sua capacidade para
fazer com que a própria história a ser contada adquira as nuances frenéticas
inquietas das próprias sequências que emoldura.
E assim o filme segue implacável: Snow é
condenado e sua sentença é um sono criogênico no espaço onde, em órbita da
Terra, uma prisão espacial já abriga uma legião de condenados num sistema ainda
experimental de carceragem.
Eventualmente a bordo dessa nave-prisão, a
filha do presidente norte-americano, Emilie (a gracinha Maggie Grace, da série
“Lost”), vai fazer uma inspeção protocolar a fim de apurar as informações que
apontam efeitos colaterais como a demência entre os prisioneiros submetidos à
criogenia. Um desses prisioneiros, Hydell (Joe Gilgun, de “Harry Brown” e a
série “Preacher”), de altíssima periculosidade, despertado justamente para a
entrevista com ela, consegue escapar espalhando o caos, e logo conseguindo
libertar todos os outros, inclusive seu irmão Alex (Vincent Regan, de “300” e
“Joana D’Arc”), menos psicótico e inconsequente que ele, e mais estrategista e
manipulador –Alex não tarda a usar a vida dos reféns disponíveis (inclusive
Emilie, que os criminosos ainda não sabem tratar-se da filha do presidente)
como moeda de troca na negociação com as autoridades.
Nesse processo, Snow surge como um coringa em
meio às cartas desse baralho: É hábil e eficaz o bastante para um missão
suicida onde deve exclusivamente salvar Emilie, mas descartável o suficiente
para protagonizar uma operação em tudo e por tudo insensata. Ele é enviado, de
modo clandestino, na nave-prisão tendo pouco tempo para tirar sua refém de lá;
pois a nave, sem as manutenções de rotina, irá cair em direção à Costa Leste
norte-americana, isso se, antes disso, os conselheiros de defesa não passarem
por cima da autoridade presidencial e conseguirem aprovar um ataque maciço contra
o lugar.
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