quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Dias de Trovão


 Top Gun sobre rodas” foi e continua sendo a mais perfeita definição para esta aventura ambientada nas pistas de corrida de stock-car, não apenas pela reunião do astro (Tom Cruise), do diretor (Tony Scott) e dos produtores (Jerry Bruckheimer e Don Simpson) daquele sucesso, mas também por trazer as mesmas junções de gêneros cuja receita se revelou bem-sucedida: Um retrato estiloso de um ambiente regido pela adrenalina, muita ação com um pouco de romance e drama humano. Desnecessário dizer que, com seu notório arrojo visual, o diretor Scott transforma as corridas de stock-car num espetáculo à parte.

O curioso é que, tendo chamado o gabaritado Robert Towne (de “Chinatown”) para escrever o roteiro, o projeto terminou ganhando novas características e elementos mais particulares. Para começar, quem dá o ponto de partida à trama é, na realidade, o personagem de Robert Duvall, Harry Hogge. Ele é tão protagonista quanto o personagem de Tom Cruise. Harry é um engenheiro de automóveis afastado do ofício devido a um acidente.

Ele é trazido da fazenda onde enfurnou-se para novamente atuar nas pistas como chefe de equipe pelo empresário Tim Daland (Randy Quaid). Entretanto, a estratégia de Daland para se sobressair na temporada e vencer a Copa Winston é financiar duas equipes distintas –o que acirra ainda mais a competitividade entre elas!

De um lado, a equipe chefiada por Harry, na qual o piloto é, afinal, o impulsivo Cole Trickle vivido por Tom Cruise; de outro, a equipe do habilidoso piloto Rowdy Burns (Michael Rooker).

Se quiserem conquistar a vitória, Harry e Cole precisam, portanto, superar animosidades dentro e fora das pistas, e Cole, principalmente, vencer seus demônios internos, o que inclui um repentino temor pela própria vida após sobreviver a um terrível acidente.

Menos lembrado pelo sucesso razoável que obteve no início da década de 1990, e mais por reunir em cena, pela primeira vez, o casal Tom Cruise e Nicole Kidman (eles passaram a namorar quando se conheceram no set de filmagem), “Dias de Trovão” ainda guarda eficiência e alta voltagem para empolgar expectadores mesmo nos dias de hoje, incluindo suas inesperadas qualidades enquanto cinema –o que o coloca até mesmo acima de “Top Gun”, seu mais incontornável objeto de comparação –como o roteiro de Towne que surpreende pela atenção criteriosa aos detalhes narrativos mais pertinentes, como a constante manutenção da relevância do personagem de Duvall, o complexo laço de amizade que se constrói a partir da rivalidade entre os personagens de Cruise e Rooker, o romance entre Cole e a Dra. Lewicki, personagem de Nicole –encaixado à trama com eficiência o bastante para disfarçar sua aleatoriedade –e a maneira com que todos esses elementos vão convergindo o filme para o seu clímax apoteótico na aguardada pista de Daytona.

Se “Dias de Trovão” não conquistou a mesma importância junto à cultura pop, nem o apreço junto a um tipo de público que passou a cultuá-lo da mesma forma que “Top Gun” ao longo dos anos, isso se deve menos aos seus predicados técnicos e artísticos e mais a uma série de fatores culturais referentes, inclusive, à época em que foram feitos: Os anos 1990, mais cínicos, já não tinham aquela mesma ingenuidade conceitual que tornou tão fascinantes algumas das obras dos anos 1980.

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