A histriônica atriz Isla Fisher conseguiu destacar-se no bem-sucedido “Penetras Bons de Bico” no incontrolável papel de uma quase ninfomaníaca. Tanto chamou a atenção que o diretor australiano P.J. Hogan (de “O Casamento de Muriel” e “O Casamento do Meu Melhor Amigo”) apostou nela para protagonizar esta adaptação do livro de Sophie Kinsella, uma ágil comédia que une “O Diabo Veste Prada” à “Rosalie Vai Às Compras”.
Num registro colorido e plural do consumismo
capitalista que permeia todo o filme, conhecemos a compulsão de Rebecca
Bloomwood (Isla Fisher, cujos exageros ocasionalmente comprometem sua adequação
ao papel), moça nova-iorquina que vive em funções das compras –na narração dela
própria, descobrimos que as próprias vitrines das lojas parecem ganhar vida e
chamá-la a comprar os diversos adereços.
Por conta disso, Rebecca vive com suas finanças
no vermelho. O que a leva a almejar um ofício prontamente rentável. A fim de
unir suas aptidões às suas necessidades, a intenção primordial de Rebecca acaba
sendo obter um cargo na prestigiada revista de moda “Alette”, já que afinal,
consumista voraz. Rebecca sabe tudo sobre marcas e griffes.
Todavia, a aguardada entrevista de emprego –à
qual ela comparece com uma ostensiva echarpe verde –dá errado: A sonhada vaga
já foi preenchida. Resta, contudo, uma outra alternativa, comer pelas beiradas:
No mesmo prédio da “Alette”, outros escritórios, de outras revistas, também
funcionam, sendo assim, Rebecca ainda tem a chance de ser aceita em outro
departamento e, com sorte, ir subindo de nível, até atingir seu Santo Graal na
revista de moda. E a chance que aparece vem a ser uma ironia do destino: Uma
vaga na revista “Economia de Sucesso” –justamente uma publicação que orienta os
leitores a controlar suas finanças e não deixar-se levar por suas compulsões de
consumismo.
Contra todas as possibilidades, Rebecca redige
uma carta que surpreende o jovem editor-chefe, Luke Brandon (Hugh Dancy, de
“Falcão Negro Em Perigo” e “Histeria”), convencendo-o de que, diferente da
realidade, ela é alguém especializada em finanças e perfeitamente capaz de
administrar o próprio dinheiro (e logo, ensinar leitores a fazê-lo também!).
Esta comédia, conduzida com bastante sagacidade
por P.J. Hogan, é assim aquela modalidade de farsa onde a adorável protagonista
equilibra uma sucessão de mentiras –a persona gastadeira que ela oculta de
todos no trabalho, onde ganha fama (na misteriosa coluna “A Garota da Echarpe
Verde”) aconselhando o oposto do que realmente faz; seus hábitos caloteiros (e
que colocam um implacável cobrador em seu encalço) que a levam a frequentar uma
reunião de Compradores Anônimos (!); e o fato de encobrir tudo isso do razoável
e envolvente Brandon, por quem ela vai se apaixonando, a despeito de todas as
mentiras que conta a ele –até que a narrativa as empilha e acumula de tal
maneira que todas explodem em confusões a partir de um determinado ponto do
filme. O que eu vejo como ponto oscilante dessa produção é justamente o fato de
Hogan ancorar isso tudo em Isla Fisher: Embora simpática e relativamente
esforçada (em alguns momentos até demais!), ela não dispõe da doçura genuína de
uma Sandra Bullock, nem da serenidade para o cômico e para o terno que fez de
Meg Ryan uma estrela; em vez disso, ela emprega os mesmos arroubos que moldou
para sua personagem em “Penetras Bons de Bico” –personagem esta de orientação
completamente diferente da Rebecca Bloomwood que vemos aqui.
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