É possível que hajam méritos bastante abstratos no fato de que “A Incrível Vida de Adaline”, com sua construção de contos de fadas e todos os seus reflexos condicionados de comédia romântica, seja assim tão envolvente e agradável.
Grande parte disso vem, certamente, da escolha
feliz de Blake Lively para o papel da protagonista: Linda atriz, dona de um
carisma incomum –uma simpatia mesclada a um insolúvel encanto –e
consideravelmente talentosa, Blake tem, além de tudo, uma fisionomia delicada e
clássica, a lembrar uma atriz dos anos 1940, o que casa com perfeição à
personagem que interpreta, uma quase versão feminina de “O Curioso Caso de Benjamin Button”; Adaline Bowman, afinal, adquiriu em algum momento de sua vida
(e por razões mais mirabolantes do que se pode imaginar) uma condição singular
–ela simplesmente não envelhece, congelada na mesma idade (29 anos) e conservando
uma beleza acachapante.
Se em princípio, esse detalhe –percebido por
ela, logicamente, à longo prazo –parece ser uma espécie de benção, com o passar
do tempo Adaline percebe tratar-se de uma maldição.
Ela teme ser isolada, dissecada e estudada,
privada de seu direito de viver caso seja descoberta, mas, mesmo deixando sua
condição em segredo, ela não consegue viver: De tempos em tempos, ela precisa
deixar o lugar onde vive e trabalha, e as pessoas com quem se relaciona quando o
transcorrer do tempo começa a denunciar o contraste entre aqueles que
envelhecem à sua volta, enquanto nada acontece a ela (até mesmo sua filha,
vivida de um certo ponto em diante pela octogenária Ellen Burstyn, acaba
envelhecendo a ponto de aparentar ser a avó de Adaline!).
A trajetória dessa incomum protagonista chega
num ponto crucial quando, nos dias atuais, ela verdadeiramente se apaixona por
Ellis Jones (Michiel Ulsman, de “Livre” e “A Jovem Rainha Victoria”), com quem
ela almeja, de alguma forma, casar-se. Embora Adaline não se permita, por algum
tempo, pensar no inevitável –que, em algum momento, Ellis irá envelhecer e ela
não –a obrigação da consciência vem até ela: Quando fica noiva de Ellis,
Adaline conhece a família dele, cujo pai, William (Harrison Ford) veio a ser
namorado de Adaline a muitos anos atrás (!). Nos flashbacks que ilustram o romance que tiveram, William é
interpretado por Anthony Ingruber, jovem ator que traz, deveras, uma espantosa
semelhança com Harrison Ford.
O fato de Adaline mudar de identidade
justamente para acobertar de todos sua idade imutável proporciona a ela fingir
que tudo é uma grande coincidência –que ela é filha da mulher que William um
dia amou e não a própria mulher!
No entanto, como regem as orientações
melodramáticas do cinema comercial –e, apesar de todo o potencial de sua
premissa, é nesse nicho convencional que “A Incrível Vida de Adaline” se insere
–a verdade acaba vindo a tona, o que obriga Adaline a revelar, pela primeira
vez, a sua incrível história, não só a William, mas, a Ellis também.
Para tornar essas concessões narrativas um
pouco mais difíceis de engolir (ou para ir de encontro aos anseios de uma
parcela mais acomodada da plateia, como queira), o diretor Lee Toland Krieger
arruma, já perto do desfecho do filme, uma forma de Adaline voltar ao normal, à
inapelável condição humana na qual envelhecerá e morrerá, para que possa viver
ao lado de seu príncipe encantado, num infalível final feliz, sem que escolhas
dolorosas continuem sendo tomadas.
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