segunda-feira, 14 de março de 2022

10 Coisas Que Eu Odeio Em Você


 "A Megera Domada" de William Shakespeare já rendera uma série de curiosas adaptações –como o faroeste “Quando Um Homem É Homem”, ou a telenovela brasileira “O Cravo e A Rosa” (!) –o que só corrobora a incrível contemporaneidade e relevância na obra do bardo. Nos primórdios da década de 2000, a peça –que, vale lembrar,  já guardava traços, digamos, juvenis –ganhou uma descontraída versão adolescente que, indicativo do material hábil e volátil de Shakespeare e da sua compreensão dos relacionamentos e da dualidade humana, encaixava-se à perfeição ao manancial de comédias românticas predominantes da época. No fim da década de 1990 e início da década seguinte, os gênero de consumo para o público jovem de então basicamente resumiam-se a filmes de terror ao estilo “Pânico” e comédias românticas adolescentes –não por acaso, jovens astros e estrelas do período podiam ser encontrados em projetos de ambas as categorias.

Com efeito, no caso deste “10 Coisas Que Eu Odeio Em Você”, grande parte da descontração e do divertimento do filme podem ser atribuídos ao elenco jovem, com alguns dos atores e atrizes mais talentosos dessa nova geração, como Joseph Gordon-Levitch (“500 Dias Com Ela”), no papel do jovem Cameron, apaixonado pela menina mais linda e graciosa da escola, Bianca (Larissa Oleynik). A saída para Cameron finalmente ganhar uma chance com sua amada será atacar de cupido: O pai dela, antiquado, decidiu que ela só poderia namorar depois de sua irmã mais velha, Katherine (Julia Stiles, de “AIdentidade Bourne”), garota geniosa de quem todo mundo foge.

O recurso é Cameron "contratar" então o único garoto da escola que toparia encarar essa fera: Patrick, o rapaz com fama de desajustado, interpretado com bela presença de cena pelo falecido Heath Ledger (o Coringa de “Batman-O Cavaleiro das Trevas”). Ironicamente, de briga em briga, de conflito em conflito, Patrick começa a se apaixonar de verdade pela moça.

Simples –e eficaz justamente por conta disso –esbanjando simpatia, e feito claramente sem pretensões além de simplesmente divertir, “10 Coisas Que Eu Odeio Em Você” preserva, ainda hoje, sua capacidade para agradar o público justamente pela postura do diretor Gil Junger, em identificar as qualidades em sua produção –resumidas à ótima química de seu elenco –e ao enfatizar a força perene presente na simplicidade da premissa afiada e enxuta, bolada por Shakespeare a pelo menos dois séculos antes e, mesmo todo esse tempo depois, ainda capaz de capturar, em minúcia e perfeição, os altos e baixos do relacionamento amoroso.

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