O foco do cinema de Alexander Payne está no corriqueiro, no medíocre e no banal. De sua pena enquanto roteirista e de suas lentes enquanto diretor, as histórias que brotam sempre se voltam a uma espécie peculiar de norte-americano, aquele que, contrariando a promessa do american way of life, não sagrou-se um vencedor de sucesso. Ele reflete sobre essa inescapável condição –a de que, se alguém venceu, paradoxalmente, deve também existir alguém que teve de perder –no âmbito estudantil em “Eleição” e na seara das discussões midiáticas envolvendo o aborto nos anos 1990 em “Ruth Em Questão”. Sua verve ainda abordou, mais tarde, os relacionamentos sob o prisma do consumo alcoólico (“Sideways”), as crises inevitáveis de auto-estima mesmo em um cenário pleno de vivacidade como o Hawaí (“Os Descendentes”) e a jornada sem esperança, sem ânimo e sem cor de uma idosa (“Nebraska”). No centro de cada uma dessas narrativas, as pessoas norte-americanos que contradizem a máxima da Terra das Oportunidades e que, em geral, são varridas para baixo do tapete.
Ponto de virada na compreensão e na aceitação
pessoal desse estilo, “As Confissões de Schmidt” é uma luxuosa observação sobre
as amarguras prosaicas e nada extraordinárias de um americano sozinho,
convencional e comum que, num gesto de pura ironia, vem a ser interpretado pelo
pra lá de extraordinário Jack Nicholson.
Adentrando na trama no exato último dia de
trabalho, na iminência da aposentadoria, Warren Schmidt sempre foi o tipo de
funcionário que aguardava, entediado os ponteiros do relógio atingirem o local
certo para bater seu ponto. Em casa, as regras domésticas eram ditadas por sua
esposa, com quem era casado à muito tempo.
Em questão de pouco tempo, Schmidt é privado de
tudo isso –ao aposentar-se, ele não tem mais um relógio para lhe impor os
horários de ir e vir; e, ao enviuvar, ele já não tem uma esposa que lhe diga o
que e como fazer. No melancólico roteiro de Payne, a liberdade de Schmidt para
uma série de coisas começa não sem antes a consciência do que teve de perder
para chegar ali. Sem algo ao qual se agarrar, sem um motivador para suas ações
resta à Schmidt procurar pelo único resquício de sua família, a filha Jeannie
(Hope Davis, de “Anti-Herói Americano”) que está de casamento marcado com o
insosso caipira Randall (Dermot Mulroney) e que, na idealização de Schmidt, é a
única pessoa que lhe entenderá e lhe fará companhia para o resto da vida.
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