sexta-feira, 5 de maio de 2023

Guardiões da Galáxia Volume 3


 Já dissera Tony Stark (Robert Downey Jr.) em “Vingadores-Ultimato”: O fim faz parte da jornada. Pois é exatamente isso que vem reiterar este terceiro volume da trilogia concebida por James Gunn, também ela dentro do Universo Marvel Cinematográfico, cujo mérito maior talvez seja o de ter provado, perante toda a indústria, que sim, personagens outrora obscuros e absolutamente desconhecidos, quando tratados com refinamento, talento e uma equipe competente à frente e atrás das câmeras podem converter-se em ícones pop de tanto ou mais sucesso que os personagens já famosos e estabelecidos. “Volume 3” representa, em inúmeros aspectos, o fim da jornada. É o fim dessa equipe que conduziu fãs e expectadores casuais pelos recônditos do espaço sideral do MCU, e é, acima de tudo, uma despedida do próprio James Gunn à esses personagens –aos quais ele não deixa de declarar em cada instante de filme um amor incondicional –prestes à assumir a importante função de chefe da DC Studios, concorrente da Marvel.

Para tanto, vindo todos esses personagens de dois longa-metragens anteriores –e da expressiva participação em pelo menos outros dois filmes dos “Vingadores” –“Volume 3” acaba tendo assim muitas pontas soltas para unir. Existe, por exemplo, a situação romanticamente incerta entre Peter Quill (Chris Pratt) e Gamorra (Zoe Saldana), ela assassinada por Thanos em “Vingadores-Guerra Infinita”, mas, tendo retornado como uma versão alternativa (e nada benigna) de si mesma de outra realidade –e, portanto, sem qualquer vínculo com a equipe que antes virou sua família e sem qualquer memória do romance que construiu, aos trancos e barrancos, com o apaixonado Quill; há também a situação de Adam Warlock (Will Poulter), ser poderoso ainda que ingênuo, criado pela alienígena Ayesha (Elizabeth Debicki), como nos foi mostrado numa das cenas pós-crédito do “Volume 2”, com o intuito inicial de vingança contra os Guardiões da Galáxia. Mas, acima de tudo, há Rocket Racoon (voz de Bradley Cooper), o guaxinim humanóide e cibernético que, ao lado do homem-árvore Groot (voz de Vin Diesel), é um dos personagens favoritos dos fãs desde o primeiro filme. James Gunn foi providencial ao reservar toda a triste e dolorosa história de origem de Rocket para este último capítulo: É seguro afirmar, Rocket é o coração de “Guardiões da Galáxia-Volume 3”.

Sua história –contada em pontuais flashbacks que revelam sua criação pelas mãos do cruel, detestável e poderoso Alto-Evolucionário (Chukwudi Iwuji, num dos mais odiosos vilões da Marvel) –é de uma tristeza, uma angústia e um desamparo que chega a espantar quem está habituado à galhofa e ao humor constante de James Gunn. Mal dá pra acreditar que um personagem praticamente gerado por computador em sua íntegra seja capaz de comover de tal maneira. Rocket precisa de ajuda. Para salvá-lo, os Guardiões da Galáxia –que, mais que um grupo, se consolidaram praticamente como uma família –formados por Quill, Nebula (Karen Gillan), Drax (Dave Bautista), Manthis (Pom Klementieff) e Groot, partem, de seu reduto em Luganenhum, para a Contra-Terra, planeta-laboratório onde o Alto-Evolucionário conduz seus experimentos atrozes brincando de Deus com a vida de incontáveis criaturas inocentes, tendo uma delas sido Rocket, no passado.

Contudo, o tempo mostrou que Rocket é mais do que um experimento imperfeito como seu criador acreditava: Sua inteligência evoluiu, diante da necessidade de viver e de sobreviver, tornando-o algo mais do que o Alto-Evolucionário almejava. Agora, porém, ele quer Rocket de volta, pois, na ânsia de trilhar o caminho de sonhou, apesar de todas as suas perdas e decepções, Rocket foi capaz de evoluir –e o Alto-Evolucionário não sabe como ele o fez, nem como repetir isso em suas outras criações; só sabe que irá dissecar cada fibra de Rocket para descobrir.

No caminho para tentar salvar a vida de Rocket –infectado por uma espécie de vírus plantado nele por Adam Warlock num ataque –os Guardiões da Galáxia, obviamente, vão se cruzar com Gamorra, agora aliada aos Saqueadores, piratas espaciais liderados por Stakar (Sylvester Stallone, numa ponta de puxo), cujos laços com Quill (como namorada) e com Nebula (como irmã) podem, quem sabe, serem restaurados nesse percurso.

É claro que, sendo este o alardeado Volume Final, espera-se deste filme, sobretudo, em sua parte final, as imprevistas guinadas definitivas que haverão de selar o desfecho da maior parte dos personagens (e a Marvel Studios já se provou capaz de fazê-lo com emoção e contundência em “Ultimato”) e, possivelmente, até mesmo uma morte impactante a marcar este como o encerramento da história que começou no primeiro filme. Hábil, travesso e inteligente, James Gunn –em estado de graça, seja no roteiro, seja na direção –brinca, inclusive, com isso o tempo todo. Ele nos leva de uma emoção à outra, saltando com inédita e elevada habilidade do casual e confortável bom humor à emoção incontida e inebriante, e revela, neste terceiro trabalho com os Guardiões, uma nova faceta: A capacidade de realizar uma obra inesperadamente tensa.

Elaborado com a usual e reconhecida profusão de efeitos visuais que a Marvel Studios habitualmente entrega, e para tanto, dono de uma amplitude técnica invejável, “Guardiões da Galáxia-Volume 3” tem uma trama recheada de idas e vindas frenéticas, ora divertidas, ora atordoantes, e vale-se brilhantemente do fato –um trunfo sem igual para a Marvel –de que já conhecemos esses personagens, nos importamos com eles, sentimos com mais empatia e eficácia suas agruras e lamentamos com muito mais autenticidade suas tristezas, e isso faz com que sua última aventura seja, afinal, uma despedida nossa também. Uma emoção verdadeira, da qual partilhamos com imenso prazer.

Obrigado pela aventura, Guardiões.

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