Já dissera Tony Stark (Robert Downey Jr.) em “Vingadores-Ultimato”: O fim faz parte da jornada. Pois é exatamente isso que vem reiterar este terceiro volume da trilogia concebida por James Gunn, também ela dentro do Universo Marvel Cinematográfico, cujo mérito maior talvez seja o de ter provado, perante toda a indústria, que sim, personagens outrora obscuros e absolutamente desconhecidos, quando tratados com refinamento, talento e uma equipe competente à frente e atrás das câmeras podem converter-se em ícones pop de tanto ou mais sucesso que os personagens já famosos e estabelecidos. “Volume 3” representa, em inúmeros aspectos, o fim da jornada. É o fim dessa equipe que conduziu fãs e expectadores casuais pelos recônditos do espaço sideral do MCU, e é, acima de tudo, uma despedida do próprio James Gunn à esses personagens –aos quais ele não deixa de declarar em cada instante de filme um amor incondicional –prestes à assumir a importante função de chefe da DC Studios, concorrente da Marvel.
Para tanto, vindo todos esses personagens de
dois longa-metragens anteriores –e da expressiva participação em pelo menos
outros dois filmes dos “Vingadores” –“Volume 3” acaba tendo assim muitas pontas
soltas para unir. Existe, por exemplo, a situação romanticamente incerta entre
Peter Quill (Chris Pratt) e Gamorra (Zoe Saldana), ela assassinada por Thanos
em “Vingadores-Guerra Infinita”, mas, tendo retornado como uma versão
alternativa (e nada benigna) de si mesma de outra realidade –e, portanto, sem
qualquer vínculo com a equipe que antes virou sua família e sem qualquer
memória do romance que construiu, aos trancos e barrancos, com o apaixonado
Quill; há também a situação de Adam Warlock (Will Poulter), ser poderoso ainda
que ingênuo, criado pela alienígena Ayesha (Elizabeth Debicki), como nos foi
mostrado numa das cenas pós-crédito do “Volume 2”, com o intuito inicial de
vingança contra os Guardiões da Galáxia. Mas, acima de tudo, há Rocket Racoon
(voz de Bradley Cooper), o guaxinim humanóide e cibernético que, ao lado do
homem-árvore Groot (voz de Vin Diesel), é um dos personagens favoritos dos fãs
desde o primeiro filme. James Gunn foi providencial ao reservar toda a triste e
dolorosa história de origem de Rocket para este último capítulo: É seguro
afirmar, Rocket é o coração de “Guardiões da Galáxia-Volume 3”.
Sua história –contada em pontuais flashbacks que revelam sua criação pelas
mãos do cruel, detestável e poderoso Alto-Evolucionário (Chukwudi Iwuji, num
dos mais odiosos vilões da Marvel) –é de uma tristeza, uma angústia e um
desamparo que chega a espantar quem está habituado à galhofa e ao humor
constante de James Gunn. Mal dá pra acreditar que um personagem praticamente
gerado por computador em sua íntegra seja capaz de comover de tal maneira. Rocket
precisa de ajuda. Para salvá-lo, os Guardiões da Galáxia –que, mais que um
grupo, se consolidaram praticamente como uma família –formados por Quill, Nebula
(Karen Gillan), Drax (Dave Bautista), Manthis (Pom Klementieff) e Groot, partem,
de seu reduto em Luganenhum, para a Contra-Terra, planeta-laboratório onde o
Alto-Evolucionário conduz seus experimentos atrozes brincando de Deus com a
vida de incontáveis criaturas inocentes, tendo uma delas sido Rocket, no
passado.
Contudo, o tempo mostrou que Rocket é mais do
que um experimento imperfeito como seu criador acreditava: Sua inteligência
evoluiu, diante da necessidade de viver e de sobreviver, tornando-o algo mais
do que o Alto-Evolucionário almejava. Agora, porém, ele quer Rocket de volta,
pois, na ânsia de trilhar o caminho de sonhou, apesar de todas as suas perdas e
decepções, Rocket foi capaz de evoluir –e o Alto-Evolucionário não sabe como
ele o fez, nem como repetir isso em suas outras criações; só sabe que irá
dissecar cada fibra de Rocket para descobrir.
No caminho para tentar salvar a vida de Rocket –infectado
por uma espécie de vírus plantado nele por Adam Warlock num ataque –os Guardiões
da Galáxia, obviamente, vão se cruzar com Gamorra, agora aliada aos
Saqueadores, piratas espaciais liderados por Stakar (Sylvester Stallone, numa
ponta de puxo), cujos laços com Quill (como namorada) e com Nebula (como irmã)
podem, quem sabe, serem restaurados nesse percurso.
É claro que, sendo este o alardeado Volume
Final, espera-se deste filme, sobretudo, em sua parte final, as imprevistas
guinadas definitivas que haverão de selar o desfecho da maior parte dos
personagens (e a Marvel Studios já se provou capaz de fazê-lo com emoção e
contundência em “Ultimato”) e, possivelmente, até mesmo uma morte impactante a
marcar este como o encerramento da história que começou no primeiro filme.
Hábil, travesso e inteligente, James Gunn –em estado de graça, seja no roteiro,
seja na direção –brinca, inclusive, com isso o tempo todo. Ele nos leva de uma
emoção à outra, saltando com inédita e elevada habilidade do casual e
confortável bom humor à emoção incontida e inebriante, e revela, neste terceiro
trabalho com os Guardiões, uma nova faceta: A capacidade de realizar uma obra
inesperadamente tensa.
Elaborado com a usual e reconhecida profusão de
efeitos visuais que a Marvel Studios habitualmente entrega, e para tanto, dono
de uma amplitude técnica invejável, “Guardiões da Galáxia-Volume 3” tem uma
trama recheada de idas e vindas frenéticas, ora divertidas, ora atordoantes, e
vale-se brilhantemente do fato –um trunfo sem igual para a Marvel –de que já
conhecemos esses personagens, nos importamos com eles, sentimos com mais
empatia e eficácia suas agruras e lamentamos com muito mais autenticidade suas
tristezas, e isso faz com que sua última aventura seja, afinal, uma despedida
nossa também. Uma emoção verdadeira, da qual partilhamos com imenso prazer.
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