Não foi, deveras, à toa que Anthony Hopkins conquistou seu segundo Oscar de Melhor Ator por este trabalho (o primeiro, ele ganhou em 1991 por “O Silêncio dos Inocentes”); no papel de um homem idoso assolado por conflitos internos com a própria sanidade, Hopkins equilibra primorosamente um humor raivoso, uma empatia genuína e uma poderosa compreensão sobre os efeitos irreversíveis do tempo sobre todos nós.
Como ele, seu personagem se chama Anthony
–estendendo ainda mais a identificação entre ator e personagem, uma vez que o
próprio Hopkins reconheceu seu medo avassalador de sucumbir à demência conforme
a idade vai avançando –ele mora em um apartamento, no qual recebe ocasionais
visitas da filha, Anne (Olivia Colman). Ou será que Anthony, na realidade, mora
com a filha e seu marido? –personagem este que, num momento, aparece
interpretado por Mark Gatiss (da série inglesa “Sherlock”), noutro, por Rufus
Sewell (!), sem que ele consiga compreender por inteiro essa alternância. Logo,
não demora muito ao expectador começar a encaixar as peças do quebra-cabeças
que permite entender tal confusão: O roteiro (por sinal, também ele premiado
com o Oscar) escrito pelo próprio diretor Florian Zeller, em colaboração com
Christopher Hampton, se propõe a entrar na mente de Anthony, e fazer do público
testemunha de alguém que está perdendo a sanidade.
Assim, do ponto de vista de Anthony, os atores
que vivem seu genro se alternam sem que ele consiga distinguir quem eles são –o
mesmo, em dado momento, ocorre com Anne, quando a narrativa coloca Olivia
Williams para interpretá-la! Situações se sucedem numa atmosfera de
estranhamento, e deixam Anthony perplexo diante dos fatos: Em alguns, ele custa
a compreender o que se passa, em outros, fica envergonhado de expor aos demais
suas escancaradas limitações, e algumas vezes até acredita que as pessoas à sua
volta podem estar corroborando para iludi-lo. A reação, autêntica, minuciosa e
emotivo de Hopkins, de fato assemelha-se aos comportamentos por vezes tidos
como complicados e intratáveis dos idosos acometidos justamente pela
senilidade.
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