“Voyagers” é um filme cheio de boas intenções. O que, em geral, define o cinema do diretor Neil Burger, um bom realizador de obras promissoras como “Sem Limites” e “O Ilusionista”, mas que sempre carecem de algo frequentemente incategorizável para se tornarem grande cinema de fato. Talvez seja o detalhe de que, em todos os casos (inclusive o de “Voyagers”), hajam sempre obras cinematográficas muito melhores e mais reconhecidas com as quais a comparação sempre se faz desfavorável.
“Voyagers” parte de uma premissa que lembra
“Interestelar” na qual, devido às complicações de sempre, o planeta Terra não
mais suporta a vida. A Humanidade, logo, deve procurar refúgio nas estrelas, e
um grande êxodo, rumo a um longínquo planeta habitável tem início. A ideia é
simples, ainda que espartana e, à sua maneira, cruel: Numa viagem interespacial
de cerca de 80 anos, estima-se que somente a terceira geração da tripulação
original estará viva para testemunhar a chegada dos humanos a esse novo lar. Ou
seja, os tripulantes enviados daqui da Terra dificilmente estarão vivos para
ver isso acontecer.
A partir dessas considerações, toda uma nova
geração de crianças é concebida. Eles aprendem desde cedo a lidar com a
tecnologia, a trabalhar em equipe, e a sentir familiaridade no ambiente
recluso, impessoal e estéril de uma nave espacial. O único adulto a
voluntariar-se a partir com eles é Richard (Colin Farrell). Durante algum tempo
(anos, na verdade!), a viagem segue harmoniosa pelos confins siderais, até que
a tripulação (que, à propósito, recebia uma deliberada receita química de
inibidores para seus impulsos sexuais e comportamentais mais agressivos) atinge
a idade adolescente.
Um deles, Christopher (Tye Sheridan, de “Árvore da Vida” e “Jogador Nº 1”) descobre o misterioso composto químico que lhes é
servido diariamente e, junto de seu melhor amigo, Zac (Fionn Whitehead, de
“Dunkirk”) decide parar de tomar a fim de ver o que irá acontecer. Logo,
Christopher e Zac descobrem sua libido até então adormecida –e partilham ambos
de um forte desejo por Sela (Lily Rose-Depp, filha do astro Johnny Depp com a
cantora francesa Vanessa Paradis) –e têm seus instintos pessoais desenvolvidos:
Christopher descobre sua predisposição para a liderança, enquanto que Zac deixa
aflorar uma injustificada agressividade latente.
Quando Richard acaba morrendo em um acidente
cercado de circunstâncias nebulosas (algumas apontando até para um possível
envolvimento de Zac), o grupo que resta na nave (de jovens adolescentes
responsáveis pela viabilidade de todo o plano até a chegada ao planeta, dentro
de algumas décadas) se divide entre duas lideranças bem distintas: De um lado o
comando racional e civilizado de Christopher, disposto a manter as regras
estipuladas por Richard até o fim; do outro, as propostas questionadoras de
Zac, cuja iniciativa seduz seus seguidores ao focar na comida (que eles
controlam) e não na manutenção dos sistemas operacionais (que ele vê como um
trabalho pelo qual nenhum deles teve o direito de escolha).
Christopher, portanto, representa os deveres
necessários e fundamentais, e sua liderança aponta às responsabilidades nada
satisfatórias, mas essenciais à sobrevivência; enquanto que Zac, é a força da
natureza que conclama os demais à seguirem seus instintos, comendo quando
tiveram fome, matando e agredindo quando tiverem ódio. Logo, a adesão dos
membros tripulantes à um ou a outro grupo leva a uma polarização da jovem
tripulação, e consequentemente, ao caos e ao enfrentamento.
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