domingo, 31 de dezembro de 2023

Tempo de Matar


 Em meados de 1996, o diretor Joel Schumacher, por incrível que possa parecer, se encontrava em destaque em Hollywood. Responsável por isso foi a dobradinha de filmes que ele lançou no período, sendo um deles a sua primeira incursão no universo do Homem-Morcego a substituir Tim Burton, “Batman Eternamente” (que embora tenha conquistado o descontentamento da crítica teve boa bilheteria, fracasso foi, de fato, o filme seguinte, “Batman & Robin”), e o outro, este mezzo suspense, mezzo filme de tribunal, “Tempo de Matar”, adaptado da obra de John Grisham (autor que estava em alta naqueles tempos tendo diversas produções adaptadas de seus livros).

É possível notar, através desse exemplo, que o fracasso, às vezes, ensina muito mais que o sucesso: Embora nunca tenha sido um grande diretor, foi depois desta produção relativamente aclamada que Schumacher perpetrou sua mais infame bizarrice cinematográfica, entretanto, foi logo depois do vexame incalculável de “Batman & Robin” que ele teve o bom senso de conduzir a carreira por meio de realizações menores, nas quais o controle do diretor era mais garantido, e o resultado qualitativo, mais certo de ser obtido. Mas, “Tempo de Matar” vale assim esse alarde que, à época, suscitou? Nem tanto.

No sempre segregado e sempre em polvorosa, Mississipi, no sul dos EUA, uma garotinha da comunidade negra é agredida e estuprada por dois rapazes brancos racistas que vão imediatamente à julgamento, sob a quase certeza de absolvição diante das impunes legislações sulistas. No entanto, o indignado pai da criança, Carl Lee Hailey (Samuel L. Jackson), se antecipa à qualquer sentença e metralha os dois criminosos dentro do tribunal, fazendo justiça com as próprias mãos.

É Carl Lee quem agora está no banco dos réus, prestes a ser condenado por homicídio. Sua defesa é assumida pelo jovem e idealista advogado Jake Brigance (Matthew McConaughey, no papel que o revelou à Hollywood após várias participações menores em produções pequenas) que não faz ideia –mas, fará! –de todas as imbricações e desdobramentos que acarretará sua decisão de defender um acusado negro numa comunidade como a do Condado de Canton.

Com a cidade em iminência de virar um barril de pólvora –de um lado os manifestantes negros exigindo veementemente absolvição, de outro, os asseclas da Ku Klux Klan, restaurada no lugar pelos esforços do vingativo irmão de um dos assassinados, vivido por Khiefer Sutherland –Brigance deve enfrentar, nos tribunais, a voracidade inescrupulosa do procurador Rufus Buckley (Kevin Spacey), a desvantajosa antipatia do Juiz Omar Noose (Patrick McGoohan, de “Coração Valente”) e a real ameaça que toda essa circunstância representa a ele e à sua família. Para auxiliá-lo, Brigance conta com o apoio do mentor Lucien Wilbanks (Donald Sutherland), do amigo e parceiro em advocacia Harry Rex Vonner (o histriônico Oliver Platt) e com a inteligência aguçada da jovem estudante Ellen Roark (Sandra Bullock, mais coadjuvante do que protagonista, embora tenha o nome em primeiro nos créditos).

É certamente uma trama urgida com a eficiência e a competência de quem compreendia esse gênero como ninguém –e provavelmente, ela deve funcionar melhor no livro original –ainda assim, apesar de seus bons momentos, o filme é pedante, dirigido com pieguice. Ficam patentes o descontrole de Schumacher para com emoções que deveriam ser mais contidas e a incapacidade dele em extrair atuações bem calibradas de seu elenco vasto e estelar: Em geral, bons atores, Sandra Bullock e Matthew McConaughey se contentam em ter suas belezas evidenciadas e seus egos massageados; quem salva a pátria, no fim das contas, é o sempre ótimo Samuel L. Jackson –grande ator, sua carreira merecia muito mais do que a única indicação ao Oscar (Melhor Coadjuvante por “Pulp Fiction”) que até hoje ele recebeu.

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