Em 2013, o diretor Zack Snyder dava o estopim inicialmente ao que seria o DCU, o Universo Cinematográfico da DC Comics nos cinemas com “Homem de Aço”, agora, em 2013, esse mal-fadado universo chega ao fim com este “Aquaman 2”, de James Wan, o segundo filme a trazer o herói interpretado por Jason Momoa como protagonista, depois do sucesso do primeiro filme em 2018. Entre esses dois extremos absolutos de tempo –a promessa e a ambição de 2013 e esse final relativamente amargo de 2023 –houve a tentativa de criação de um universo que resultou problemático, afligido pelas interferência dos Estúdios da Warner no processo de criação que levou à obras equivocadas como “Batman Vs Superman”, “Esquadrão Suicida” e “Flash”, longe, muito longe do sucesso de público e crítica obtido pelos filmes realizados no mesmo período pela Marvel Studios.
A sensação, portanto, não é de uma espécie de
despedida, mas, sim a de possibilidades que não conseguiram ser atingidas. Com esse
fantasma a lhe assombrar, o filme de James Wan dá continuidade à trama do filme
de 2018 sem a menor predisposição para ousar: Diferente de alguns dos
exemplares mais audaciosos que, em algum momento, esse universo produziu (sobretudo,
os dirigidos pelo próprio Zack Snyder), “O Reino Perdido” se afasta de qualquer
esboço de uma narrativa sombria (e olha que estamos falando de um diretor,
James Wan, tarimbado no gênero de terror!), e trilha o caminho fácil,
previsível e confortável de uma diversão para toda a família. Se as esperanças
artisticamente honoráveis de se criar um universo compartilhado estão todas perdidas,
então, ao menos, faça-se um produto vibrante, agradável e acessível, que
consiga satisfazer a maior fatia possível do público, assim devem ter pensado
seus realizadores.
“O Reino Perdido” começa, assim, com Arthur
Curry, o Aquaman (Jason Momoa, numa vibe
caricata que ombreia as patetices de Chris Hemsworth em “Thor-Amor e Trovão”...)
em uma posição onde é agora pai, marido, herói e rei –todos títulos obtidos no
filme anterior, onde salvou a Terra, sagrou-se rei de Atlântida e casou-se (e
teve um filho) com Mera (Amber Heard, com tempo de cena visivelmente reduzido
devido ao escândalo envolvendo seu processo contra o ex-marido Johnny Depp nos
tribunais). Todavia, oriundo também do primeiro filme, o vilão Arraia Negra (Yahya
Abdul-Mateen II), desejoso de vingança contra Aquaman, adquire o misterioso
tridente negro que pertenceu a um monarca de um reino renegado e ancestral dos
mares, o chamado Reino Perdido. Tal tridente traz um poder tão grande quanto
corruptível: Restaura o funcionamento de maquinários bélicos implacáveis e dá
ao seu usuário força de sobra para colocar seus inimigos de joelhos, mas ele
leva também o espírito diabólico do antigo rei de Necrus, cujo único objetivo é
queimar uma substância de nome Oricalco, capaz de destruir, em poucos dias,
todo o eco-sistema do planeta Terra.
Para o Arraia Negra, cuja sede de vingança pelo
que Aquaman fez (ele deixou que seu pai morresse) o torna capaz de qualquer
coisa, sacrificar a segurança do planeta acaba sendo um preço que ele se dispõe
a pagar em troca dos meios adequados para ter sua revanche. Com esse problema
nas mãos –e ciente de que, sendo mestiço de humano e atlante, sua
responsabilidade é proteger ambos os mundos de onde veio –Arthur deve
reencontrar seu irmão Orm (Patrick Wilson, sensacional), prisioneiro desde o
filme anterior, quando conspirou uma invasão contra o povo da superfície.
O que o diretor James Wan engendra, a partir
daí, é um filme frenético, e acometido de ocasionais piadinhas, acompanhando a
relação conflituosa, mas no fim, afetuosa, entre esses dois irmãos, Arthur e
Orm, onde eles se unem para encontrar a trilha que os levará aos segredos que
ajudarão a sobrepujar o mal. Pela trajetória cheia de perigos que não ameaçam
ninguém (pois, sabemos, até pela leveza da narrativa que tudo ficará bem no
final), pelos cenários sempre exóticos e selvagens que surgem no caminho dos
protagonistas, e pela receita oscilante de ação, humor e suspense de
montanha-russa que entrega, o filme lembra muito “Cidade Perdida”, com Sandra
Bullock e Chaning Tatum (que, por sua vez, já lembrava o oitentista “Tudo Por
Uma Esmeralda”) mesclado à excentricidade visual (e ao exagero digital, por que não) de “Valerian e A Cidade dos Mil Planetas”.
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