terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Aquaman 2 - O Reino Perdido


 Em 2013, o diretor Zack Snyder dava o estopim inicialmente ao que seria o DCU, o Universo Cinematográfico da DC Comics nos cinemas com “Homem de Aço”, agora, em 2013, esse mal-fadado universo chega ao fim com este “Aquaman 2”, de James Wan, o segundo filme a trazer o herói interpretado por Jason Momoa como protagonista, depois do sucesso do primeiro filme em 2018. Entre esses dois extremos absolutos de tempo –a promessa e a ambição de 2013 e esse final relativamente amargo de 2023 –houve a tentativa de criação de um universo que resultou problemático, afligido pelas interferência dos Estúdios da Warner no processo de criação que levou à obras equivocadas como “Batman Vs Superman”, “Esquadrão Suicida” e “Flash”, longe, muito longe do sucesso de público e crítica obtido pelos filmes realizados no mesmo período pela Marvel Studios.

A sensação, portanto, não é de uma espécie de despedida, mas, sim a de possibilidades que não conseguiram ser atingidas. Com esse fantasma a lhe assombrar, o filme de James Wan dá continuidade à trama do filme de 2018 sem a menor predisposição para ousar: Diferente de alguns dos exemplares mais audaciosos que, em algum momento, esse universo produziu (sobretudo, os dirigidos pelo próprio Zack Snyder), “O Reino Perdido” se afasta de qualquer esboço de uma narrativa sombria (e olha que estamos falando de um diretor, James Wan, tarimbado no gênero de terror!), e trilha o caminho fácil, previsível e confortável de uma diversão para toda a família. Se as esperanças artisticamente honoráveis de se criar um universo compartilhado estão todas perdidas, então, ao menos, faça-se um produto vibrante, agradável e acessível, que consiga satisfazer a maior fatia possível do público, assim devem ter pensado seus realizadores.

“O Reino Perdido” começa, assim, com Arthur Curry, o Aquaman (Jason Momoa, numa vibe caricata que ombreia as patetices de Chris Hemsworth em “Thor-Amor e Trovão”...) em uma posição onde é agora pai, marido, herói e rei –todos títulos obtidos no filme anterior, onde salvou a Terra, sagrou-se rei de Atlântida e casou-se (e teve um filho) com Mera (Amber Heard, com tempo de cena visivelmente reduzido devido ao escândalo envolvendo seu processo contra o ex-marido Johnny Depp nos tribunais). Todavia, oriundo também do primeiro filme, o vilão Arraia Negra (Yahya Abdul-Mateen II), desejoso de vingança contra Aquaman, adquire o misterioso tridente negro que pertenceu a um monarca de um reino renegado e ancestral dos mares, o chamado Reino Perdido. Tal tridente traz um poder tão grande quanto corruptível: Restaura o funcionamento de maquinários bélicos implacáveis e dá ao seu usuário força de sobra para colocar seus inimigos de joelhos, mas ele leva também o espírito diabólico do antigo rei de Necrus, cujo único objetivo é queimar uma substância de nome Oricalco, capaz de destruir, em poucos dias, todo o eco-sistema do planeta Terra.

Para o Arraia Negra, cuja sede de vingança pelo que Aquaman fez (ele deixou que seu pai morresse) o torna capaz de qualquer coisa, sacrificar a segurança do planeta acaba sendo um preço que ele se dispõe a pagar em troca dos meios adequados para ter sua revanche. Com esse problema nas mãos –e ciente de que, sendo mestiço de humano e atlante, sua responsabilidade é proteger ambos os mundos de onde veio –Arthur deve reencontrar seu irmão Orm (Patrick Wilson, sensacional), prisioneiro desde o filme anterior, quando conspirou uma invasão contra o povo da superfície.

O que o diretor James Wan engendra, a partir daí, é um filme frenético, e acometido de ocasionais piadinhas, acompanhando a relação conflituosa, mas no fim, afetuosa, entre esses dois irmãos, Arthur e Orm, onde eles se unem para encontrar a trilha que os levará aos segredos que ajudarão a sobrepujar o mal. Pela trajetória cheia de perigos que não ameaçam ninguém (pois, sabemos, até pela leveza da narrativa que tudo ficará bem no final), pelos cenários sempre exóticos e selvagens que surgem no caminho dos protagonistas, e pela receita oscilante de ação, humor e suspense de montanha-russa que entrega, o filme lembra muito “Cidade Perdida”, com Sandra Bullock e Chaning Tatum (que, por sua vez, já lembrava o oitentista “Tudo Por Uma Esmeralda”) mesclado à excentricidade visual (e ao exagero digital, por que não) de “Valerian e A Cidade dos Mil Planetas”.

É um bom entretenimento –e o elenco, pleno de carisma, ajuda muito nesse quesito –mas, é absolutamente esquecível. Para um filme que acaba sendo o último suspiro de um universo que almejava ir tão longe, “O Reino Perdido” se revela melindroso em suas opções deliberadamente formulaicas.

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