Falar sobre filmes de superheróis, hoje, é evocar todo um contexto no qual estão inseridos como o universo provavelmente compartilhado que eles habitam do lado de lá das telas, e também, a situação, periclitante ou não, que a produção vivencia do lado de cá. Em “Flash” há muito o que se falar nos dois casos, e nenhum é uma história muito curta: Primeiramente, temos o herói velocista vivido por Ezra Miller (de quem este é o primeiro filme solo), finalmente alçado ao status de protagonista numa trama em que almeja usar de sua supervelocidade para voltar no tempo e impedir o assassinato da sua mãe (a maravilhosa Maribel Verdú, de “E Sua Mãe Também”), crime do qual seu inocente pai (Ron Livingston, de “Band Of Brothers” e “Como Enlouquecer Seu Chefe”, substituindo Billy Crudup dos outros filmes) é acusado.
No entanto, como bem sabem todos os
expectadores de “De Volta Para O Futuro”, mexer com o tempo acarreta pesadas
repercussões no presente, e é aí que o filme dirigido com notável habilidade
por Andy Muschetti começa a se complicar um pouco: “Flash” faz parte do
Universo DC nos cinemas, perpetrado por Zack Snyder em seus três primeiros
filmes: Esboçado em “Homem de Aço”, ampliado com algum desleixo em “Batman Vs Superman” e bastante comprometido com as turbulências ocasionadas na produção
de “Liga da Justiça” –a Liga da Justiça, inclusive, da qual o Flash faz parte,
comparece, na bombástica cena de abertura –logo, viajar no tempo, no contexto
da sua narrativa, significa revisitar eventos ocorridos nos filmes anteriores,
neste caso específico, a chegada do General Zod (Michael Shannon) à Terra,
episódio que proporcionou a revelação do Superman (Henry Cavill, que aqui nem
aparece) ao mundo, como visto em “Homem de Aço”. Mas, a intervenção de Flash,
ou melhor, Barry Allen, no continuum
espaço-tempo provocou uma espécie de efeito-borboleta: A maioria dos membros da
Liga da Justiça não parece existir nesse mundo, incluindo Superman, assim,
aliado a uma versão sua daquela realidade (o ator Ezra Miller faz um incrível
trabalho desempenhando com credibilidade duas versões distintas do mesmo
personagem), Barry vai à Mansão Wayne tentar encontrar o Batman e, quem ele
encontra, ao invés do personagem vivido por Ben Affleck, é o Bruce Wayne
interpretado por Michael Keaton, o Batman de 1989, do filme que praticamente
deu o estopim para as tentativas de adaptações de histórias em quadrinhos dos
últimos trinta e quatro anos!
Ao tentarem juntos descobrir o paradeiro do
Superman, os dois Flashs e o veterano Batman descobrem que, nesta nova
realidade, quem terminou vindo para a Terra foi sua prima, Kara Jor-El (Sasha
Calle, pouco aproveitada) que se encontra, por sua vez, presa na União
Soviética como objeto de estudo daqueles militares.
Não há dúvidas de que, para os fãs mais crescidos
e nostálgicos, a visão de Michael Keaton retomando seu papel de Batman é um
deleite e tanto –ainda mais quando este ótimo ator vale-se de cada instante de
filme para roubar completamente a cena e provar que guardadas algumas
proporções e distinções, ele é, sim, um dos melhores intérpretes de Batman. No
entanto, há um grave problema enfrentado por “Flash”, o filme, e que se reflete
na pífia bilheteria que esta superprodução amargou: A despeito de um ou outro
momento genuinamente divertido (e de ser, no cômputo geral, um bom filme)
“Flash” não passa a sensação de euforia e entusiasmo que se esperaria de um
trabalho com essa proposta –a Marvel Studios, valendo-se de mote muito
semelhante em “Homem-Aranha Sem Volta Para Casa” levou plateias à vibrarem nas
salas de cinema.
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