sábado, 13 de setembro de 2025

Corra Que A Polícia Vem Aí!


 Numa época em que já era improvável realizar uma comédia besteirol e abilolada por si só, o diretor Akiva Schaffer (membro do grupo de comediantes The Lonely Island) também resgatou uma cinessérie que parecia extinta –a aloprada saga cômica-policial do Detetive Frank Drebin que, no fim dos anos 1980 e início dos 1990, representou o supra-sumo da comédia norte-americana produzida no período. Feita nos mesmos moldes insanos de “Apertem Os Cintos, O Piloto Sumiu!” uma década antes, e estrelada pelo impagável Leslie Nilsen (cujo entendimento da comédia o levava a ser o personagem mais sério em cena e, paradoxalmente, o mais hilariante), essa produção foi compreendida na íntegra pelos novos realizadores na hora de ganhar uma nova roupagem. Eles escalaram, para o papel do novo protagonista, filho do personagem anterior, Frank Drebin Jr, o incontornavelmente sério Liam Neeson (que, com sua carranca, se torna uma improvável fonte constante de graça do início ao fim) e pontuaram o incomum roteiro (pois qualquer enredo que traga algum humor hoje em dia É incomum) com piadas relacionadas aos novos tempos, aos expedientes condicionados que o gênero sempre ostentou, e imbuídas das bobagens usuais de sempre.

O resultado é um filme bobo, destemido, notável e ocasionalmente surpreendente.

Membro da polícia de Los Angeles, Frank Drebin jr. (Neeson), é alguém que tem algo a provar –seu pai havia sido, no passado, uma lenda na força policial. Contudo, para aqueles conhecedores das circunstâncias dos filmes originais, Jr. puxou o pai em tudo e por tudo: Ao redor de Frank, tudo se convertia em caos por conta do talento sobrehumano que ele tinha para deixar confusões acontecerem sem cessar. E Jr. é exatamente assim; crê piamente estar fazendo seu trabalho investigativo com a maior seriedade possível, mas só está equilibrando uma trapalhada atrás da outra.

Um intrigante caso de assassinato cai em suas mãos quando um funcionário de uma empresa milionária fabricante de carros elétricos surge vítima aparentemente de suicídio. A irmã do falecido, Miss Beth Davenport (Pamela Anderson, em estado de graça após a indicação ao Globo de Ouro por “The Last Showgirl”), no entanto, sabe que o irmão não se matou –ele foi, sim, assassinado. E os objetivos disso escondem uma conspiração que, por enquanto, permanece um mistério.

É Fran Jr., mais por destrambelhamento do que por instinto policial de fato, quem irá percorrer a trilha das pistas até o magnata Richard Cane (Danny Huston, num papel que começa a lhe parecer quase inevitável) e ao plano maquiavélico, digno de um vilão de James Bond, que ele engendra.

No decurso dessa investigação e de todos os reflexos involuntários que o filme executa dentro do gênero que almeja parodiar (os filmes policiais norte-americanos e, aqui e ali, os filmes noir dos anos 1950), as piadinhas (sejam as infames ou as genuinamente engraçadas) vão se acumulando, como aquela recorrente, na qual os policiais nunca ficam sem um copo cheio de café para beber, o gracejo em torno do fato de Liam Neeson partir ao meio todo o celular no qual está falando (uma brincadeira com sua persona truculenta de herói de ação), ou a absurda cena do início, na qual o enorme Liam Neeson frustra um sequestro se disfarçando de inocente garotinha (!). Neeson, por sinal, esbanja uma química formidável com sua parceira de cena, Pamela Anderson, e há um empenho nítido e louvável da parte do elenco, da direção e do roteiro em fazer o humor do filme funcionar –e embora os momentos cômicos encontrem um ou outro empecilho devido à pouco habituada plateia de hoje, esse esforço persiste até o final.

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