Tal como “Vício Inerente”, este novo projeto do diretor Paul Thomas Anderson é baseado num livro de Thomas Pynchon, o romance “Vineland”. Se a obra anterior era voltada para uma narrativa de mistério e de idas e vindas ao sabor de muitos delírios psicodélicos, aqui reflete-se sobre a paranóia e as consequências morais de se dedicar integralmente (e cegamente) a uma causa.
A distopia na qual Anderson ambienta seu filme
coloca um grupo organizado de resistência, intitulado French 75, em busca de
uma revolução em plenos EUA mais xenófobos do que nunca –uma clara alusão à
América de Trump ainda que o olhar de Anderson não se furte de mostrar também os
revolucionários como partidários de uma causa que facilmente resvala para o
terrorismo. Não interesse, deveras, ao diretor dizer quem está certo ou errado;
interessa, sim, contemplar os personagens desiguais e intrigantes que desse
caldo emergiram.
Entre eles, está Ghetto Pat (Leonardo Dicaprio,
excelente), um especialista em explosivos e traquitanas tecnológicas que adere
à causa por razões um tanto prosaicas, e por razões prosaicas haverá também de
abandoná-la, mais a frente. Ele se envolve com a belíssima Perfidia Beverly
Hills (Teyana Taylor, vibrante), uma revolucionária afro-descendente selvagem e
indomada. Em algum ponto, entre as noites de atentados planejados e os
discursos inflamados, Perfidia engravida –e não tarda a ressentir-se do papel
convencional de mãe que a situação lhe impôs.
No entanto, Perfidia, numa manobra carregada de
ambiguidade do filme, envolveu-se também com o militar Steven J. Lockjaw (Sean
Penn, também excelente, como aliás estão excelentes todos os integrantes deste
elenco), um violento inimigo do outro lado do conflito –e, por isso mesmo, um
amante de possibilidades ainda mais excitantes e transgressoras para Perfidia.
Tanto Ghetto Pat quanto Lockjaw correm,
portanto, o risco de serem pais da filha de Perfidia. Ghetto Pat a cria com
amor, e não pestaneja em deixar a French 75 tão logo as circunstâncias se
tornem ameaçadoras para sua família. Contudo, algo ainda pior acontece: Durante
uma operação, Perfidia é capturada e, favorecida pelo amante Lockjaw por baixo
dos panos, acaba delatando boa parte de seus companheiros, obrigando Ghetto Pat
à fugir com sua filha, e assumir uma outra identidade.
Dezesseis anos depois, Ghetto Pat agora com o
nome de Bob Fergunson cria a filha adolescente Willa (Chase Infiniti,
fantástica) na cidade de Baktan Cross, uma cidade santuário que flexibiliza as
leis de imigração nas proximidades da fronteira com o México. Tudo segue com
tranquilidade até que Lockjaw, agora sob a patente de coronel, obtêm a sonhada
chance de ingressar num restrito clube de supremacistas brancos, os
Aventureiros Natalinos. No entanto, as regras do clube são severas e
segregacionistas –não são toleradas interações com pessoas de outra raça.
A fim de conquistar a chance de ser um dos
Aventureiros Natalinos, o Coronel Lockjaw precisa varrer para debaixo do tapete
todos os indícios do caso que teve com Perfídia no passado (ela que, por sinal,
fugiu do programa de proteção à testemunha e nunca mais foi vista), o que
inclui a possibilidade dele ser pai de Willa.
Sob esses pretextos um tanto torpes –e justificados
oficialmente por outros mais torpes ainda! –o Coronel move um destacamento de
soldados de elite para Baktan Cross, a fim de matar Bob Fergunson e capturar
Willa tão logo obtêm a informação do paradeiro deles e da identidade que
assumiram.

Nenhum comentário:
Postar um comentário