Em seus três primeiros filmes, Paul Thomas
Anderson criou distorções perturbadoras de um mesmo tema: Um grupo de
marginais, ora em atrito, ora em paralelo com o difícil fato de existir no
contexto em que estão inseridos.
Se em seu primeiro trabalho, “Hard Eight”, seus
personagens eram a fauna de caóticos habitantes de um cassino, e em seu
terceiro, “Magnólia”, eles eram seres peculiares arremessados num pesadelo
urbano da vida real, em seu segundo trabalho –aquele no qual a indústria e a
crítica especializada começou a reparar nele –o exuberante “Boogie
Nights-Prazer Sem Limites”, esses personagens eram personificações de bizarros
seres humanos que vivem no universo do cinema pornô.
Apesar do grande número de personagens
(característica em muitos dos filmes de Anderson), o centro do filme é o jovem
aspirante a ator, Eddie Adams que, ao adotar o pseudônimo artístico de Dirk
Diggler (Mark Whalberg, numa das primeiras chances em sua carreira de
demonstrar talento real) mostra-se inicialmente deslumbrado com o fato de se
tornar um astro pornô: Ele é apadrinhado pelo diretor Jack Horner (vivido com
euforia renovada e genuína pelo veterano Burt Reynolds) que graças ao seu pênis
descomunal (!) o coloca como astros em uma profusão de produções feitas por sua
equipe que, ao lado do elenco regular de beldades (que inclui Julianne Moore e
Heather Graham) e outras pessoas formavam todos uma espécie de família.
Aos poucos, Diggler se deixa levar pelos
excessos daquele período, inclusive pelas drogas, numa clara referência ao ator
John Holmes, ícone do gênero falecido na década de 1980, vítima da AIDS.
“Boogie Nights” é então um mosaico colorido e
disforme, riquíssimo em dramaturgia e observação, um retrato meio cômico meio
dramático da indústria pornô dos anos 1970 (trecho mais radiante e animado do
flme) e início dos anos 1980 (sua parte mais sombria) quando a transição para
as novas mídias de então (o Betamax e o VHS) trouxe a decadência aos astros
daquele gênero.
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