De um modo geral, “Han Solo” foi vítima de uma
escolha ingrata em sua data de lançamento (logo após o fenômeno
“Vingadores-Guerra Infinita” e com poucos dias de diferença do igualmente
fenomenal “Deadpool 2”!) e de uma campanha de marketing bastante relapsa em
relação aos bons trabalhos feitos com títulos anteriores da mesma saga; some-se
a isso um excesso de expectativa (normal em qualquer obra oriunda dessa
franquia) e eis que ele arcou com o ingrato título de Produção Mais Fraca Desde
A Retomada de Star Wars Pela Disney.
De longe, o mais problemático de seus projetos,
“Han Solo” passou por uma tumultuada troca de diretores (sai os escolhidos
iniciais, Phil Lord e Chris Miller, da animação “Uma Aventura Lego”, e entra no
lugar o veterano Ron Howard), uma sucessão de refilmagens e várias incertezas
com relação ao seu astro, Alden Ehrenreich que herdou a complicada tarefa de
substituir o quase insubstituível Harrison Ford no papel do contrabandista Han
Solo ainda jovem, no início de uma jornada (finalmente contada neste filme) que
terminaria o colocando ao lado de Luke Skywalker e Léia Organa contra as forças
do Império Galáctico.
Desconsiderando todos esses aspectos e focando
unicamente no filme do qual esse esforço resultou, é possível afirmar sem
equívocos que “Han Solo” é uma obra completamente injustiçada.
Divertido, impulsionado por um ritmo que jamais
se acomoda e satisfatórios na maioria de seus aspectos, ele acompanha com
notável desembaraço a trajetória de seu protagonista Han (Ehrenreich, que não
compromete o resultado e encabeça o filme com serenidade) inicialmente um jovem
suburbano num planeta nos confins do universo que sonha partir para as estrelas
ao lado da amada Qi’ra (a deliciosa Emilia Clarke). Um contratempo de última
hora os separa e Han (que ganha a alcunha 'Solo' de um oficial de imigração) vai parar em outro planeta onde submete-se a um insano
treinamento para oficial do Império Galáctico e acaba encontrando aquele que
virá a ser seu grande amigo e aliado, Chewbacca (incorporado por Joonas Suotamo
e não pelo veterano Peter Mayhew como nos filmes clássicos).
A partir desse encontro e de uma descoberta
quase acidental de uma parceria certeira para escapar das enrascadas, Han Solo
e Chewie unem-se ao duvidoso time de assaltantes espaciais de Beckett (Woody
Harrelson) que embora lhes sirva de mentor, deixa bem claro não ser nada
confiável.
As referências aos antigos faroestes
vislumbradas por George Lucas nos filmes originais aparecem na cena de roubo de
uma espécie de trem espacial, onde uma série de atropelas acontecem e os
personagens acabam levados à presença do grande vilão do filme personificado
por Paul Bettany (o Visão de “Guerra Infinita”), e inesperadamente à um
reencontro entre Han e Qi’ra.
Ao longo desse percurso e a partir dele, o
roteiro escrito por Lawrence Kasdan molda o que é quase uma trama de origem
enquanto vai preenchendo lacunas a respeito de inúmeros elementos que integram
as peculiaridades do personagem Han Solo; sendo o mais ostensivo deles, a
aparição do ótimo Donald Glover no papel bem administrado de Lando Calrissian
(marcante o suficiente para não passar despercebido, equilibrado o bastante
para não se destacar mais que os protagonistas) e a introdução da icônica nave
Millenium Falcon e as razões devidamente esboçadas para fazer com que Han Solo
passasse a pilotá-la.
Comparar “Han Solo” com o derivado anterior da
saga –o assombroso e brilhante “Rogue One” –é injusto por inúmeras razões (e
sob qualquer prisma isso acaba desfavorável à “Han Solo”), mas ainda assim é um
filme que entrega diversão, escapismo e efeitos visuais magníficos do início ao
fim; a proposta, afinal, que sempre tornou todos os filmes “Star Wars” tão
sedutores ao público.
E uma de suas últimas cenas reserva ainda a
aparição de um dos mais festejados (e sub-aproveitados) vilões que a franquia já
teve –se essa cena representa somente um ‘fan-service’ vazio ou terá
futuramente repercussões é difícil dizer.
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