O diretor (e também ator) Dexter Fletcher foi chamado para
substituir Bryan Singer, afastado durante as gravações, para terminar as
filmagens de “Bohemian Rhapsody”, cinebiografia de Fred Mercury e do “Queen”, o
quê explica a imensa similaridade de tom, abordagem e proposta entre esses dois
projetos.
Desta vez com direção 100% de Dexter Fletcher,
“Rocketman” usa de maneirismos muito parecidos para contar por sua vez a
história de Elton John, outra icônica figura do pop rock dos anos 1970 e 80
que, como muitos desses astros, teve seus imensuráveis altos e baixos que,
neste caso, passaram pela dependência química, pelo alcoolismo e pela aceitação
da própria homossexualidade.
A direção de Fletcher permite que o diferencial
entre seus dois filmes seja mesma seu personagem principal: É a verve algo
romantizada de Elton John que define a natureza da narrativa que passeia por
impressões bem menos realistas, salta gigantescos blocos de tempo, abrevia
percepções em números musicais desvairados e surreais, e intercala trechos
distintos com um estilo que ameaça se sobrepor ao conteúdo.
Essa opção de linguagem já surge na primeira
cena: Elton entrando, espalhafatoso, numa reunião de alcoólicos anônimos. Ali,
nessa reunião –a partir da qual os flashbacks haverão de se estender ao longo
de todo o filme –ele vai gradual e literalmente se despindo da persona
extravagante com a qual encobriu suas inseguranças diante do mundo e revela,
afinal, quem é: Nascido Reginald Dwight, morando numa residência classe média da
Inglaterra, o protagonista cresceu num lar destituído de amor, esmagado entre a
mãe egoísta e insatisfeita (Bryce Dallas Howard) e o pai insensível e
desgostoso (Steven Mackintosh). Restando somente o carinho da avó (Gemma Jones,
de “Razão e Sensibilidade”) para se refugiar, Reggie –como era chamado –se
dedica a um talento que revelou desde cedo: O piano.
Com a juventude, veio a descoberta do rock’n
roll, os sonhos de ascender na música e as apresentações em pubs (e a partir
daí, já podemos vê-lo na emocionante interpretação de Taron Egerton, vencedor
do Globo de Ouro), onde ele descobriu que precisaria se reinventar para
alcançar o sucesso, assumindo a alcunha de Elton John –sendo Elton o nome de um
baixista com quem trabalhou, e John, uma homenagem a John Lennon.
Ao procurar emprego numa gravadora, ele é
apresentado à Bernie Taupin (Jamie Bell), que se torna seu melhor amigo, e com
quem passará a compor músicas pelo resto de sua bem-sucedida carreira: Os dois
logo vão para Los Angeles, nos EUA, onde as apresentações de Elton o
transformam num milionário e no mais novo astro da música.
Contudo, sua solidão e carência afetiva são
proporcionais ao seu sucesso e, na falta de, digamos, amor de verdade –que ele
pensou equivocadamente ter encontrado em John Reid (Richard Madden) seu ambicioso
agente –Elton se afunda em bebidas e drogas.
Assim como no filme sobre
Fred Mercury, este também se foca, com invitabilidade, nos vícios de uma
estrela fulgurante e talentosa, e também é batizado com o título de uma das
mais famosas canções de seu biografado, mas, estranhamente, “Rocketman”, a
música, não ocupa uma importância muito grande na trama (se excluirmos o
emprego de trechos aleatórios ao longo da primeira metade), e muitas músicas
famosas de Elton John, sobretudo, da década de 1980 (ao menos para mim), não
aparecem, preteridas por outras nem tão conhecidas assim –e, se houver uma
sensação de déjà-vu ao final, quando tocar “I’m Still Standing”, não é por
acaso: O mesmo Taron Egerton dublou essa canção na animação “Sing-Quem Canta Seus Males Espanta”.
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