Já dizia Alfred Hitchcock: “Depois de uma
obra-prima, faça um filminho encantador.”
Seguindo essa orientação existencial, o diretor
David Fincher, após abalar os alicerces do cinema hollywoodiano com “Clube da Luta” engatou uma marcha mais comercial e moderada e trouxe este “O Quarto do
Pânico”, despido das mesmas intenções revolucionárias de sua obra cult e mais
definido por orientações convencionais –o que não significa que, nas mãos de um
grande artesão como Fincher, isso não tenha rendido um ótimo filme.
Divorciada do marido rico, a nova-iorquina Meg
Altman (Jodie Foster, instigando a plateia com a união da atriz de “O Silêncio dos Inocentes” e o diretor de “Seven-Os Sete Crimes Capitais”) não tem outra
coisa a fazer senão usufruir da gorda pensão que recebeu junto da filha
adolescente Sarah (Kristen Stewart, antes do estrelato por “Crepúsculo”).
Alugam assim, um belo apartamento com três
andares nas redondezas do Central Park –e prodigioso em sua direção de arte
como só no cinema algumas moradias são capazes de ser!
O imóvel tem uma peculiaridade: Vem com um
cômodo especial denominado ‘quarto do pânico’, um luxo proporcionado por
ricaços paranóicos que constroem uma divisão em seus quartos, blindada de aço,
repleta de monitores que registram o movimento em todos os cômodos da casa e,
em caso de invasão, uma pequena fortaleza inexpugnável.
Na primeira noite na casa nova, Meg e Sarah vão
precisar desse recurso: Tendo a residência invadida por três indivíduos
aparentemente desesperados –o relativamente sensato Burnham (o fabuloso Forest
Whitaker), o errático e instável Júnior (Jared Leto, antes do Oscar por “Clube de Compras Dallas” e do Coringa de “Esquadrão Suicida”) e o potencialmente
perigoso Raoul (o cantor-country Dwight Yoakam) –as duas se refugiam no ‘quarto
do pânico’ a fim de proteger-se. O problema: Os três estão à procura de uma
fortuna deixada lá pelo morador anterior, e tal fortuna está escondida
justamente dentro do ‘quarto do pânico’!
Com essa premissa extremamente básica e sucinta
(a cargo do roteirista David Koepp, um especialista em premissa básicas e
sucintas), o diretor Fincher dá o seu melhor (o que jamais foi pouco!) na
condução narrativa: Ele constrói tomadas de câmeras formidáveis que exploram
ângulos e movimentações dos mais improváveis ao longo de toda a geografia do
apartamento (a rigor, o único cenário do filme), e impõe ritmos e atmosferas
palpitantes conforme as circunstâncias de mãe e filha confinadas no quarto vão
se acirrando –as horas passam enquanto as protagonistas se defrontam com
situações que visam escapar da armadilha em que estão, enquanto os antagonistas
lançam mão de novas maneiras de ludibriá-las.
Passa longe de ser um
argumento original e Fincher sabe disso: Para contrabalancear a previsibilidade
escapista do roteiro, ele enxuga todo e qualquer tempo morto no frenesi de seu
pequeno conto de acuamento urbano e valoriza a ambiguidade no personagem de
Whitaker; um ladrão de bom coração, preocupado com a segurança de suas
potenciais vítimas, mas disposto a ir até o fim para livrar-se de suas insatisfações proletárias.
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