quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Tudo Por Um Bebê

Comédias sobre gravidez existem aos borbotões entre as fileiras mais obscuras do cinema comercial –como o hoje bastante esquecido “Nove Meses”, de Chris Columbus, com Hugh Grant e Julianne Moore –e pareciam ter encontrado seu exemplar maiúsculo com o fenomenal “Ligeiramente Grávidos”, de Judd Apatow.
No entanto, existem sempre aqueles realizadores que teimam em cismar no mais batido dos temas achando que sua mera presença nele justifica mais uma produção com a mesma mescla desajeitada e pouco ajambrada de comédia e drama, e que o público haverá de, por alguma razão, conferir o resultado.
“Tudo Por Um Bebê” mal se justifica pela presença de Olivia Munn (de “Magic Mike”) –certamente a melhor coisa do filme –e, em vez disso, parece ter uma capacidade involuntária de ressaltar todos os motivos que o fazem medíocre; a começar por seu algo sofrível ator principal, Paul Schneider (de “A Garota Ideal”, “Brilho de Uma Paixão”, “Tudo Acontece Em Elizabethtown” e “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford”), que se acha hilário em cena, mas mal consegue ser simpático...
Ele é Tommy, casado com Audrey, a personagem de Olivia; e a partir daí, já se presume a premissa de longe: Apaixonados, o jovem casal quer ter um filho e, depois de meses de tentativas normais, chegam à conclusão que não podem; Tommy tem baixa contagem de espermatozóides –e a explicação para isso é de uma idiotice que só podia mesmo partir de uma comédia rasteira como esta!
Contudo, antes de arcar com esse revéz médico, Tommy era fértil: Prova disso é que ele contribuiu, por um bom tempo, para um banco de doadores de esperma (!), o que lhe permitiu juntar um bom dinheiro.
Numa manobra bastante improvável, Tommy vai a esse banco de esperma requisitar o uso do próprio esperma (!) para agora engravidar a esposa, entretanto, o material em questão já está encaminhado para um casal gay (!) que deseja ter um filho –e não querem abrir mão do esperma dele pois selecionaram com cuidado as características genéticas do doador.
Na esteira de improbabilidades que o filme equilibra uma sobre a outra sem muita noção de onde isso tudo irá levar, Tommy e seus amigos Wade (Kevin Heffernan) e Zig Zag (Nat Faxon, de “As Panteras”) decidem assaltar o banco de esperma (!) e para tanto contratam os serviço do assim declarado especialista Ron Jon (o próprio diretor do filme, Jay Chandrasekhar), um indiano sem-noção (a exemplo de todos os personagens da trama) que parece mais disposto a promover confusões do que a resolvê-las.
Diretor de vasto currículo televisivo, e com muitos títulos notadamente voltados para a comédia –o que denota uma percepção pouco cinematográfica no tratamento do gênero –Jay Chandrasekhar fez, em cinema, pouco mais que a adaptação tresloucada e aventuresca de “Os Gatões-Uma Nova Balada” (cujo maior mérito é reunir características anacrônicas de uma ‘sessão da tarde’) e o terror assumido e inescapavelmente trash “Pânico Na Ilha”, suas muitas limitações como realizador ficam visíveis em “Tudo Por Um Bebê” que vai num crescendo de absurdos crente de que esse non-sense corresponde à bom humor, levando seus personagens por situações que flertam com o ridículo e o intolerável.

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