quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Magic Mike XXL


 Apesar de não contar com os personagens Dallas (de Matthew McConaughey) e Kid (de Alex Petiffer), a grande ausência que determina o resultado da continuação de “Magic Mike” é a do diretor Steve Sodenbergh. Felizmente, quem ocupa o lugar dele é o produtor Gregory Jacobs que escapa astuciosamente da armadilha de tentar emular Sodenbergh e concebe a este filme um brilho e uma personalidade próprios.

Cerca de três anos depois de ter abandonado os palcos, o ex-stripper Mike (Channing Tatum, de volta num dos personagens mais marcantes de sua carreira) segue realizando suas aspirações profissionais afrente de uma empresa de móveis personalizados.

De repente, ele recebe um telefonema de seus antigos colegas: Os também strippers Ritchie (Joe Manganiello), Ken (Matthew Bomer), Tito (Adam Rodriguez) e Tarzan (Kevin Nash) o chamam para um reencontro.

Ao contrário de Mike, eles continuaram como strippers, e agora, largados ao léu por Dallas –que partiu para o estrangeiro levando Kid à tiracolo –querem fazer uma última apresentação numa convenção em Macau, antes de receberem dinheiro o suficiente para todos partirem em busca de seus próprios sonhos.

Assaltado de uma súbita nostalgia, Mike decide acompanhá-los, numa forma de celebrar a última oportunidade em que esses grandes amigos estarão todos juntos.

Como diretor, Jacobs troca a observação inquisitiva e analítica da vida moderna executada por Sodenbergh por uma visão mais desprendida, onde predomina o alto-astral, e as emoções mais universais a acompanhar o reencontro dos amigos –o primeiro reflexo bastante positivo é que o filme acaba dando espaço muito maior para os coadjuvantes e suas vulnerabilidades.

Se no primeiro “Magic Mike” todo o staff de strippers servia mais para uma caracterização esmerada do universo das casas noturnas, bem ao gosto a um só tempo niilista e meticuloso de Sodenbergh, aqui, os anseios e emoções desses personagens entram em foco, proporcionando a eles a humanidade que não tiveram a chance de expor: Ritchie é fanfarrão, carismático e, na leveza que compartilha com todos, um amigo crucial à união do grupo (e possivelmente o melhor personagem do filme); Ken tem seus próprios anseios e objetivos, mas antes de tudo precisa superar um ligeiro ressentimento pelo abandono de Mike; Tito é hábil cozinheiro e planeja obter dinheiro com essa derradeira apresentação para se lançar no ramo; e Tarzan –ou Ernest –encobre com imponência e seriedade sua vontade casar e constituir família.

Essa mudança de enfoque, do cinismo para a ternura, revela facetas novas de todos os personagens e, sobretudo, de suas dinâmicas: No trajeto de Miami até Macau, confissões afloram, lembranças animadas são colocadas em pauta e todos saboreiam a sensação agridoce de estarem juntos uma última vez, o que transforma “Magic Mike XXL” num autêntico road-movie.

E como tal, o trajeto de seus protagonistas até seu destino final é registrado nas minúcias de seu humor e de seu drama: O trailer que os leva sofre uma acidente, obrigando-os a apelar para os favores de uma conhecida (Jada Pinkett Smith num papel originalmente feito para ser masculino), e na sequência, encontrar breve refúgio na mansão de uma ricaça carente (ponta de Andie MacDowell); não sem antes Mike e seu pessoal pararem numa loja de conveniência e, num desafio oferecido ao divertido Ritchie –arrancar um sorriso de uma soturna atendente –produzirem a melhor cena do filme.

Quase um musical na evocação irrestrita que promove da descontração inerente aos seus personagens, “Magic Mike XXL” é uma continuação que troca sem pudores o drama circunspecto por uma atmosfera leve, irrequieta e contagiante. E faz disso seu grande mérito.

Nenhum comentário:

Postar um comentário