Lançado bem no início da década de 1990, quando o diretor Joel Schumacher ainda se achava hábil o bastante para acrescentar elementos supostamente experimentais numa obra comercial –como luzes difusas, ângulos de câmera diferenciados e modismos do período que nada mais eram do que isso, modismos –este “Linha Mortal” trazia o requinte de ser produzido por Michael Douglas que, antes de alcançar o estrelato como ator, chegou a conquistar o Oscar de Melhor Filme como produtor em “Um Estranho No Ninho”. Isso jogava expectativas elevadas num filme que nunca chegava a ser uma obra-prima, mas conseguia sempre manter-se interessante.
Na trama, um grupo de alunos, residentes de
medicina –entre os quais, os ainda jovens Kevin Bacon, Julia Roberts (antes do
sucesso de “Um Linda Mulher”), Oliver Platt e William Baldwin –embarcam no
arriscado plano de um colega vivido por Kiefer Sutherland: Instalados de
madrugada, num porão das dependências do campus, eles irão parar o coração de
um deles com um desfibrilador (o primeiro voluntário, é óbvio, será o
personagem de Sutherland), e após um curto intervalo, ressuscitá-lo valendo-se
dos recursos médicos.
O que eles testemunham nesse intervalo
pós-morte é registrado através de depoimentos. A cada tentativa, o período com
o coração parado –mostrado no monitor cardíaco com uma linha reta ininterrupta,
o chamado “Flatlinners” do título original –é maior e cada vez mais
perigosamente próximo dos cinco minutos (quando a morte pode se tornar
cerebral), e por conta disso, cada vez mais difícil de trazer a ‘cobaia’ de
volta à vida.
Contudo, eles não voltam sozinhos: Passada a
empolgação dos primeiros testes relativamente bem sucedidos –afinal, trouxeram
todos de volta sem maiores contratempos ou efeitos colaterais –eles passam a
serem procurados pelo que parecem ser fantasmas, aparições que muito se parecem
com lembranças que eles guardam da infância. São, na verdade, os pecados em
vida que eles expiarão após a morte, mas que, pela circunstância da
experiência, os estão castigando ainda vivos.
Percebe-se aqui e, sobretudo, em projetos que
ele entregou nas décadas seguintes, que Joel Schumacher é bom em perfumaria:
Seus filmes têm ritmo, visual relativamente elaborado e, não raro, são cercados
de uma premissa sempre instigante e promissora, entretanto, Shcumacher não sabe
enfatizar os predicados sublimes dessa premissa se eles já não vierem
completamente organizados no roteiro. Sua direção é empenhada no aspecto
técnico e rudimentar no aspecto instintivo e artístico –os atores particularmente
se incumbe de tipos caracterizados mais do que de personagens necessariamente
humanos; temos o protagonista ambíguo de Kiefer Sutherland, a mocinha
padronizada de Julia Roberts, o personagem íntegro, estóico e sólido (e, como
tal, enamorado da mocinha) vivido por Kevin Bacon, o conquistador barato (e
bota barato nisso!) de William Baldwin, além do coadjuvante para fazer volume
de Oliver Platt –um papel que, na verdade, ele interpretou em quase toda sua
carreira.
Diante dessas simplificações conceituais, que
reduzem a curiosa e reflexiva observação do roteiro dos percalços possíveis do
pós-morte a um conto de terror cada vez mais convencional e previsível, o filme
de Schumacher deixa de ser aquilo que poderia –e que é sugerido em sua
envolvente e promissora hora inicial –para tornar-se, ao fim, um passatempo
característico.
A comprovação de uma certa qualidade lhe surgiu
com tempo: Em 2017, ele recebeu uma refilmagem, intitulada aqui no Brasil de
“Além da Morte”, onde as ideias presentes em sua trama eram ainda mais
pasteurizadas e banalizadas.
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