O trabalho criterioso e singular do diretor Thomas Bezucha (especialista, pasmem, em comédias!) vale-se em grande medida da concepção hoje saturada que o expectador médio tem do cinema norte-americano comercial de modo geral. Afinal, temos dois protagonista prontamente reconhecíveis (Kevin Costner e Diane Lane interpretaram, juntos, os pais do Superman em “Homem de Aço”), e esse reconhecimento é usado por Bezucha para ludibriar o público.
Com eles em cena –a despeito da excelência
interpretativa que aqui ambos conseguem obter, sobretudo, Diane –tem-se a
impressão de que a produção seguirá por caminhos convencionais, como tantos
outros filmes que eles mesmos protagonizaram.
É quando o filme de Bezucha começa a subverter
brilhantemente as pressuposições do público: “Deixe-o Partir” trabalha com
tempos mortos, silenciosos, onde nada em princípio parece acontecer, são
momentos de calmaria na superfície onde se sugere profundidades insondáveis nas
quais, aí sim, se escondem as verdadeiras aflições;
George e Margaret Blackledge (Costner e Diane)
perderam seu filho. A nora, junto do neto deles, casou-se com outro homem e foi
morar em outra cidade, desligando-se da relação que tinha com eles.
Guiados por uma necessidade sentimental e
irreprimível de rever o neto e, em última instância, perseguir um vínculo com o
filho falecido, o casal empreende uma busca pelas cidades interioranas da
América em busca do paradeiro da nora que, indicam as pistas, casou-se com um
homem violento que oferece potencial perigo para ela e para a criança.
A narrativa de Bezucha não tem a menor pressa
em entregar respostas instantâneas e satisfazer com imediatismo qualquer ansiedade
plantada no expectador: A direção transforma a angústia de seus protagonistas
na angústia do próprio público ao frustrar as expectativas da resolução de seu
suspense, desacelerando o ritmo nos momentos em que mais queríamos que ele se
acelerasse.
E, nesse sentido, tudo se intensifica ainda
mais: Quando por fim descobrem o que houve com sua ex-nora, Lorna (Kayli
Carter), George e Margaret a encontram, e ao seu neto, vivendo com a família do
novo marido, os Weboy, um clã de interioranos violentos, sórdidos e
potencialmente psicóticos –a matriarca da família (vivida primorosamente por
Leslie Manville, de “Trama Fantasma”) é particularmente insidiosa, grosseira,
ameaçadora e abusiva.
Se a premissa não sugere uma originalidade
maior da parte desta obra do diretor Bezucha, é porque muitas das informações
que a tornam desigual são mais bem aproveitadas quando não se sabe nada sobre
elas –personagens coadjuvantes posicionados estrategicamente; fortes atmosferas
levantadas com parcimônia –configurando esta interessante mescla de drama (o
elenco, para tanto, é formidavelmente habilidoso), road movie (proporcionando sua notável transição do idílico ao
visceral), faroeste moderno (o personagem de Costner, à propósito, é um
ex-xerife) e filme de terror ao estilo “O Massacre da Serra Elétrica”.
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